A chegada do 5G ao Brasil vai demandar novos investimentos por parte dos laboratórios que realizam os testes necessários para a homologação de dispositivos pela Anatel. A presença de novas antenas, o uso de mais frequências e a adoção de novos padrões de tecnologia devem aumentar a quantidade de testes necessários e, consequentemente, o tempo para realizá-los. Quanto mais sofisticado um dispositivo, maior a quantidade de testes pelos quais precisa passar para receber a certificação da agência reguladora. Atualmente, um smartphone requer mais de 200 testes.
“Antigamente, no 2G, levavam-se dois ou três dias para se testar tudo. Agora são 10 dias trabalhando em três turnos no laboratório. Claro que de lá para cá automatizamos muita coisa e ganhamos eficiência, assim como houve evolução dos equipamentos dos laboratórios. Se os testes de hoje fossem feitos como antigamente levaria mais de um mês”, relata José Eduardo Bertuzzo, vice-presidente de telecomunicações da Associação Brasileira de Avaliação da Conformidade (Abrac), em conversa com Mobile Time.
No caso específico do 5G, a utilização de frequências acima de 20 GHz, chamadas de ondas milimétricas, exige que os ensaios sejam feitos de forma irradiada, em vez de conduzida, o que requer uma câmara anecoica, ambiente que contém reflexões de ondas sonoras e eletromagnéticas.
“Em ondas milimétricas o comprimento de onda é de milímetros: qualquer fiozinho é um circuito ativo. Por isso, os ensaios precisam ser feitos em câmaras anecoicas, tudo de forma irradiada”, explica Bertuzzo.
O primeiro laboratório brasileiro a se adaptar para testes em 5G é o Instituto Eldorado, mas outros devem surgir, pois a demanda será grande, prevê o executivo.
O papel de OCDs e laboratórios
Hoje existem cerca de 20 OCDs no Brasil autorizados pela Anatel. Cada fabricante, antes de lançar um novo dispositivo de comunicação sem fio, precisa submetê-lo a um OCD. Este será responsável por analisar os parâmetros do produto e decidir quais testes deverão ser realizados para averiguar se está dentro dos padrões definidos pela agência reguladora. Em seguida o produto é encaminhado para um ou mais laboratórios onde os ensaios são realizados. Poucos laboratórios conseguem dar conta de todos os testes necessários, por isso é comum ser utilizado mais de um por produto.
Geralmente o fabricante realiza pré-testes por conta própria antes de submeter seus produtos para certificação. Mesmo assim, falhas podem acontecer. Quando um dispositivo não passa em determinado teste, é feita uma contraprova em um laboratório diferente. Se o OCD entender que o produto não atende à padronização, o fabricante precisa enviar novas amostras para que os testes sejam refeitos, o que atrasa um pouco mais o processo.
Os OCDs são responsáveis por analisar os resultados técnicos dos testes e redigir um relatório para a Anatel, que, por sua vez, emite o certificado que autoriza a venda do produto no Brasil.
Todos os testes devem ser feitos no País, a não ser quando não houver um laboratório nacional capacitado para tal.
Em média, entre 80 e 100 celulares são certificados por ano no Brasil, estima Bertuzzo.
“A certificação é importante para inovarmos no futuro. Mercados são protegidos pelo seu grau de aderência às normas. Se não tivermos competência em análise de certificação, não temos como inovar”, resume.