Na mesma semana em que o Banco Central do Brasil e o Ministério das Comunicações iniciaram conversas para definir uma regulamentação que viabilize a oferta de serviços financeiros móveis, o Fórum Econômico Mundial publicou um estudo conclamando os governos de países emergentes a migrar para o celular seus pagamentos de benefícios sociais. A mudança ajudaria a reduzir os problemas de fraudes nesses programas, retirando a necessidade de intermediários e do uso de papel, além de baratear os custos administrativos e de transações desses programas sociais. O estudo calcula que as nações em desenvolvimento poderiam economizar até US$ 46 bilhões anuais em 2015 se aderirem à ideia. Se computados também os benefícios econômicos para a população (segurança, facilidade de transferências financeiras etc), o saldo positivo poderia alcançar US$ 100 bilhões por ano em 2015.
Entretanto, a adoção do celular como meio de pagamento entre governo e cidadão (G2P, na sigla em inglês) constituiria uma segunda etapa no desenvolvimento de serviços financeiros móveis. Antes disso, é necessário passar por uma primeira fase, na qual o papel do governo consiste em proporcionar um ambiente regulatório favorável para tais serviços e que trate de maneira equilibrada os setores financeiro e de telecomunicações, propiciando o surgimento de iniciativas privadas. De acordo com o estudo, o papel de liderança dos governos é fundamental para evitar que interesses divergentes no setor privado atrasem o desenvolvimento de serviços financeiros móveis. "Deixar a cargo de forças do mercado não apenas atrasa, mas também cria falhas e riscos que podem provocar retrocessos no desenvolvimento de serviços financeiros móveis", diz o documento. É justamente nessa primeira fase que o governo brasileiro se encontra.
A fase seguinte consiste na entrada do governo como um usuário de tais serviços, especialmente para o desembolso de benefícios sociais via celular. Eles podem ser tanto auxílios diretos de renda (caso do Bolsa Família e do seguro-desemprego), quanto cupons que valham subsídio na compra de itens específicos, como fertilizantes e comida. Calcula-se que os países emergentes gastem cerca de US$ 1 trilhão por ano com tais benefícios, com perspectiva de alcançar US$ 1,25 trilhão em 2015. Desse total, entre 5% e 25%, dependendo do caso, é desviado por fraude ou falhas no sistema, estima o estudo, que foi realizado pelo Boston Consulting Group (BCG).