A Vivendi voltou a trocar farpas com o Fundo Elliot na guerra interna de acionistas da Telecom Italia. Em comunicado nesta sexta-feira, 15, o grupo francês “denuncia o comportamento” dos membros do conselho da italiana nomeados pelo fundo, após votação na reunião na quinta-feira, que rejeitou relatório emitido pelo conselho de auditores estatutários da companhia. O documento dizia haver “sérias irregularidades” na governança corporativa da controladora da TIM Brasil. Segundo a Vivendi, o conselho de auditores é formado por membros independentes.
A francesa diz que a resposta ao relatório dada pelo conselho de administração da Telecom Italia, à propósito da assembleia geral marcada para o dia 29 próximo, “deixa de mencionar vários atos de sérios desvios de conduta cometidos pelo chairman [Fulvio Conti] e o diretor independente líder, que não informou a todos os diretores independentes da mesma maneira e que claramente selecionou suas interações”. A Vivendi insiste que mesmo empresas de consultoria terceiras teriam reconhecido esse “desvio de conduta” dos membros nomeados pelo Elliot e pelo chairman.
Diante dessas acusações, a Vivendi pede aos auditores estatutários e ao órgão regulador de mercado italiano, a Consob (Comissione Nazionale per le Società e la Borsa), que investiguem os pontos levantados no relatório. Afirma ainda que há “questões sem resposta”, como o por que de Conti supostamente ter organizado uma reunião preparatória apenas com conselheiros ligados ao Elliot para a demissão do ex-CEO Amos Genish. Aliás, a francesa coloca dúvidas sobre o critério usado para selecionar a consultoria jurídica para tomar a decisão de afastamento do executivo, uma vez que essa consultoria teria no histórico representação do próprio Elliot e um processo contra a Telecom Italia.
A companhia quer saber também por que pelo menos uma reunião preparatória com a presença apenas de membros nomeados pelo fundo teria sido realizada antes de 18 de novembro do ano passado. Assim, ela pergunta se o chairman Fulvio Conti entrou em contato com os representantes do fundo antes das reuniões oficiais, além de querer saber o que teria sido discutido em uma outra reunião entre ele e acionistas minoritários no dia 12 de novembro. “O chairman considerou se afastar da diretoria em decorrência dos reportes de sérias brechas em suas funções que apareceram no relatório do conselho de auditores estatutários?”, indaga a acionista.
A Vivendi diz que a decisão de quinta-feira do conselho da Telecom Italia de se autopoliciar “reforça” o entendimento de que os acionistas da italiana devem instalar um conselho “realmente independente” e neutro. Na visão da companhia, isso recuperaria as condições de governança e permitiriam a tutela da empresa em benefício a todos os acionistas, funcionários e outros stakeholders. “Apenas dois dos membros do conselho apontados pela Vivendi não seriam independentes, e nenhum deles iria disputar a posição de chairman”, alega.
Defesa
Na reunião do conselho da Telecom Italia na quinta-feira, os conselheiros resolveram intervir para “reassegurar as informações de contexto corretas, aprovando o documento anexo de observações por maioria”. Nele, a companhia ressalta que o conselho “não é a expressão de apenas por um acionista”, e diz que não concorda com as críticas dos auditores, citando “incongruências” no relatório.
Especificamente em relação à demissão de Genish, o conselho da Telecom Italia diz que não se tratou de um “golpe” da maioria do conselho ou de reuniões secretas, mas de uma “progressiva falta de fé nas capacidades do Sr. Amos Genish de endereçar as condições de mercado efetivamente, como demonstrado pelo fato do plano estratégico que ele seguia não ter dado os resultados esperados”. Alega ainda que o afastamento foi motivado pelo desejo de remediar a “situação crescentemente crítica” da companhia de acordo com interesses da empresa e dos acionistas. Também afirma que não houve reuniões escondidas, e que todas as informações foram devidamente comunicadas aos acionistas.
Com isso, na opinião do conselho da TI, todas as decisões tomadas foram feitas de forma coletiva, apenas para o interesse da companhia e “sem que qualquer situação de conflito de interesses tenha sido identificada”. Diz também que as ações do chairman Conti foram feitas de acordo com suas funções, e que “não há razões para duvidar de sua independência”, reafirmando a “completa confiança” em seu trabalho.