Um aplicativo criado em Recife está em testes para ajudar equipes multidisciplinares de profissionais de saúde como fonoaudiólogo, terapeuta e psicólogo a otimizarem seu tempo durante as sessões de pacientes com autismo. Trata-se do bHave, desenvolvido pelo empresário Cauê Nascimento. O app é dedicado aos terapeutas que trabalham com o sistema de Análise do Comportamento Aplicada (ABA – Applied Behavior Analysis), uma abordagem baseada em evidências científicas e considerada como a mais efetiva para intervir em casos de Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Através desse sistema, o profissional de saúde observa comportamento, cria gráficos, realiza análise visual dos resultados da intervenção e atua com mudanças no ambiente do paciente para produzir mudanças significativas. No entanto, sem o app todo esse processo fica mais lento, pois os especialistas precisam dedicar parte do tempo com o preenchimento de planilhas. Nascimento notou o problema ao observar o trabalho de sua esposa, uma terapeuta de crianças com autismo.
“Eu vi a dificuldade dela para fazer funções básicas. Eles imprimem folha de registro com atividades que são feitas diariamente, como uma prova. Após os testes, precisam passar a limpo e redigitalizar, só para criar o gráfico. Dentro de uma semana, 60% é burocrático e 40% é o tratamento em si”, explicou o desenvolvedor. “Vi minha esposa passando noites em claro preenchendo o material. Por exemplo, tem uma instituição que é nossa beta tester, a Afeto, que funciona só de segunda a quinta, devido a esse preenchimento”, contou. “Tem uma outra instituição, de Belém, que entrou em contato com a gente porque estão no limite. Não conseguem atender mais pacientes pelo tramite burocrático. Eles têm um profissional dedicado para preencher essa papelada e cinco pessoas na fila esperando para entrar e começar o tratamento. Ou seja, com o app eles poderiam tirar esse profissional da parte burocrática e colocá-lo para ajudar no tratamento”, completa.
Uso do app na terapia
Criado há oito meses, o aplicativo é uma ferramenta de trabalho e terá versão web, como uma rede social para os profissionais da equipe compartilharem os avanços entre si. Mas seu destaque é o mobile: com um smartphone ou tablet o especialista poderá preencher os registros da atividade, ver os gráficos e acompanhar a evolução do paciente em tempo real.
“O benefício principal seria esse: digitalizar os gráficos e ter acesso às informações em tempo real. Mas ainda prevalece a qualidade da equipe e a visão do supervisor, que chefia e coordena as equipes em suas tarefas”, enfatiza a terapeuta Daniela Canovas.
Canovas explica que ainda há ajustes para fazer na ferramenta, como intercalar o app com outras plataformas. Mas afirma que no futuro os dados coletados no tratamento – se forem aprovados pelo terapeuta e pela família – poderão ajudar em pesquisas sobre autismo.
Apoio em crowdfunding
Com o aplicativo em fase de testes, Nascimento busca financiamento coletivo no site Kickante para angariar fundos com intuito de concluir o desenvolvimento bHave e lançá-lo comercialmente. Durante os oito meses de criação, ele bancou do próprio bolso o aplicativo.
“Com o o que for obtido por meio do Kickante teremos seis programadores durante seis meses”, disse Nascimento. “Estamos com uma dívida enorme, pois estamos colocando dinheiro dno nosso próprio bolso. Gastamos com imprensa, equipe de filmagem, marketing, material da editora. Se conseguirmos o dinheiro (R$ 185 mil) 17,5% vai para o Kickante e outros 17% para o Simples”.
O desenvolvedor explica que o aplicativo terá uma versão gratuita e outra paga. Ele ainda não definiu o modelo de negócios, mas imagina que seria gratuito para até quatro casos, e cobraria para planos com cinco ou mais pacientes. Até a noite desta sexta-feira, 15, o projeto obteve R$ 2,3 mil de apoio e tem mais 47 dias até o término do prazo para arrecadar os R$ 185 mil de meta.