No Brasil, o mercado de locação de veículos está em pleno processo de consolidação, com grandes players controlando uma fatia cada vez maior do setor. Neste cenário, locadoras de pequeno porte procuram caminhos para sobreviver. Um deles pode estar na startup Wali, que desenvolveu uma plataforma de compartilhamento de carros (car sharing, em inglês) para a qual procura atrair justamente veículos de locadoras pequenas.
“As grandes locadoras estão engolindo as pequenas. Localiza, Unidas e Movida compram 10% dos carros vendidos no Brasil e conseguem 30% de desconto nas montadoras. As locadoras pequenas ficam asfixiadas. E na pandemia piorou porque os juros subiram. As pequenas precisam de novas receitas e novas ferramentas. Nós oferecemos distribuição e tecnologia para elas”, explica Guilherme Rajzman, fundador e CEO do Wali, em conversa com Mobile Time.
As pequenas locadoras cedem alguns de seus carros para o Wali disponibilizar para compartilhamento junto ao consumidor final através de seu app (Android, iOS). Enquanto normalmente as locadoras pequenas alugam seus veículos por dia, no Wali, graças à tecnologia embarcada nos carros, a cobrança é feita por hora. “Com a gente, a locadora pequena reduz em até a metade seu gasto mensal por veículo e fatura a mesma coisa ou até 30% a mais”, afirma o executivo.
Como funciona
Os carros do Wali são disponibilizados ao público em estações dentro de shoppings e condomínios. Eles são adesivados, para serem reconhecidos mais facilmente. Pelo app, o consumidor final se cadastra, informando dados pessoais e de pagamento por cartão de crédito, e consegue visualizar a localização das estações e os veículos disponíveis. Basta selecionar qual deseja e se deslocar até ele. Pelo próprio app o usuário consegue abrir as portas do carro.
Antes de sair com o automóvel, o usuário é solicitado a fazer uma vistoria geral, informando através do envio de uma foto no app caso haja algum arranhão ou se o veículo estiver sujo. A chave fica guardada no porta-luvas, junto com um cartão para a compra de combustível em postos parceiros.
Todos os veículos são equipados com um módulo de IoT desenvolvido pelo Wali que se comunica via 4G com a plataforma. Esse módulo permite bloquear ou desbloquear o carro à distância, assim como monitorar sua utilização.
O usuário paga por hora e por quilômetro percorrido. O aluguel de um Renault Kwid, por exemplo, custa R$ 9,90 por hora mais R$ 0,95 por quilômetro rodado. O motorista deve devolver o carro na mesma estação com pelo menos 1/4 de tanque de combustível.
O Wali fica com uma comissão pelos veículos alugados. O repasse para as locadoras é feito automaticamente pelo sistema de billing. Os locais das estações também recebem uma comissão a partir de uma certa quantidade de carros.
“O Wali faz a ponte entre o veículo, o estacionamento e o cliente final. É como faz o iFood ao unir restaurante, entregador e consumidor final”, compara Rajzman.
Além disso, a startup fornece às locadoras o acesso a um painel online no qual conseguem monitorar a atividade dos seus veículos.
Números e expansão
O Wali começou a operar no Rio de Janeiro em janeiro de 2021. De lá para cá acumula 2,1 mil reservas e 400 usuários. “A retenção é boa. E já recebemos feedbacks de clientes dizendo que vão deixar de comprar carro ou que vão vender seu carro para usar só o Wali”, relata.
Hoje o Wali opera com 20 carros distribuídos por 15 estações na Barra da Tijuca, Jacarepaguá e em bairros da Zona Sul carioca. A frota pertence a três pequenas locadoras parceiras, sendo que uma delas tem como dono um dos sócios-fundadores do Wali, que ajudou a comprovar o sucesso do modelo de negócios.
A startup planeja iniciar a operação em Florianópolis em setembro. A meta é chegar ao final de 2022 com 10 mil reservas acumuladas e uma frota de 60 carros no Rio de Janeiro e 20 em Florianópolis. O Wali entrará em São Paulo na segunda metade do ano que vem.
Paralelamente, a startup pretende se transformar em uma plataforma multimodal e promete adicionar em suas estações outros tipos de veículos, como motos, scooters, bicicletas elétricas e até patinetes, revela o executivo.