A rede 3G da Nextel deve ser lançada somente no fim do ano. A demora, contudo, não tem impedido a operadora de conseguir uma significativa penetração de serviços de valor adicionado entre seus clientes corporativos, que conseguem acessar soluções de automação de equipes de campo, ERP e BI na tela de seus aparelhos de rádio. Em entrevista para Mobile Time, o gerente de produtos e serviços corporativos da Nextel, Jeferson Baggio, relata a sua visão sobre o estágio de maturidade do mercado brasileiro de aplicações móveis corporativas e explica a estratégia da empresa nesse segmento.

Mobile Teletime – As grandes empresas brasileiras já acordaram para os benefícios do uso de soluções móveis corporativas?

Jeferson Baggio – Sim, as grandes, especialmente, já reconhecem a mobilidade como um diferencial competitivo. Temos clientes em segmentos com concorrência mais fechada, mercados de dois ou três players, que não nos permitem divulgar seus cases, justamente por reconhecer seus ganhos de produtividade e economia. O que precisa ser rompido é o trade-off entre desenvolvimento interno ou outsourcing. Nas grandes empresas com TI estruturado existe ainda essa vontade de desenvolver em casa, por entender que sairia mais barato, o que não é verdade. E talvez nem fique tão bom, porque a equipe interna não é especializada em mobilidade e vai depender de requisitos que nem sempre o usuário sabe falar. Empresas especializadas já sabem como resolver o problema e podem trazer sugestões e inovações, como uma consultoria.

Por que não sai mais barato fazer em casa?

No seu TI você tem que readaptar tudo, realocar uma equipe, às vezes mudar a prioridade de outra demanda. A cada nova solicitação você depende de um novo requisito. Com um parceiro é diferente: ele está se reinventando a todo o instante porque este é o seu core business.

Que setores da economia estão mais adiantados na adoção de soluções móveis no Brasil? E quais ainda precisam despertar?

O setor de logística está bastante avançado. Isso decorre de uma necessidade de rastreamento de frota, por causa do valor financeiro da carga etc. Eles têm desde soluções de rastreamento até gerenciamento de equipes de campo. É um segmento onde a Nextel atua bastante. E quem ainda não explorou todo o seu potencial, até por uma questão de maturidade do mercado brasileiro, é a área de pagamento móvel. Temos grandes empresas com automação de força de vendas móvel cujo pagamento é desmembrado, fora da aplicação. Ou seja, temos vendedores nas ruas tirando pedidos e vendo estoques através de dispositivos móveis, integrados com o ERP, mas na hora do pagamento a nota fiscal chega por email ou por boleto. Esse é um setor que, na minha opinião, precisa de uma faísca, talvez governamental ou dos próprios bancos, para que vire.

O que seria essa faísca para o mobile payment deslanchar?

Acho que falta a definição de qual tecnologia será explorada. Como isso será a nova galinha dos ovos de ouro, há muitas iniciativas isoladas, cada uma tentando proteger o seu mercado, o que dá uma engessada.

Falta diálogo entre bancos e operadoras?

Bancos, operadoras e os próprios gateways de pagamento, como Cielo e Redecard… Falta esse bate-papo entre eles.

A Nextel tem ou pretende fazer testes com NFC?

Sim. Sempre olhamos para inovação, não apenas NFC mas qualquer outra tecnologia de pagamento, mas preservando o nosso olhar corporativo, de atendimento a pessoas jurídicas, empresas. De repente um POS ligado ao terminal da Nextel…

Tem alguma iniciativa da Nextel nessa área de m-payment que possa ser descrita?

Ainda estamos em fase de estudo e definição.

Podemos esperar algum teste-piloto da Nextel este ano com NFC?

Não para este ano. Temos apenas conversado com todo o ecossistema de pagamento.

Nem NFC nem nenhuma outra experiência com m-payment este ano?

Para 2012 não.

Dentre os serviços de valor adicionado que a Nextel oferece para os seus clientes corporativos, quais são os mais populares?

O nosso localizador de equipes em campo é um serviço que a Nextel tem há alguns anos. Foi totalmente reformulado no ano passado e continua sendo o nosso carro-chefe. Dar para as empresas a visibilidade de onde estão suas equipes continua sendo um ativo muito forte. Do ponto de vista tecnológico é uma solução simples, mas tem valor enorme e é universal para qualquer tipo de indústria, por isso vende tanto.

A localização é feita por triangulação de antenas?

Triangulação, GPS e cell ID. Privilegiamos o GPS sempre que possível.

Quantas pessoas estão sendo monitoradas por essa solução?

90% das equipes móveis dos nossos clientes corporativos são monitoradas. Ficam de fora somente os cargos e alta gestão.

Quanto custa esse serviço?

O valor é uma taxa fixa mensal por usuário: R$ 25. É menos de R$ 1 por dia. Incluso nesse valor está o envio de SMS ilimitado para a equipe em campo. O "Localizador" acaba sendo uma ferramenta de entrada para outras soluções, como a de automação de equipes de campo. Todas as soluções que lançamos desde 2011 trazem o "Localizador" como uma feature opcional. É o caso do "PDV online" e do "Venda online".

Esses aplicativos foram desenvolvidos internamente ou por terceiros?

Foram feitos internamente. Temos uma equipe de desenvolvedores própria, que não faz parte do nosso time de TI – é importante mencionar. É uma equipe focada só em soluções móveis. Parte dela não fica no Brasil. É um time que não depende das nossas demandas, que olha para fora e avalia o que é tendência. E como estão dentro de casa, já sabem que aparelhos vamos lançar etc.

A empresa não tem parcerias com provedores externos com outras soluções como ERP ou BI móvel?

Temos um portfólio de parceiros homologados e já oferecemos algumas dessas soluções. É um diferencial da Nextel. É como se fôssemos um SIMcard provider. O desenvolvedor vai até o cliente e este escolhe a Nextel. E temos um programa de parceiros com quem trabalhamos intimamente. Eles recebem os aparelhos da Nextel antes do lançamento, participam dos nossos roadmaps futuros, de plataforma, de tecnologia, de terminais… Temos todo tipo de integração, desde as mais simples até as mais complexas, ERP, BI etc. A parte de treinamento também, quando necessário, oferecemos. Somos uma consultoria de mobilidade.

Quais são seus principais parceiros homologados?

Trevisan, Prime Systems… E temos olhado para outros parceiros, mas desde que sigam nosso modelo de homologação.

O que um desenvolvedor precisa fazer para se tornar um parceiro homologado da Nextel?

Primeiro a gente precisa conhecer a aplicação dele, fazer uma homologação técnica de funcionamento, ter um compromisso de SLA de suporte, e ter uma estrutura de parceria comercial que atenda a Nextel. Precisa ter a mesma disposição de atendimento a pequenos e a grandes clientes. Tem que ser uma solução que rode muito bem. E que tenha um suporte estruturado, porque sempre surgem dúvidas em tecnologia.

Como anda a adoção de soluções móveis corporativas entre pequenas e médias empresas? Qual a solução mais adotada por elas?

Pequenas e médias empresas invariavelmente começam com o serviço de localização. Eles são mais céticos. O dono faz toda a negociação e todas as escolhas. Tentamos mostrar que podemos transformar o dia dele, deixando-o mais fácil e mais produtivo. Além do localizador, instalam produtos de prateleira, com menos integração, menos complexidade, tudo na nuvem, para não ter problema na hora de operar. E existe a visão de que mobilidade é cara. Quando apresentamos um custo fixo por aparelho, sem surpresa na conta, acabam adotando com mais facilidade.

Qual é a participação das soluções móveis corporativas na receita total da Nextel?

10% das nossas vendas de dados são de soluções de negócios. É um número bastante representativo se considerar que dentro dos outros 90% estão WAP, conteúdo, pacotes de SMS, Internet…

O fato de a Nextel não ter uma rede 3G afeta suas vendas de soluções para o mercado corporativo?

Não. As nossas soluções são desenvolvidas para que a experiência ocorra em background. Para o usuário, a foto ser carregada 1 minuto depois não faz diferença. O que precisa é ter um fluxo constante. Se tiro uma foto e clico em enviar, eu posso passar para outra atividade enquanto o arquivo é remetido em pacotes. A força do rádio dentro das empresas abre muitas portas para nós. O cliente já tem o rádio e, quando consegue acrescentar uma solução de dados no mesmo aparelho, é o mundo ideal. Ele não quer ter dois devices para gerenciar e dar manutenção. Imagine 50 vendedores tendo 100 equipamentos para gerenciar e trocar?

A Nextel oferece serviço de gerenciamento de terminais (MDM)?

Temos isso através dos nossos parceiros. Acredito muito que será uma feature de todas as soluções móveis: conhecer o que há no device da equipe, protegê-lo, recuperar seu conteúdo etc. MDM é uma tendência.

Outra tendência são soluções móveis corporativas em nuvem. O que acha disso?

Nossos serviços "Venda on line", "Equipe on line" e "PDV on line" já são em nuvem, pois não requerem nenhum servidor. Uma aplicação totalmente na nuvem tem como desafio a velocidade das redes móveis atuais. Um aplicativo que você faça toda a interação em uma interface web te deixa muito dependente da velocidade, da constância da rede. Acho que pode não ser muito saudável. Ainda acredito nesse modelo híbrido em que há uma aplicação no device e ela transmite os dados ao final do pedido. Acho mais saudável e mais abrangente. Temos empresas que atuam em docas e em fossos de elevador: para elas, uma solução full cloud computing nunca vai funcionar. Portanto, é preciso avaliar caso a caso.

Que conselho você daria para os desenvolvedores brasileiros?

Quando um desenvolvedor terminar de programar uma aplicação, ele deve olhar para a obra pronta e pensar no que pode tirar dela. Caímos na tentação de fazer aplicativos com muitas funcionalidades para ser mais abrangentes, enquanto a simplicidade continua sendo a palavra-chave.

Quando teremos o 3G da Nextel?

Estamos seguindo o plano à risca para lançamento no último trimestre. E não abrimos mão dessa data. Vários clientes nossos optaram por aparelho 3G, mas têm relacionamento com a Nextel e querem migrar.

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Jeferson Baggio participará do 5º Forum Mobile+, no painel "Aplicações do desktop ao smartphone", que aconcerá no dia 25 de setembro, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo. O evento é produzido pela Converge Comunicações e seus veículos Mobile Time, Teletime e TI Inside. Para maiores informações, acesse o site do evento.

 

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