O Blablacar (Android, iOS), aplicativo de caronas para viagens de carro, está crescendo rapidamente no Brasil. De origem francesa, onde existe desde 2006, ele entrou em operação há menos de seis meses aqui e já acumula mais de 16 mil rotas criadas por brasileiros. Cada rota é uma combinação diferente entre o município de partida e o de chegada, gerada dentro do app pelas pessoas que querem oferecer carona em suas viagens de automóvel. Rio de Janeiro-São Paulo, por exemplo, conta como uma rota, assim como Niterói-Cabo Frio. Para efeito de comparação, na França, onde existe há dez anos, já foram criadas mais de 120 mil rotas.

O potencial de crescimento no Brasil é enorme: há 50 milhões de automóveis nas ruas e 304 cidades com mais de 100 mil habitantes, enquanto na França há 38 milhões de carros e 41 cidades com mais de 100 mil pessoas. Além disso, no Brasil, a relação entre o preço da gasolina e a renda média da população é uma das mais altas do mundo, afirma Ricardo Leite, country manager da Blablacar no Brasil. A crise econômica no País também estimula a experimentação de serviços como o de carona solidária, para a redução de custos.

O Blablacar está presente hoje em 22 países, a maioria da Europa Ocidental. Recentemente, se expandiu para mercados emergentes, como México, Turquia, Brasil, e Leste Europeu. O serviço conta com 25 milhões de usuários cadastrados no mundo, dos quais 10 milhões realizam alguma viagem pelo app por trimestre, em média. O crescimento da base está sendo da ordem de 100% ao ano.

A empresa não revela por enquanto a quantidade de viagens realizadas no Brasil. Mas uma navegação rápida no app demonstra que sua utilização é intensa. Em pesquisa feita nesta segunda-feira, 16, apareceram 44 viagens agendadas para os próximos 30 dias do Rio de Janeiro para São Paulo, sendo três para este mesmo dia, três para terça-feira e quatro para quarta-feira. Há saídas em horários diversos, inclusive de madrugada. Alguns carros, porém, já estão cheios, inclusive com antecedência maior que dez dias. Mesmo rotas menos óbvias também têm muita oferta: quem quiser viajar de carona de Niterói para Cabo Frio encontra nesta segunda-feira 20 opções para os próximos 15 dias.

Como funciona

Quem quer oferecer carona em suas viagens precisa primeiro cadastrar seu carro, informando marca, modelo, cor, nível de conforto, dentre outros detalhes. Depois basta publicar a sua viagem, definindo uma rota (origem, destino e cidades de passagem); data e horário de partida; quantidade de lugares disponíveis para caroneiros; tamanho de bagagem aceito; flexibilidade para desviar do caminho e mudar seu horário de partida; e se aceita animais e fumantes. Também pode-se informar se gosta de conversar durante a viagem ou não. Depois disso, basta esperar as solicitações de passageiros. O motorista pode analisar o perfil de cada um antes de aceitar, ou marcar a opção de aceite automático.

O próprio app sugere um preço por passageiro, de acordo com a distância do trajeto. O motorista pode alterá-lo, mas o app informa com cores se o preço está caro (vermelho), médio (amarelo) ou barato (verde). Há sempre um limite máximo porque a proposta do app é ser sem fins lucrativos para os motoristas. A ideia é dividir os custos da viagem, não fazer dela uma fonte de renda. Na pesquisa feita na rota Rio de Janeiro-São Paulo, foram encontrados preços variando de R$ 38 a R$ 108 por passageiro. 

Do lado de quem quer pegar carona, uma vez informada a rota desejada, o app mostra todas as viagens disponíveis para os próximos dias, com informações detalhadas sobre seus motoristas e carros, inclusive com a avaliação média que receberam de outros passageiros, o preço da carona e quantos lugares ainda estão vagos. Motorista e passageiro podem se comunicar por telefone ou chat interno para tirarem quaisquer dúvidas.

O pagamento é feito em dinheiro, diretamente entre passageiro e motorista, sem intermediação do Blablacar. No futuro, o app cobrará uma taxa do passageiro, que deve girar entre 10% e 15% do preço da carona. E o pagamento será in-app. Por enquanto, a monetização acontece apenas em alguns mercados mais maduros da Europa, como França, Espanha, Alemanha, Itália e Portugal.

Segurança

Uma das maiores barreiras para a utilização de um serviço de caronas como o Blablacar é a preocupação dos usuários com a segurança. Afinal, nem todo mundo tem coragem de pegar carona com um desconhecido. "Temos que difundir esse conceito no Brasil. Se alguém tem alguma desconfiança, é barreira que precisamos quebrar uma única vez", diz Leite.

O app exige alguns dados de identificação de seus usuários, como email, telefone e Facebook. Todas as fotos e trocas de mensagens são moderadas por uma equipe de funcionários no Brasil e na França. Além disso, há a auto-regulação: os usuários avaliam uns aos outros a cada viagem, o que inibe o mau comportamento. As mulheres têm a opção de aceitarem apenas motoristas ou passageiras femininas. E os motoristas podem aceitar ou não manualmente cada pessoa que pede carona, depois de analisar seu perfil. Entretanto, a proporção daqueles que preferem o aceite automático tem crescido mês a mês, afirma Leite. Além disso, 60% dos que realizam uma viagem como motoristas depois experimentam ser passageiros. O slogan da empresa nas lojas de aplicativos procura abordar o tema: "Blablacar: viaje com confiança."

Regulação

O Blablacar foca totalmente em viagens intermunicipais. Mesmo assim, a empresa enxerga com bons olhos a iniciativa da prefeitura de São Paulo de autorizar os serviços de carona solidária na cidade. "Embora não considere que fossem ilegais tais serviços, é bom ter uma lei explicitando que é legal. É importante ter isso escrito para incentivar as pessoas a compartilharem seus carros", comenta Leite.

 

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