As principais operadoras do Brasil se preparam para começar a atuar no âmbito do open gateway, a iniciativa global da GSMA que permite o compartilhamento e a federação de APIs abertas e padronizadas, para acesso interoperável às redes das operadoras. A expectativa é que até o fim de 2023 se inicie o projeto no País, compartilhou Renato Ciuchini, vice-presidente de estratégia e transformação da TIM, no MobiXD, evento promovido por Mobile Time nesta terça-feira, 16, em São Paulo.
Para Ciuchini, esta é a principal frente de inovação das operadoras neste ano, um acontecimento transformador no mercado. “Vai acontecer, porque todo mundo quer fazer. Os modelos técnico, local e comercial estão prontos. Isso aqui é execução, não tem mais discussão. Tecnicamente tem demanda e tem o suporte global desse negócio. Eu acho que temos que fazer se tornar um sucesso para virar um case, para podermos ampliar para outras áreas”, afirmou.
Ele contou que há um alinhamento de interesses entre as operadoras que participam da iniciativa no Brasil, facilitado pela governança global por trás do projeto. Três modelos de negócio estão em discussão. Em um deles, cada uma comercializará a sua rede individualmente, apesar de a parte técnica ser unificada. Outra opção será trabalhar com um agregador, que juntará todos os players. Por último, haverá a possibilidade de federação entre as operadoras, ou seja, as empresas se associam comercialmente também, não só tecnicamente.
“Cada caso vai ser um caso. Inclusive discutimos isso bastante e achamos importante ter os três modelos. Têm empresas, como um grande banco, que vão querer contratar direto. Já uma menor não quer se integrar com três operadoras, ela prefere se integrar com um único agregador, que se integra com todo mundo. Acho que os três modelos vão funcionar bem, de acordo as demandas que vão aparecer DE mercados diferentes”, analisou.
Independentemente do modelo de negócio, a cobrança pelo uso da API será feita de forma individual por cada operadora, assim não será necessária aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), pois não haverá acordo comercial envolvido, apenas uma parceria técnica. “Por mais que o banco queira contratar separado, tecnicamente é a mesma interface. Tem que ser exatamente a mesma API. Isso é muito poderoso. Cada um vai fazer a sua negociação comercial independente”, exemplificou.
A primeira onda da iniciativa no Brasil será com oferecimento de pelo menos três APIs: SIM swap; validação do número (silent mobile verification); e localização geográfica. Elas deverão atender a padrões definidos pelo open gateway: ser bem documentada; não necessitar de suporte, isto é, a empresa terá que operar sozinha; ser economicamente viável; ter um ambiente de teste; apresentar resultados precisos, com previsibilidade e assertividade. “Fizemos alguns testes com algumas instituições financeiras e vimos uma receptividade muito grande”, contou Ciuchini.
“É um bom exemplo de como as operadoras estão trabalhando em conjunto para ter oferta integrada no mercado, que é um dos grandes problemas que sempre enfrentamos. Ajuda o fato de ser um tema que tecnicamente você consegue criar padrões. O cliente não quer muitas vezes contratar três, quatro, cinco vezes pelo mesmo serviço, não é eficiente. Agora conseguimos começar a ter um modelo que pode funcionar”, disse Rodrigo Gruner, diretor de inovação e novos negócios da Vivo.
Essa foi a mesma opinião de Fabio Nahoum, diretor de produtos e proposta de valor da Claro. Para ele, na medida que as operadoras conseguem valorizar esses serviços conjuntamente, o potencial de alcance no mercado acaba sendo muito maior – todos saem ganhando. “Negociar e fazer um desenvolvimento para três operadoras ao mesmo tempo ou fazer para cada uma acaba sendo complicado. Se você quer fazer uma ferramenta antifraude, não te interessa avaliar só os clientes da Claro ou só os clientes da Vivo. Você quer ter acesso aos clientes móveis de uma forma geral. A complementaridade é mandatória”, afirmou.