O acordo de compartilhamento de frequência (RAN Sharing) entre Vivo e Nextel foi aprovado nesta quinta, 16, pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas ainda precisa passar por aprovação da Anatel. Conforme declarou a este noticiário o presidente da Nextel, Francisco Valim, a agência não deverá demorar para liberar a prática, já que o procedimento é padrão e já foi adotado por outras empresas. Mas ele esclarece: a parceria, protocolada no Cade há cerca de 15 dias, visa apenas o compartilhamento das frequências de 1,9 GHz e 2,1 GHz, atualmente usadas com a tecnologia de terceira geração. "Hoje é essencialmente 3G, mas dependendo do futuro, pode ser 4G", diz. Procurada por esta reportagem, a Telefônica preferiu não se manifestar no momento.
Dessa forma, o compartilhamento não inclui a faixa e 1,8 GHz que a Nextel usa para fornecer o serviço LTE no Rio de Janeiro e que recentemente adquiriu no leilão de sobras para atuar com a mesma tecnologia em São Paulo. Como é uma frequência mais baixa, possui cobertura maior do que a de 2,5 GHz que a Vivo utiliza atualmente com o LTE – além da faixa de 700 MHz adquirida no leilão de 2014, mas ainda confinada ao uso apenas na única cidade que a liberou após o switch-off da TV analógica, Rio Verde (GO). O executivo levanta outro ponto: a Vivo tem outras obrigações e já compartilha essa faixa com a Oi e a TIM.
Quando aprovado pela Anatel, o novo contrato de compartilhamento atuará de forma complementar ao acordo de roaming que a Nextel possui com a Vivo desde o começo de 2014. "A área onde temos o RAN Sharing é onde temos interesse comercial maior, e a de roaming é para complementar", afirma.
Por sua vez, a faixa de 1,8 GHz adquirida no leilão de sobras no final do ano passado deverá ser liberada nas próximas semanas. "Já passamos por todas as etapas, já teve circuito deliberativo, mas ficaram muitos lotes. Não é o nosso caso, mas tem uns 900 e poucos e ficamos no meio", diz Valim. Uma vez que a Anatel emita o boleto para o pagamento da outorga, a Nextel terá autorização para lançar o LTE em São Paulo. Para de fato passar a operar, precisará lidar com pelo menos três tipos de cenários: colocação de mais rádio na estação radiobase (ERB), apenas colocar novas placas ou construir a torre inteira.
Estratégia para tempos difíceis
Francisco Valim é entusiasta da política de compartilhamento de infraestrutura mesmo quando a situação econômica era mais favorável, mas especialmente agora em tempo de crise. Ainda no comando da Oi na época, costurou o RAN Sharing original dessa operadora com a TIM em 2012, acordo que ganhou a adesão da Vivo somente no ano passado. "Eu propus o acordo quando a vida (econômica) era fácil", lembra. "Eu continuo achando que o modelo de compartilhamento, com as demografias que o Brasil tem, é mais eficiente sob a ótica do cliente, porque ele tem infraestrutura mais robusta, e sob a ótica do investidor e acionista."
O presidente da Nextel explica que essa eficiência, especialmente em regiões mais afastadas dos centros urbanos, é sentida pelas as próprias teles e usuários. "Como (a infraestrutura de rede de telecomunicações) é feita em modelo estatístico, obviamente o cliente se beneficia porque a chance de acontecer sobrecarga diminui quando se faz isso, e o custo é muito menor quando tem mais de uma operadora usando uma rede", detalha. Acredita ainda que deveria haver mais incentivo à indústria para implantar o compartilhamento de todo tipo de infraestrutura, não apenas de espectro.
Dividir investimentos também ajuda na estratégia financeira da Nextel. Valim ressalta que a companhia gerou no último trimestre um fluxo de caixa operacional positivo após sucessivos resultados negativos, e que aumentou mais a receita em 3G e 4G do que outras operadoras. "Os acionistas continuam a investir na empresa para continuar crescendo e equacionar." Ressalta ainda ter ganhado market share nessas tecnologias no modelo pós-pago em São Paulo e Rio de Janeiro. "Apesar das dificuldades, é óbvio que em um cenário mais favorável poderia ser melhor ainda, mas, mesmo nas condições atuais do cenário macro, continuamos a ter receita."
Apesar de ter avançado na migração – desde março a companhia conta com mais usuários 3G e 4G – , ainda há clientes da Nextel que utilizam rádio com a tecnologia iDEN. O CEO afirma não ser a intenção fazer uma limpeza completa dessa base, ressaltando que há ainda interesse para clientes comerciais. Em março, a base total da operadora brasileira era composta de 4,023 milhões de acessos, dividida em 2,708 milhões de acessos 3G e 4G (67,3%) e 1,315 milhão de iDEN (23,7%).