Um aplicativo criado por um brasileiro está fazendo sucesso entre músicos e produtores musicais ao redor do mundo por conseguir rapidamente separar os instrumentos contidos em uma música. Trata-se do Moises (Android, iOS), que já conta com 3 milhões de usuários cadastrados em menos de um ano de operação – foi lançado em novembro do ano passado. Sua meta é chegar a 10 milhões até dezembro deste ano. Músicos de bandas famosas, como One Direction e Sepultura, e o produtor brasileiro Kassin estão entre os usuários da ferramenta, que utiliza inteligência artificial e machine learning no processamento das faixas. A solução, que também funciona via web, para desktops, foi desenvolvida pelo brasileiro Geraldo Ramos, unindo seu conhecimento como programador e sua paixão por tocar bateria.
“Sou baterista e sempre quis ter acesso a faixas para tocar junto, mas elas são limitadas. Em 2019, a tecnologia de machine learning começou a ganhar um papel relevante na música, e apareceram alguns algoritmos e artigos científicos sobre separação de instrumentos. A Deezer lançou um código aberto para isso, mas voltado para pesquisadores, não para o usuário final. Aquele foi o meu ponto de partida para o Moises”, relata Ramos, em conversa com Mobile Time.
Como funciona
Pelo app, qualquer pessoa pode subir uma música, a partir da memória do seu dispositivo ou de algum link externo. O Moises, então, processa aquela faixa e procede com a separação dos instrumentos.
O usuário pode escolher entre três opções: 1) separar a voz do resto; 2) separar em quatro canais (voz, bateria, baixo e resto); 3) separar em cinco canais (voz, bateria, baixo, piano e resto). Para cada uma dessas opções foi construído um algoritmo específico, alimentado por um banco de dados com mais 10 mil músicas multitrack e que estão constantemente evoluindo, com o uso de machine learning.
Em um processo de engenharia reversa, em questão de poucos minutos (dependendo da extensão da música), o Moises disponibiliza o arquivo com as trilhas separadas por instrumento. O usuário então pode reproduzi-la e mixar, em tempo real, o volume de cada canal, podendo, portanto, silenciar os instrumentos que quiser. Um estudante de bateria, por exemplo, pode remover a bateria das músicas da sua banda preferida e tocar junto ouvindo os outros instrumentos. Um cantor, ao contrário, pode preferir remover a voz da gravação. O produtor Kassin usou o Moises para extrair a voz da cantora Beth Carvalho de uma antiga gravação e aplicá-la em uma faixa do disco novo de sua filha, Luana Carvalho, por exemplo.
Moises oferece ainda vários outros recursos, como mudança de tom da música (pitch); acompanhamento com metrônomo; e indicação dos acordes que compõem a harmonia da música, enquanto esta é executada.
Atualmente 70% dos acessos ao Moises acontecem pelo celular e 30%, pelo computador.
Modelo de negócios
O Moises adota o modelo de negócios freemium. A versão gratuita é limitada a cinco músicas de até cinco minutos cada. Há também restrições em outros recursos: o metrônomo funciona por apenas um minuto e o pitch alcança até dois semitons para cima ou para baixo. Na versão premium, que custa R$ 16,90 por mês, não há limite de músicas, nem de utilização dos demais recursos. A única restrição é na duração de cada faixa, que precisa ter no máximo 20 minutos.
O Moises conta hoje com 50 mil assinantes da sua versão premium e já opera com fluxo de caixa positivo.
Roadmap
Os próximos passos na evolução do Moises consistem na adição de um algoritmo para separar as guitarras e de uma ferramenta de gravação para o usuário adicionar a sua voz ou qualquer outro instrumento a partir do microfone do smartphone. Ambos recursos devem ser lançados dentro de dois meses.
Outra novidade em desenvolvimento é a personalização do menu, de acordo com a habilidade musical de cada usuário e de seu objetivo no mundo musical. Se a pessoa é um baterista amador ou um guitarrista profissional, por exemplo, o Moises dará destaque em sua interface a ferramentas mais adequadas para cada um, diz Ramos.