|Mobile Time Latinoamérica| No ecossistema de startups na América Latina, a necessidade de atrair investimentos e profissionalizar os processos é mais urgente do que nunca, especialmente em um ambiente marcado pela redução do capital de risco nos últimos anos.
Dados da Crunchbase, plataforma que monitora investimentos no ecossistema global, confirmam que no ano passado a América Latina foi, pelo segundo ano consecutivo, uma das regiões de maior contração no financiamento de venture capital. No total, as empresas da América do Sul e América Central em 2023 obtiveram aproximadamente US$ 2,9 bilhões em investimentos, o que revela uma queda de 63% em relação a 2022 e 84% em relação a 2021. Nos EUA, houve uma queda de 37%, bem menor que a observada localmente.
Nesse contexto, a Lanchmon, empresa especializada na profissionalização de firmas de capital de risco em mercados emergentes, formou uma aliança estratégica com a Câmara de Comércio de Cali, na Colômbia, para conectar startups locais a investidores globais. Através de uma plataforma de “matchmaking”, essa colaboração busca melhorar a qualidade das oportunidades de investimento, facilitar o acesso ao capital e elevar os padrões do ecossistema empreendedor na região.
Em entrevista a Mobile Time Latinoamérica, Boris Lancheros, CEO da Lanchmon, explica mais sobre essa iniciativa e o impacto que esperam gerar nas startups latino-americanas.
Mobile Time Latinoamérica – Qual é a principal motivação por trás da aliança entre a Lanchmon e a Câmara de Comércio de Cali para promover investimentos em startups latino-americanas?
Boris Lancheros, CEO da Lanchmon
Boris Lancheros – A principal motivação é aproximar o mercado global do local, permitindo que as startups locais se tornem atores globais e incorporem melhores práticas para sofisticar os processos de capital de risco na região. Através dessa aliança e da plataforma de “matchmaking”, os investidores terão acesso a negócios pré-filtrados com “pré-due diligence”, aumentando a qualidade das oportunidades de investimento e permitindo decisões mais informadas. Isso facilita o fluxo de capital e eleva o padrão do ecossistema local.
O financiamento de venture capital na América Latina tem diminuído drasticamente nos últimos anos. Como essa aliança espera reverter essa tendência?
A diminuição do financiamento se deve a fatores macroeconômicos, como o aumento das taxas de juros e a incerteza econômica global, resultando em mais “down rounds”. No entanto, essa redução aumentou o “dry powder” (capital não investido), o que representa uma oportunidade quando os fundos retomarem o ritmo de investimento. Esta aliança pode ajudar a reverter essa tendência, melhorando a visibilidade e a preparação das startups, aumentando significativamente as probabilidades de investimento ao apresentar perfis curados e filtrados.
Que tipo de startups são o foco da plataforma de “matchmaking”? E quais critérios são usados para selecioná-las?
As startups foram selecionadas por um processo liderado pela Câmara de Comércio de Cali, priorizando critérios como impacto, perspectiva de gênero e abordagem agnóstica quanto à indústria, abrangendo desde a fase “pre-seed” até a Série A. Os perfis são ajustados com base nas teses de investimento de cada fundo participante, maximizando as chances de sucesso nas negociações.
O que diferencia essa plataforma de “matchmaking” de outras ferramentas já existentes no ecossistema de startups?
A plataforma da Lanchmon se diferencia ao trazer informações pré-filtradas de acordo com os critérios específicos de cada fundo, permitindo uma seleção mais precisa. Além disso, incorpora as melhores práticas do mercado global no contexto local, elevando os padrões de seleção e execução de investimentos na América Latina.
Em termos de expectativas a curto e longo prazo, qual o impacto esperado dessa plataforma nas startups latino-americanas?
A curto prazo, esperamos que os fundos iniciem processos de due diligence para fechar várias rodadas de financiamento. A longo prazo, queremos que a plataforma se torne uma referência para mercados emergentes, facilitando investimentos e profissionalizando o ecossistema empreendedor.
Como planejam expandir a plataforma além das 100 startups e 165 veículos de investimento já registrados?
A Lanchmon está se consolidando como um aliado estratégico para instituições, empresas e programas público-privados em toda a América Latina. Nosso objetivo é que outros países da região adotem essas tecnologias para ajudar a profissionalizar o ecossistema de venture capital.
Essa expansão permitirá que câmaras de comércio, entidades público-privadas comprometidas com o fortalecimento empresarial, programas governamentais e grandes corporações melhorem seus serviços e incorporem melhores práticas na organização de eventos e na interação com o ecossistema empreendedor. A Lanchmon será fundamental na co-criação do futuro do venture capital na região, desenvolvendo não apenas plataformas de matchmaking, mas também estratégias institucionais que transformem as dinâmicas e promovam o crescimento do ecossistema.
Em relação aos fundos de investimento, cada licença da plataforma é independente por entidade, referindo-se à Câmara de Comércio de Cali e a outras futuras instituições na América Latina. Os fundos têm a opção de utilizar os critérios fixos que essas entidades fornecem ou acessar uma versão única e personalizada. Isso permite ajustar a busca de empresas às suas necessidades específicas, otimizando a seleção de startups que se alinhem de forma mais precisa com sua tese de investimento.
Ilustração no alto: Nik Neves para Mobile Time
