A Auti Books (Android, iOS) vendeu 37 mil audiolivros em três meses de operação. Com três grandes editoras entre seus sócios (Record, Sextante e Intrínseca), a startup aposta na qualidade do seu catálogo, hoje composto de 200 títulos, dos quais aproximadamente metade são exclusivos. Além de audiolivros das três sócias, conta com títulos de várias outras editoras de renome, como Companhia das Letras e Zahar. A expectativa é chegar a 500 audiolivros no fim do ano e vender 15 mil unidades somente em dezembro.
“A tecnologia não muda o jogo para ninguém, é commodity. O que muda são os títulos no catálogo e a narração”, argumenta Claudio Gandelman, CEO da Auti Books, em entrevista para Mobile Time.
São as próprias editoras que produzem os audiolivros vendidos pela companhia. “Isso é importante, porque o editor sabe o tom, a velocidade, a pegada da fala. É o editor quem melhor conhece o produto. Se ele não se envolver no processo, este sai do trilho”, comenta. Em alguns casos, os próprios autores são convidados para narrar seus livros: é o caso de “Estação Carandiru”, de Drauzio Varella.
A maioria das editoras brasileiras não têm estúdios próprios de gravação, mas alugam de terceiros. Uma obra de 300 páginas é transformada em um audiolivro por um custo médio de R$ 10 mil, estima o executivo.
Modelo de negócios
Ao contrário dos principais concorrentes, a Auti Books aposta na venda avulsa de audiolivros, em vez de uma assinatura. São as editoras que definem o preço final, que costuma ser entre 15% e 20% mais barato que aquele do livro físico. Os preços variam de R$ 4, para um livro infantil, até R$ 69, no caso de um audiolivro mais denso, com mais de 60 horas de narração. Seu tíquete médio atualmente é de R$ 32. A Auti Books fica com 40% da receita e as editoras, com 60%.
“O modelo de assinatura é ingrato para as editoras. Gera pouco dinheiro para elas, que acabam não dando valor”, comenta. Entretanto, Gandelman não fecha as portas para o desenvolvimento, no futuro, de algum modelo de assinatura que agregue valor tanto para as editoras quanto para o consumidor.
No processo de vendas, a Auti Books prefere evitar o billing das lojas de aplicativos, como App Store e Google Play, em razão do alto custo. Seus usuários precisam comprar com cartão de crédito pelo site da Auti Books. E através do seu login e senha podem acessar os audiolivros no app instalado no smartphone.
Mercado
Gandelman lamenta que o mercado editorial brasileiro seja pequeno, mas acredita que os audiolivros podem ser a solução.
“O mercado nacional não é maduro em literatura. Há apenas 17 milhões de pessoas no Brasil com capacidade cognitiva para ler. Esse micropaís consome anualmente R$ 1,5 bilhão em obras gerais. Por outro lado, o Carnaval movimenta R$ 5 bilhões em quatro dias”, compara.
Para o executivo, os audiolivros podem ajudar a aumentar o consumo de literatura, especialmente porque as pessoas podem ouvir as obras enquanto realizam outras atividades, como dirigir, caminhar etc. “Temos uma oportunidade com os audiobooks de mudar o País. Não será da noite para o dia essa mudança de comportamento, mas passa por uma construção gradual de mercado”, diz. Ele aposta que dentro de cinco a dez anos o mercado de audiolivros têm potencial para ser do mesmo tamanho do mercado de livros impressos. “O modelo comercial do mercado editorial precisa ser reinventado e queremos ser o motor dessa reinvenção. Não se trata de um jogo de curto prazo, de um ano apenas, mas de dez anos”, conclui.