A candidata do PSOL à prefeitura do Rio de Janeiro, Renata Souza, tem apenas 3% das intenções de voto, de acordo com a mais recente pesquisa Ibope, mas sua campanha é nitidamente a que mais mobiliza apoiadores no WhatsApp. Com pouco tempo na TV, a estratégia é apostar forte no uso do aplicativo de mensagens. Não à toa, a primeira informação em sua página oficial na Internet é um formulário de cadastro para voluntários que queiram ajudar na campanha. A iniciativa tem rendido resultados positivos: em pouco mais de duas semanas a candidata conseguiu a adesão de 3,7 mil pessoas, que estão distribuídas por 43 grupos de WhatsApp, organizados por bairros da cidade e por temas de interesse.

“Nossa prioridade no WhatsApp é criar e crescer a comunidade da campanha. O PSOL é um partido de militantes, isso está em seu DNA. E o WhatsApp é fundamental para a gente neste contexto de pandemia, quando os meios de recrutamento de voluntários estão restritos. Até então a organização dos militantes dependia de encontros presenciais”, explica Kenzo Soares, coordenador de comunicação direta da campanha de Renata.

O partido conta com uma estrutura de sete pessoas gerenciando os grupos de WhatsApp de voluntários, o que inclui a publicação de conteúdos e a moderação das conversas. Como são grupos abertos, em que todos podem falar e contribuir, volta e meia surgem propostas que podem até mesmo ser incorporadas ao plano de governo da candidata.

Inteligência de dados

Empiricamente, a equipe do PSOL está aprendendo técnicas para tornar a comunicação pelo WhatsApp cada vez mais eficiente. Entre as descobertas está limitar a 70 pessoas por grupo, pois mais do que isso gera excesso de mensagens, o que prejudica a conversa e acaba levando muitas pessoas a saírem.

A frequência, o horário e o tipo de publicação também são analisados de perto para encontrar um equilíbrio ideal. “Enviamos até três conteúdos diariamente de forma centralizada. E temos conteúdos exclusivos para WhatsApp”, diz Soares, que faz doutorado em comunicação social na UFRJ. Outro aprendizado: áudios gravados pela própria candidata geram maior viralização e engajamento no WhatsApp do que vídeos.

Bolha

O WhatsApp ajuda também a “furar a bolha” do eleitorado cativo do PSOL, levando a mensagem da candidata a outros setores da sociedade, diz Kenzo.

“Os canais digitais cumprem papéis complementares. No YouTube a disputa é mais de longo prazo, com conteúdos mais densos. Lá temos menor presença. Somos mais fortes no Twitter. No YouTube a direita lidera. O WhatsApp, por sua vez, é um meio para mobilização e para chamadas em ação de engajamento. E ele fura a bolha, em termos de disseminação de conteúdo. O nosso militante pega a mensagem no grupo de campanha e divulga no grupo da família, do trabalho, do condomínio. O conteúdo chega a pessoas que não são a nossa audiência”, analisa o coordenador da campanha.

Kenzo argumenta também que o WhatsApp é mais popular, sendo acessado por todas as camadas da população, enquanto o Twitter, por outro lado, é mais elitizado.

Escola de mobilização online

O PSOL não tem uma estratégia única e nacional para uso de WhatsApp nas eleições deste ano. Mas há muita troca de conhecimento entre os candidatos do partido. “Conversamos muito com a campanha do Boulos, em São Paulo, e da Áurea, em Belo Horizonte. Também temos um intercâmbio bastante rico de aprendizado com nossos deputados federais e estaduais”, relata.

Para depois das eleições, o partido avalia a ideia de criar uma escola de mobilização online, com reuniões e oficinas sobre o tema, diz Soares.

 

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