Incor

Guilherme Rabello gerente comercial e de inteligência de mercado do núcleo de inovação do Incor

A chegada do 5G vai impulsionar a telemedicina de diferentes maneiras. Mas quando esse futuro incrível é transposto para a realidade do SUS, tudo isso parece estar anos-luz de distância. Pensando no universo do Sistema Único de Saúde brasileiro, na possibilidade de escalar uma iniciativa, e, ao mesmo tempo, na chegada da tecnologia de quinta geração, o Incor, com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e do CNPq, desenvolveu uma plataforma de telemedicina para a capacitação de cirurgiões cardíacos e apoio a operações complexas. Inicialmente, a estrutura montada será utilizada durante cirurgias em bebês com cardiopatias congênitas e servirá de suporte para os hospitais distantes dos grandes centros.

Apesar de a pandemia do novo coronavírus ter atrasado os planos, o Incor já montou uma prova de conceito para validar a plataforma, selecionou a equipe que fará o acompanhamento cirúrgico de forma virtual e está em fase de validação do projeto. Para o início da iniciativa de teleorientação de ato cirúrgico, serão feitos testes, em fibra ótica, de conectividade com o Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em São Luís, assim como a primeira cirurgia no coração de um paciente bebê com orientação à distância. Mas a proposta foi criada para ser replicada em hospitais universitários de todo o País. A parceria entre Incor e MCTI foi assinada em 2019, antes da pandemia, e o investimento do ministério foi de R$ 597 mil.

“Os hospitais universitários são centros formadores de gente, como o Incor. Mas quando esses profissionais se formam aqui, por exemplo, e voltam ao seu ponto de origem, não se sentem ainda preparados para o ato cirúrgico sozinho. Ou a equipe não está preparada. Por isso, é importante um serviço de teleorientação a partir de equipes especializadas assistindo à cirurgia. O que estamos criando não existe no mundo”, conta Guilherme Rabello, gerente comercial e de inteligência de mercado do InovaInCor, núcleo de inovação do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP).

Adaptação

No momento, o Incor está na fase final de integração da plataforma com o Webex, da Cisco. Segundo Rabello, estão sendo feitas alterações na aplicação de videoconferência de modo que ela funcione dentro do conceito de plataforma de tempo real, com qualificação de uso em medicina. “Uma coisa é a plataforma estar razoável para uma conversação, a outra é ter resolução, latência, integrações de informações e confiabilidade. Nestes casos, o Webex ainda não tinha a performance adequada”, explica o gerente comercial do InovaInCor.

A iniciativa demanda uma plataforma robusta pois a equipe que está prestando assessoria ao grupo que está fisicamente na cirurgia não pode ter delays, por exemplo. “É monitoramento em tempo real para prestarmos o auxílio a uma equipe com menos experiência. Poucos hospitais terciários oferecem cirurgia cardíaca. Quem mora no Acre, precisa ir para Brasília, por exemplo, para poder ser operado. Por isso essa plataforma de telemedicina será muito útil para: manter o paciente na sua região, e, neste caso, são famílias, já que os pacientes são bebês; dar qualidade de vida para essas famílias; e capacitar os profissionais em lugares remotos do País”, explica.

Se tudo correr bem, a integração estará pronta ainda neste semestre. E, depois da plataforma validada, os testes poderão ser feitos dentro do Incor para só depois as cirurgias à distância serem realizadas em parceria com o hospital universitário de São Luis.

Estudos do coração

O projeto também inclui o envio de materiais para o ensino e melhorias das equipes. A ideia é que o time do hospital de São Luiz tenha modelagens em 3D reproduzindo o coração da criança para que a equipe cirúrgica visualize antes do procedimento o órgão e faça uma análise pré-cirúrgica para compreender detalhes da anatomia. Junto ao modelo físico, Rabello explica que o Incor também deverá enviar arquivos em realidade virtual, aumentada ou mista como opção de meios de visualização para o ensaio cirúrgico. Já estão sendo feitas as gravações (dos arquivos). “Seria um material muito importante para o estudo das equipes do hospital escola”, explica o gerente comercial do InovaInCor.

O Incor está ainda analisando se os arquivos seriam usados em smartphones/tablets ou em óculos 3D. “Estamos avaliando. Até por uma questão de escala, estamos vendo a possibilidade do uso do óculos”, explica.

Segundo Rabello, o hospital fez testes em dezembro do ano passado e analisou a viabilidade dos modelos. “Já sabemos as opções e os benefícios. A questão agora é a complexidade, como vamos replicar esse tipo de estudo em outros hospitais. Não é todo lugar onde é possível imprimir numa impressora 3D de qualidade. Temos que pensar nisso”, avalia. “De qualquer forma, é importante ter as opções física e virtual. São abordagens complementares”.

 

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