A lista de rivais diretos e indiretos do Clubhouse (iOS) é enorme e suas ações podem definir as próximas etapas da rede social de áudio. Durante a conversa com profissionais do setor que acompanham o desenvolvimento da nova rede social foram citados: uma possível nova funcionalidade do Facebook; os competidores diretos Soapbox (Android, iOS) e Chalk (Android, iOS); a chegada do investidor multibilionário Mark Cuban do meio dos podcasts; além de Twitter e dos aplicativos de mensageria que podem lançar funcionalidades similares. Além disso, há os aplicativos de streaming de áudio e podcast, como Spotify, Deezer e Apple Music, sendo que esse último possui uma rádio online que pode ser adaptada eventualmente.
O CEO da Makers, Ricardo Cavallini, afirma que uma mera atualização de uma dessas plataformas pode ser um desafio ao futuro do Clubhouse. Lembra que esse problema aconteceu com as mensagens efêmeras do Snapchat, que foram replicadas em diversas redes sociais: “Não dá para dizer se a rede dará certo ou não. Pode ser que daqui a um mês perca a atratividade. Ou pode ficar maior que Twitter e Facebook. Além disso, as redes sociais devem lançar essas funções no futuro. Foi algo que vimos com o Stories e o Snapchat”, diz o especialista.
Cavallini afirma ainda que o Clubhouse não tem modelo de negócios definido. Não está claro se a plataforma optará por um modelo com publicidade, muito conteúdo e sem foco na qualidade, igual a Facebook e YouTube. Ou se seguirá um modelo de assinatura, com os conteúdos mais próximos de uma Netflix, com o usuário pagando por um serviço de qualidade.
Modelo de negócios
Para Alberto Pardo, CEO da Adsmovil, a expectativa e a demanda do mercado seria por um novo meio de publicidade em áudio. Cita como exemplo o formato de comércio ao vivo que varejistas estão fazendo nas salas do Clubhouse: “Seguramente, para encontrar modelos de negócios e monetização, esperamos alguma combinação de áudio ads com live shopping, enviando códigos e convidando para salas que dão descontos. Isso pode revolucionar a publicidade típica de áudio como conhecemos”, acredita o CEO.
Por sua vez, Carolina Zaccaro, managing director da Rocket Lab, este momento é de exploração de opções em monetização na rede social: “O Clubhouse está investindo em novas opções de monetização como assinaturas, dicas e venda de ingressos para entrar nas salas, o que será bom para os anfitriões. Mas, com o tempo, as possibilidades de publicidade vão evoluir, como aconteceu no Twitter, Instagram, Facebook e TikTok. Os anunciantes devem estar atentos ao desenvolvimento da plataforma e à interação com os usuários para reconhecer se é um canal pelo qual eles possam se conectar com seu público e construir suas marcas”.
Clubhouse x outras mídias
A conversa com os profissionais também abordou como ficam outras mídias e as redes sociais ante a chegada de um novo rival. Seria o Clubhouse o modelo definitivo para o podcast? Um novo caminho para as rádios? Para Cavallini, a nova rede social ainda é uma incógnita. O executivo acredita que o Clubhouse pode virar a “nova segunda de tela” de mídias, assim como acontece com o Twitter e Facebook. E, eventualmente, o aplicativo pode ser “uma carga relevante dentro do podcast”, se lançar função de gravação ou apresentação com fotos e vídeos.
João Carvalho, CEO e fundador da Hands Mobile, acredita que o Clubhouse traz uma dinâmica de informalidade ao podcast, algo similar ao que YouTube fez com a TV. O executivo acredita ainda que a entrada de uma função de gravação pode mudar a dinâmica do mercado de áudio.
“Essa inclusão permite que mais pessoas entrem ao vivo. E, pelo o que entendi, eles vão permitir gravação no futuro. Quando isso acontecer, poderá substituir o podcast. Mas começaremos a ver produções mais elaboradas no Clubhouse, como vimos no Instagram e no YouTube. Só que o mais interessante é a interação”, disse Carvalho.
Zaccaro lembra que o Clubhouse “não oferece atualmente nenhuma funcionalidade de publicidade no aplicativo”, mas isso não significa que você não possa ter uma. Para isso, as empresas podem beber do formato que existe nos podcasts e rádios. A profissional cita como exemplos para “anunciar” a criação de sala ou evento de um tema dedicado aos clientes da empresa.
“Há apresentadores que gravam as conversas e as enviam para um podcast e há aqueles que fazem menções comerciais durante a sessão, como no rádio. Existe a possibilidade de marcas ou personalidades pagarem para estarem nas salas ou eventos mais relevantes como convidados. Pague hosts para falar sobre seus produtos ou serviços”, diz a diretora geral da Rocket Lab.
Público e bolha
Para Abner Bezerra, head de marketing da Nescau e bebidas Nestlé, uma das primeiras marcas a usar o Clubhouse, o aplicativo precisa expandir e se democratizar o quanto antes, ao abranger os usuários do Android. Atualmente, a rede social de áudio funciona apenas para donos de dispositivos Apple (iOS 13 e acima) e que recebam convite de outros usuários da plataforma.
Questionado se o modelo atual cria uma ‘bolha de usuários de iPhone’ e inviabiliza o modelo de negócios no futuro, o CEO da Makers acredita que não. Em sua visão, o fato de ser só iPhone é algo a favor da Clubhouse. Para ele, ser apenas por convite e iPhone é a “estratégia da escassez”, ou seja, gera um desejo de entrar na rede.
Contudo, a estratégia de escassez deve durar pouco. Recentemente, o fundador e CEO da rede social, Paul Davidson, disse à rede CNBC que pretende levar o app a todos, em breve.
Fundada em março de 2020 nos Estados Unidos, a companhia angariou mais de US$ 110 milhões em aportes, segundo o Crunchbase. Com pouco mais de 7 milhões de downloads em sua história, o aplicativo tornou-se um unicórnio em menos de seis meses, ultrapassando US$ 1 bilhão de valor de mercado.