Cada vez menor, porém, mais inteligente e mais importante para operadoras e consumidores. Assim é visto o SIMcard pela Gemalto, uma das maiores fabricantes mundiais do produto. Em entrevista para MOBILE TIME durante o Mobile World Congress (MWC), em Barcelona, o COO da companhia, Philippe Vallée, falou sobre o futuro do SIMcard e a disputa com Apple e Google no setor de pagamentos móveis. A inclusão da tecnologia de HEC (Host Card Emulation) na nova versão do Android, que permite a autenticação na nuvem de pagamentos NFC é tida pelo executivo como uma boa notícia, por estimular essa forma de pagamento.
MOBILE TIME – Os SIMcards diminuíram de tamanho ao longo dos últimos anos. Será que em algum momento vão desaparecer, passando a autenticação para a nuvem?
O formato está diminuindo, porque precisa ser menor. Mas o chip que botamos dentro do SIMcard tem cada vez mais funcionalidades e mais capacidade. O NFC é uma delas, dentre outras. O limite físico não é um problema. Para os próximos cinco anos não me preocupo com essa questão. Mas não posso falar pelos próximos 20 anos. Tudo o que fizemos até agora para operadoras foi desenvolver uma arquitetura cliente/servidor, mas também os softwares correspondentes no back office, que estão instalados nas teles e nos bancos, para interagir com os SIMcards. O SIMcard é como um elemento de infraestrutura dentro do device. Talvez isso possa mudar no futuro… O SIMcard contém as credenciais do usuário para a operadora. E acreditamos que deva haver um balanço entre nuvem e front-end: é preciso ter algum credenciamento no aparelho. O SIMcard é um jeito eficiente de guardar esse credenciamento.
Visa e Mastercard criaram soluções para autenticação na nuvem para pagamentos via NFC, através do HEC (Host Card Emulation). O quanto isso pode impactar o uso do SIMcard em soluções de m-payment por proximidade?
É uma solução do Google com suporte da Visa e da Mastercard. Ela não substitui a solução via SIMcard. Gostamos de todas as implementações. É uma boa notícia porque até agora víamos muita gente dizendo que NFC não daria certo, que as pessoas não usariam seus celulares para trocar informações ou realizar pagamento com essa tecnologia. Então, acho fantástica essa notícia de o Google usar NFC. Quando implementamos uma solução de pagamento com elemento seguro no SIMcard passamos por um processo de certificação com Visa e Mastercard. Não sabemos ainda exatamente como será esse processo para o HEC. Se for para botar o HEC completo, não se vai dar certo… Precisariam criar um cartão com limite de transações. A combinação do HEC com o que temos no físico é que vai permitir fazer mais coisas. Mas vai levar tempo. Precisamos esperar pelas especificações finais de Mastercard e Visa. Se um app está armazenado no HEC, quem vai checar os dados relativos da transação? Se estiver guardado no HEC, será que o Google vai fazer isso? Estamos cientes de que diferentes alternativas vão coexistir. Mas há o risco da fragmentação. Do nosso lado, temos as teles motivadas a seguir com NFC no SIMcard. É uma grande batalha, sem dúvida. Apple e Google querem entrar em pagamentos e para as teles é uma nova forma de monetização. Teles vendem ao banco um lugar seguro para armazenar informações e a possibilidade de novas vendas. E podem usar para atendimento ao consumidor. Isso tem um valor para os bancos.
Há novos formatos de SIMcard surgindo, como aqueles de duplo ou triplo corte e replugáveis. Quais são suas expectativas sobre isso?
Se for botar SIMcard num relógio, ele precisa ser pequeno. Mas caminhar em direção a novos formatos físicos não é bom para a logística. Por isso oferecemos a possibilidade do "all in one" (Nota do editor: o executivo se refere ao SIMcard de triplo corte replugável). Outra direção é aquela dos fabricantes de carros, que pedem SIMcards mais resistentes, que aguentem condições específicas difíceis, como vibração, choque etc.
Quando começarão a vender o SIMcard "all in one"?
Estamos conversando com as teles. Esse produto requer algumas reengenharias na produção, que começamos a fazer. Estamos iniciando a distribuição agora, em pequenas quantidades para vários países. Chamamos de SIMtrio. Algumas teles ainda vão testar.
A importância do setor de telecom para a receita da Gemalto está aumentando ou diminuindo?
Metade da nossa receita vem de telecom. Temos alguns outros setores como bancos e governos. E temos oportunidades relacionadas a billing em hardware e software, o que serve para bancos e telecom. Oferecemos para bancos uma forte autenticação. Para governos provemos identidade eletrônica em cartões. Não se trata apenas de uma carteira de motorista com chip, mas de todo o sistema para prover as licenças dos motoristas. Temos sinergias entre diferentes setores, não dependemos apenas de telecom, embora seja uma parte importante, que não cresce, mas que segue estável. E não dependemos apenas do SIMcard em telecom, porque vendemos soluções. Mitigamos os riscos porque vendemos diferentes negócios.