As operadoras de telecomunicações compreenderam a gravidade do momento e concordam com os esforços da Anatel de coordenar algumas linhas de ação em relação à crise do novo coronavírus. Mas conforme relatos ouvidos por Teletime das empresas, é preciso tomar alguns cuidados para evitar atropelos.
Algumas empresas receberam com surpresa o ofício enviado pela Anatel no domingo já indicando medidas a serem adotadas. Segundo fontes ouvidas por Teletime, há especificidades de cada companhia que precisam ser observadas, algumas questões precisam ser mais bem discutidas e é preciso aproveitar a experiência que o setor de telecomunicações já acumulou em países em estágio mais avançado da pandemia. TIM e Telefônica, por exemplo, têm a experiência da Itália e Espanha, respectivamente, justamente os dois países mais afetados, até aqui, pelo novo coronavírus na Europa.
Propostas
Há várias ideias que estão sendo colocadas pelas empresas, desde planos de compartilhamento de equipes de atendimento até a necessidade de alívios regulatórios durante o período emergencial e até uma postergação da data de pagamento do Fistel (31 de março), para permitir um “colchão” ao caso de usuário inadimplentes.
Segundo relatos ouvidos por Teletime, há uma série de pontos que podem e devem ser refletidos pela Anatel e pelo setor nesse momento.
- As próprias empresas ainda estão em fases de ajustes internos para permitir que suas equipes possam trabalhar 100% remotamente. Esse processo deve estar concluído nos próximos dias, mas muito da capacidade de operação decorre disso.
- Uma das preocupações das empresas é justamente com a questão de instalação, atendimento e manutenção. Exemplos práticos: se for obedecida a regra de 1m de distância para os atendentes e call center, o número de posições de atendimento cairia em quase 50%.
- Também existe a preocupação com a saúde e a capacidade de manter equipes de instalação em áreas mais afetadas.
- O câmbio a R$ 5 está criando uma grande pressão sobre os custos operacionais, sobretudo para os equipamentos impostados ou serviço de dívida em dólar.
- Nem todas as empresas têm capacidade igual de ampliação das redes de banda larga fixa, pois as tecnologias são diferentes (cabo, xDLS ou fibra, a depender de qual empresa em qual cidade). Não seria possível oferecer um benefício igual a todos os usuários. Como fazer isso com os limites regulatórios?
- Não há muita preocupação com o aumento de tráfego. Isso se mostrou mais intenso na Itália e Espanha no caso do uso da banda larga fixa, e em menor escala na móvel. Mas o problema é manter a capacidade de atendimento em caso de falhas.
- O acesso por Wi-Fi em locais públicos é visto com muitas ressalvas por algumas empresas, pois pode estimular aglomerações. Seria necessário avaliar com cuidado em que circunstâncias esse tipo e acesso deve ser estimulado.
- Seria possível pensar em modelos de cooperação entre equipes de atendimento e manutenção, mas não é uma ação imediata e depende de um bom diálogo entre as empresas.
- A Anatel precisa aliviar as metas de atendimento nesse período emergencial e permitir a intensificação de uso de canais digitais sem que isso signifique punição nos casos de atendimentos presenciais. Muitas operadoras já estão fechando lojas em shoppings, por exemplo.
- Na parte de cobrança, há o problema dos clientes que terão dificuldade logística de pagar e aqueles que não terão recursos para pagar. A discussão sobre um eventual escalonamento do pagamento do Fistel (cerca de R$ 3 bilhões) em março deveria ser seriamente pensado pelo governo para garantir o subsídio de alguns casos. Idem para Fust, mas isso dependeria de alguma medida legislativa emergencial.
- É preciso haver uma coordenação entre os entes públicos. As operadoras estão sendo demandadas por secretarias de diferentes Estados e por diferentes órgãos do governo para discutir muitas vezes os mesmos assuntos, e a capacidade de resposta e mobilização não é imediata.