A ConectarAgro estima que apenas 19% da área disponível para produção agrícola no Brasil tem cobertura 4G ou 5G. “Isso é muito baixo, se considerarmos que o agronegócio responde por quase 30% da produção do País”, diz Ana Helena de Andrade, presidente da associação em fim de mandato.
“A mensagem com essa pesquisa é que o grande ganho da produtividade no campo será impactado pelo digital. Se levarmos a infraestrutura (de conectividade) aos outros 80% do rural, a produtividade vai crescer. Isso significa mais comida na mesa”, completou.
O dado foi apresentado pela associação nesta quarta-feira, 17, como parte do Indicador de Conectividade Rural (ICR), um estudo novo que foi desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Produção e imóveis
Ainda de acordo com a pesquisa, há “disparidades significativas”, como o fato de que há mais conectividade 4G e 5G entre áreas de produção de pequenos produtores (39%) que de médios produtores (16%) e de grandes produtores (6%). Em áreas de povos e comunidades tradicionais há um percentual elevado (26%) de conectividade em área produtiva, porém abaixo do ideal, segundo a ConectarAgro. E em assentamentos de produtores englobados pela reforma agrária, a cobertura é ainda mais limitada: 10%.
Além dos dados de produção, o estudo revela que 37% dos imóveis rurais têm cobertura 4G ou 5G. Ou seja, há mais conectividade na sede de uma unidade agricultora do que na produção do campo brasileira.
Metodologia e indicadores
O estudo demorou 18 meses para ser feito e analisa conectividade da agricultura brasileira a partir de dados públicos (Anatel, Embrapa, Cert.br, Ministério da Agricultura) e as divide em quatro pilares:
- Produção, área com conectividade 4G ou 5G propriamente dita;
- Social, que contabiliza em áreas rurais de pequenas propriedades e escolas com pelo menos 1 Mbps por aluno e postos de saúde conectados com rede celular 4G ou 5G;
- Ambiental, áreas de conservação públicas, privadas ou indígenas com cobertura 4G/5G;
- Infraestrutura com backhaul de fibra em munícipio agroprodutor.
Cada pilar gera um ponto que é calculado e gera o ICR por estado ou município. A unidade da federação com melhor indicador de conectividade rural é o DF, com 0,8 ICR. E a pior é o Amazonas, com 0,1. Por cidade, Porto Alegre tem o melhor ICR (1,0) e Maués/AM, o mais baixo (0,005). A média nacional é de 0,45 ICR.
A pesquisa e seus dados serão atualizados de seis em seis meses.
Motivos
De acordo com a presidente da ConectarAgro, o indicador tem como objetivo mostrar a “real situação” e revelar “o retrato da conectividade rural”, de modo que ajude o produtor rural, o setor agroprodutor e a sociedade a desenvolver políticas públicas para a conectividade no campo. Explicou ainda que sentiam a falta de informação de conectividade para o campo.
Por sua vez, Ricardo Graça, líder do comitê técnico da associação, explicou que o ICR é complementar às ações do Índice Brasileiro de Conectividade (IBC) da Anatel, uma vez que foca mais em aspectos da “conectividade significativa” para o agricultor, vide escolas rurais e pequenos produtores.
A pesquisa completa e o ebook com a análise podem ser acessados aqui.
Tecnologias
Nota-se que o estudo não tem 2G, 3G ou satélite. Segundo Renato Coutinho, gerente sênior de desenvolvimento de negócios da TIM, o 2G e o 3G têm pouca presença na agricultura brasileira, estão em declínio e serão substituídos por 4G e 5G, que têm mais possibilidade de atender as demandas e políticas públicas do campo. E o satélite não foi contemplado por ainda ser uma conectividade de meio (backhaul, como a fibra), não funcionando diretamente com os usuários de celulares e IoT.
Vale lembrar, a Anatel deve preparar um arcabouço de conexão satelital direto ao dispositivo (D2D) até o final de 2024. Neste formato, as companhias de satélites de baixa órbita deverão firmar acordos com operadoras celulares para oferecer a conectividade via satélite de baixa órbita.
Helena de Andrade confirmou que há conversas da ConectarAgro com a Starlink e que o provedor é “bem-vindo”. Vale dizer, além de TIM, a associação conta com Vivo e AWS entre seus membros.
Imagem principal de divulgação da ConectarAgro