A Myriota recebeu a autorização da Anatel para operar no Brasil com uma constelação de 208 satélites não geoestacionários por 15 anos no último dia 5 de fevereiro. Com foco no mercado de Internet das Coisas, o diretor de vendas da companhia na América Latina, Oscar Delgado, quer contribuir para uma futura massificação dos dispositivos conectados via satélite.
Em conversa com Mobile Time, o executivo explicou que a partir do lançamento da empresa, o mercado brasileiro de IoT satelital entrará em um estágio “pré-massivo”, uma vez que sua tecnologia modular que permite a conexão custa centavos de dólares por dia, ante o passado que era na faixa de dúzias de dólares.
A expectativa do diretor é que os preços cairão mais nos próximos 12 meses e as companhias brasileiras devem começar a perceber isso a partir do final de 2025: “Vai custar menos de um terço dos modems atuais. Por isso é pré-massivo. Começa cair o custo do hardware e serviço. Portanto, a possibilidade de colocar o IoT satelital começa a acontecer”, disse.
Mas, Delgado reforçou que “ainda é pré-massivo”, pois o preço do satelital ainda não está no patamar da comunicação celular que é mais barata.
Vale lembrar, o tema da conectividade satelital para a Internet das Coisas foi apresentado durante o Fórum de Operadoras Inovadoras em março deste ano. Na ocasião, os especialista de São Martinho, NLT Telecom e Abinc, apontaram que a conexão satelital serve apenas para casos específicos em que há deficiência de conectividade para abastecer o IoT e que o custo ainda não permite que seu uso seja massivo.
Ofertas da Myriota
Com mais de dez anos de atuação no mercado de satélites, a companhia australiana tem parcerias com Nordic em semicondutores e Viasat para ampliar sua oferta de conectividade combinando NB-IoT com 5G não terrestre (NTN). Para o mercado, a estratégia da Myriota consiste principalmente na oferta de conectividade com dois módulos:
- UltraLite com conectividade direta para IoT, custo baixo, baixo consumo de energia e foco em implementação remota e de longo prazo;
- HyperPulse com 5G NTN para aplicativos que exigem uma transmissão de dados ampla e rápida.
Desses dois módulos, o UltraLite está disponível no Brasil e o HyperPulse chega até o final de 2025, mas um programa para parceiros early adopters será lançado em setembro para desenvolvimento prévio de soluções e integrações. Ambos os equipamentos já estão homologados no País.
Parceiros e modelo de negócios
Porém, a empresa não vai diretamente ao mercado. Eles contam com parceiros de integração, como a Globalsat. Agricultura, frota e logística, petróleo e gás e utilities são alguns dos setores que a empresa mira para o Brasil, pois demandam conectividade satelital para medidores inteligentes, veículos de campo com telemetria, sensores rurais, embarcações e contêineres.
Em outras palavras, o foco são aplicações específicas de IoT que possuam volume de dados pequenos, estejam longe das antenas de redes celulares e não precisem de velocidade grande de acesso e largura de banda, uma vez que a latência varia de duas horas a 15 minutos, a depender da demanda do cliente.
O modelo de negócios é a tradicional cobrança por dados, mas Delgado afirmou que há espaço para customizar com base na latência.
América Latina
Além do Brasil, a Myriota tem presença local em outros países da América Latina, como México, Argentina e Peru. O diretor da companhia explicou que “cada país tem suas nuances” e demandas que a tecnologia satelital começa a apoiar.
“Por exemplo, o Peru tem demanda latente para mineração e pesca – a maior frota pesqueira do mundo. O México tem uma demanda para petróleo e gás. E o mercado mexicano, assim como Colômbia e Peru, precisa de comunicação para casas rurais com energia elétrica solar, pois as linhas de transmissão não conseguem chegar lá. Esses programas têm mais de 10 anos. Eles perceberam que é preciso fazer manutenção dos painéis. Mas a comunicação pode ser feita via satélite”, detalhou.
Atualmente, a Myriota está apoiando com provas de conceito os programas governamentais nesses países. Outra PoC em curso é com o governo do Chile, que precisa monitorar 220 mil poços de água em áreas rurais.
Imagem principal: Módulo de conectividade satelital da Myriota para IoT (divulgação)