A japonesa Rakuten tem como estratégia a implantação de uma nova rede 5G construída do zero e fundamentada no que afirma ser a primeira infraestrutura com arquitetura virtualizada e de padrão aberto no modelo OpenRAN. Na semana passada, a operadora anunciou acordo com a fornecedora NEC para desenvolvimento e fabricação de “unidades de antenas de rádio” (RRU, na sigla em inglês) com múltiplas entradas e saídas (MIMO) para a faixa de 3,7 GHz, mas a companhia contará com outros fornecedores como Cisco, Huawei e com a norte-americana Altiostar, na qual estabeleceu em maio investimento e parceria estratégica para a implantação.

Com lançamento previsto para junho de 2020, a rede 5G da Rakuten tem como o principal chamariz a proposta de ser a primeira totalmente virtualizada fim a fim e nativa em nuvem. Isso significa virtualização desde o acesso ao core. A operadora pretende fornecer serviços para verticais como saúde, educação, distribuição de energia e agricultura, incluindo com serviços de Internet das Coisas. A parceria com a Cisco, que fornecerá soluções do packet-core e de software para analytics e insights dos dados, foi um dos destaques da fornecedora norte-americana durante o evento Cisco Live, que aconteceu em San Diego também na semana passada.

Segundo o diretor para service providers da NEC, Roberto Murakami, a estratégia do OpenRAN prevê a utilização de interfaces de comunicações abertas e baseadas em padrões globais, como o canal padronizado de comunicação entre a “cabeça” de radiofrequência na base e a parte de processamento de sinais na estação. “Você consegue implantar qualquer fabricante da parte de rádio que atenda a essa especificação, assim como na parte de processamento de sinais também, que pode ter qualquer fornecedor”, explica.

Isso leva a uma possível “chacoalhada” no mercado, que Murakami acredita estar “oligopolizado” com as três maiores fornecedoras: Huawei, Ericsson e Nokia. “Ainda existe uma pequena diferente entre o hardware dedicado e o software sim, mas não tem mais volta, o negócio precisará evoluir”, analisa. Isso porque muitas operadoras ainda contam com redes tradicionais com padrões fechados, que acabam levando ao “lock-in” com fornecedores. Como quarta operadora móvel no Japão, os planos da Rakuten também prometem agitar o setor de telecom. “É uma concorrência dura para o pessoal tradicional que tem redes antigas e novas. Essa [da Rakuten] vai nascer 5G e virtualizada desde o início.”

Uma das vantagens da virtualização da rede é que se consegue implantar o processamento de sinais em software instalado em servidor comercial. Além de reduzir custos, algo fundamental para a implantação de uma nova tecnologia como o 5G, permite uma pluralidade de fornecedores que em tecnologias anteriores não era possível. “Você otimiza hardware, com sobressalentes no servidor, e fica mais simples gerenciar isso por não precisar de um ‘spare’ específico para a função”, diz. Assim, a operadora pode flexibilizar a escala ao adicionar (ou reduzir) servidores e capacidade conforme a demanda da rede.

Murakami já havia destacado o OpenRAN durante a Mobile World Congress em Barcelona, em março, indicando que a NEC poderia até rever a estratégia e voltar ao mercado de rádios para 5G no Brasil. Com a aplicação da nuvem, até o conceito de estação radiobase é modificado: agora, é composto pela RRU (fornecida pela japonesa e que inclui a conversão do sinal digital/analógico, o MIMO, multibeam e o tracking de sinal para usuário) e pela unidade de banda base (BBU, na sigla em inglês). “A parte da torre é RRU, e a do software, BBU”, afirma o diretor da fornecedora.

A Rakuten já opera no Japão como uma operadora móvel virtual (MVNO), cuja operação foi incorporada após reestruturação organizacional em abril, e pretende iniciar a operação com rede própria já em outubro deste ano. A NEC já era fornecedora da parte de controle e gerenciamento OSS/BSS, que agora será integrada à interface da nova rede. Segundo a agência de notícias Nikkei, o contrato com a NEC prevê cerca de 16 mil estações 5G para o mercado japonês. Em outras regiões, a operadora contará com a Huawei como fornecedora. Em abril, a operadora adquiriu blocos de frequência nas faixas de 3,7 GHz e de 38 GHz. A construção da rede de quinta geração terá um custo estimado em 200 bilhões de ienes (equivalente a US$ 1,84 bilhão) à companhia.

 

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