Dados do mercado brasileiro de tecnologia apontam para uma tendência que parece definitiva: vamos todos nos tornar mobile. Estudos colocam o Brasil como décimo maior mercado de smartphones do mundo, enquanto relatório recente do IDC mostra que o país deve fechar 2012 com a venda de 2,5 milhões de aparelhos, ante 800 mil do ano passado. O 'boom' dos dispositivos móveis estimula diretamente o desenvolvimento do mercado de aplicativos: o Brasil já é o maior mercado de apps da América Latina e vem despertando o surgimento de um novo nicho de investimentos focado na área. Nesse sentido, a expectativa é de que o mercado mobile domine o segmento de TI até 2015 e seja responsável por mais de 50% do faturamento mundial da área. Tudo isso graças a uma quebra de paradigma de computação e acesso à informação.
A aposta nos altos números para o Brasil não é em vão: desde que a Apple liberou a parte de jogos da App Store no Brasil, em abril deste ano, as receitas do site cresceram 80%, em parte justificada pela larga presença de brasileiros em atividade nas redes sociais. Os brasileiros ocupam o quarto lugar na participação em redes no mundo. Essa participação massiva é apontada como decisiva para o aculturamento do uso de apps no Brasil acima das médias mundiais, já que a percepção das funcionalidades extras dos smartphones acontece, na maioria das vezes, através do contato com usuários já iniciados.
Esse contexto, de facilidade de produzir aplicativos com baixo custo de investimento inicial e de jovens milionários que surgem na área a cada dia – como o brasileiro Mike Krieger, co-criador do Instagram que faturou, com 24 anos, 182 milhões de dólares com a venda do aplicativo para o Facebook – inspira o surgimento de interessados no negócio. A formação técnica da mão de obra brasileira, considerada de ótima qualidade, associada a uma remuneração abaixo dos patamares internacionais também são fatores que apontam para um mercado que tem tudo para vingar. Mas, ainda assim, a produção nacional ainda é baixa: apenas 1,4% dos aplicativos produzidos no mundo são brasileiros, segundo a plataforma AppsGeyser.
Muito disso deve-se ao fato de que a formação de uma empresa desenvolvedora de apps não é tão simples quanto parece e exige que os executivos tenham um modelo de negócios bem estabelecido. O primeiro passo fica por conta da formação de uma boa equipe multidisciplinar, que inclua analistas desenvolvedores, web designers, redatores e ilustradores. Nesse momento, a atenção é voltada tanto para busca daqueles que tenham conhecimentos específicos para cada plataforma (Apple, Android, WindowsPhone, BlackBerry, etc), quanto para a retenção de talentos, já que o mercado é forte e os bons profissionais são disputados de forma acirrada. Os executivos também devem ficar atentos a questões como a utilização de hardwares específicos e a obtenção de certificações para comercialização dos aplicativos.
Entre os modelos de negócios mais comuns, quatro deles merecem destaque e podem gerar receita e rentabilidade expressiva garantindo crescimento acelerado – fator fundamental para atrair investidores. Um modelo possível é a venda de apps no varejo, diretamente nas lojas virtuais e a preços normalmente baixos, sendo a grande maioria entre US$ 0,99 e US$ 4,99, ou a venda para empresas e patrocinadores, gerando apps gratuitos nas lojas virtuais. A vantagem de ambos os modelos é que a apresentação pode ser mundial e sem grandes dificuldades, fazendo com que a quantidade de downloads atinja facilmente a casa de milhares e, por vezes, de milhões, viabilizando o projeto.
No caso de apps comercializadas no varejo, a loja virtual fica com um percentual da receita e o restante é repassado para a empresa desenvolvedora. No caso do app de distribuição gratuita, a empresa contratante ou o patrocinador remunera o trabalho de desenvolvimento do projeto, que pode variar de R$ 5.000,00 a R$ 150.000,00 embora, em função da complexidade, o projeto possa chegar a cifras da ordem de R$ 500.000,00. O app pode também ser comercializado em valores mensais e sem valores de aquisição.
Existe ainda a possibilidade de venda de espaço publicitário dentro dos apps, chamado de in-apps. Nesse caso, podem ser disponibilizados banners, rodapés, telas de entrada e espaços diversos. A gestão de anunciantes de apps é feita pelas lojas virtuais que cobram dos anunciantes e repassam parte da receita para a empresa desenvolvedora ou a própria desenvolvedora pode fechar acordos com os patrocinadores interessados diretamente.
Por fim, há ainda a possibilidade de venda de "novos recursos" dentro dos Apps. Por exemplo, podemos baixar gratuitamente um app que contenha inúmeras funcionalidades "básicas" e que, em caso interesse do usuário, disponibilize funcionalidades "avançadas" cobrando por isso.
O importante é considerar que o mercado de aplicativos adapta-se bem ao nosso novo mundo sem barreiras: em todos os casos, não há necessidade de contato físico ou deslocamento para um determinado local geográfico. Já o retorno do capital investido depende de inúmeros fatores, como: a modalidade de comercialização escolhida, a especialização dada ao negócio e o tamanho da equipe contratada.