Não é só o alto escalão dos governos que sofre com grampos. Aplicativos para dispositivos Android podem estar espionando e gravando áudios de smartphones de usuários comuns sem avisá-los. O órgão de regulação do comércio dos Estados Unidos, a Federal Trade Commission (FTC), enviou uma carta para 12 desenvolvedores que usaram um programa com essa finalidade em seus apps, o Silverpush.
De acordo com material enviado pela FTC à imprensa, os apps – que não tiveram seus nomes informados – poderiam acionar o microfone do aparelho e gravar conversas dos usuários por meio de um código do Silverpush. A espionagem teria por objetivo entender hábitos dos usuários ao assistir TV, reconhecendo os áudios de anúncios televisivos.
O recurso de gravação é ativada por meio de sinais de áudio do Silverpush em um programa de TV ou comercial quando uma pessoa com o app instalado está próximo da televisão. Um registro das atividades do usuário seria enviado para terceiros que teriam interesse neste tipo de conteúdo. Assim, marcas e agências poderiam saber quantos e quais telespectadores assistiram ao seu comercial.
Usar uma tecnologia desse gênero poderia, por exemplo, forçar o crescimento de marcas e produtos em uma região específica. Ou, em uma eleição como a que ocorre nos Estados Unidos, poderia ajudar os candidatos a entender seu eleitorado.
Aplicação da lei
Na carta aos desenvolvedores de apps identificados, o órgão deixa claro que a utilização do serviço é uma violação da quinta seção no Ato da FTC, algo comparável à Lei de Defesa ao Consumidor. Os desenvolvedores informam aos consumidores que o app terá acesso ao microfone, mas não explicam o motivo e o seu emprego.
A FTC pediu para que os desenvolvedores insiram a notificação que o aplicativo pode monitorar os sons e os hábitos dos consumidores diante da televisão. Com isso, o uso do programa passa a ser legal. Para os próximos meses, esses aplicativos continuarão sendo monitorados pelo governo.
Atualização
Em resposta ao MOBILE TIME, Silverpush confirmou que o beacon de áudio da empresa não está em funcionamento em nenhuma propaganda ou programa da TV norte-americana. Eles ainda ressaltam que, em casos fora do EUA, a coleta de dados não é intromissiva, pois é anônima e que eles não vendem os dados para terceiros e nem para seus clientes.