Tecnologia, tarifação e falta de isonomia são alguns dos desafios que executivos de operadoras móveis virtuais (MVNOs) enxergam no Brasil. Um dia após Mobile Time apresentar o avanço deste mercado na América Latina com mais de 30 milhões de linhas ativas, os profissionais do setor revelaram que há obstáculos que atrapalham a aceleração do crescimento no Brasil, que tem pouco mais de 7 milhões de linhas. O assunto foi tema do primeiro dia do Fórum das Operadoras Inovadoras, evento organizado por Mobile Time e Teletime, nesta terça-feira, 18, em São Paulo.
Para André Ribeiro, CEO da Hello, as barreiras estão no preço e na condição comercial. Em sua visão, há uma proteção de mercado das operadoras-âncoras (MNOs) no País. O executivo contrapõe esse protecionismo à brasileira com a abertura no exterior, uma vez que pôde firmar acordos de roaming internacional com facilidade com Orange, AT&T e T-Mobile; mas no Brasil, o custo é alto.
Marco Sandro Oricchio, fundador e CEO da Supernova, afirmou que os desafios estão nos impostos que precisam ser mais simples. O executivo pede uma tarifação mais simples e até específica para MVNOs: “Se reduzir os impostos, a penetração em telecom será fantástica”.
MVNOs: assimetria em preços e regulação
Por sua vez, Rudinei Gerhart, CEO da Tá Telecom, acredita que o problema está na assimetria das ofertas, pois o preço pago pelas MVNOs pelo GB é mais caro que aquele oferecido pelas MNOs aos seus clientes, como prefeituras e empresas que contratam linhas via RFP ou licitação.
“Os mesmos insumos com todos os aspectos regulatórios são tratados de maneira assimétrica. Não é lógico isso, exceto por proteção de mercado ou retaliação quando o assunto é MVNO. Por isso (o modelo de MVNO) não vingou até hoje e por isso precisamos buscar alternativas para atuar”, disse Gerhardt ao lembrar das ISPs, que começam a adotar redes privativas para criarem suas ofertas celulares.
O CEO da Tá Telecom também acredita que há desafios regulatórios, como o fato de a regulação das operadoras virtuais ser antiga, criada em uma época em que a realidade tributária era diferente da atual. Outro desafio em regulação é a disputa sobre o chip neutro que a Base Telecom trouxe ao mercado, mas não está definida para todos os players usarem. Para resolver esses temas, Gerhart defende que as MVNOs tenham um representante dentro da Anatel para patrocinar essas bandeiras.
“Não somos operadores de rede, nós agregamos valor do serviço das MNOs. Somos mais ‘plataformas de distribuição’. Se fossemos vistos (pelo regulador) como plataforma de distribuição, poderia ser diferente. Mas precisa de alguém para fazer a agenda dentro do regulador”, completou.
Visibilidade da rede
Pelo lado de uma empresa que não depende de receita, mas usa a conectividade para reter seu cliente, Marcela Zonis, diretora de marketplace do banco Inter, afirmou que tem dois desafios, “entregar o produto certo, para o cliente certo e na hora certa” e a resolução de problemas técnicos: “A questão é que não temos controle na resolução do problema. E não temos visibilidade da rede. Estamos trabalhando com o nosso parceiro (Vivo) para resolver isso”, disse.
Foto: Painel com executivos de MVNOs no Fórum de Operadoras Inovadoras (foto: Galeria Marcos Mesquita/Mobile Time)