A entrada da versão digitalizada do real na economia brasileira é vista como enabler da tokenização do sistema financeiro nacional. É o que explicou Luiz Masagão, managing director do banco Santander, durante evento organizado por sua empresa e pelo Distrito nesta terça-feira, 18.

“O grande aspecto do real digital é que, no momento que temos a moeda nacional com essa funcionalidade e todo o sistema financeiro também transacionando neste instrumento, realmente, a promessa em ter economia descentralizada, em que tudo se liquida, se concretiza”, completou.

Atacado

O executivo do Santander lembrou que a moeda digitalizada tem o mesmo valor e funcionamento que a moeda física, mas em um novo ambiente, e, inicialmente, apenas no atacado (entre bancos).

“Quando você tem um dinheiro em papel moeda, você tem R$ 1 na sua mão. No banco, você não tem mais R$ 1, mas a promessa que o banco vai te devolver aquele dinheiro. O real digital vai funcionar exatamente da mesma forma. O banco vai ter um real digital emitido pelo BC e os depositantes do banco vão ter tokens representativos deste real digital emitido por cada um dos bancos onde você tem uma conta corrente”, disse.

“E em cima desse token, a instituição pode colocar remuneração, um CDB, pagamento programado (vira um Pix). E na hora de transferir de um banco para o outro, o token é destruído, o banco um transfere os reais digitais para o banco dois, que, por sua vez, cria um token e entrega o valor na conta”, complementou.

Além de CDB, remuneração e pagamento programável, o diretor do banco explicou que também haverá aplicações com real digital para o mercado de capitais, como a “representação de uma ação ou debênture”. Ou seja, um novo token de dívida que vai ter sua regulamentação específica e não vai ter nenhuma custódia de B3 ou uma representação de registro na CVM.

Teste no varejo

Masagão explicou que o projeto do Santander no programa Lift, do Banco Central, consistia na liquidação do financiamento digital de automóvel. De modo que no ato do pagamento, automaticamente, a propriedade do carro seria transferida do banco para o comprador e a mesma coisa valeria por uma compra sem financiamento.

Explicou ainda que, para resolver o problema da disputa de comprador pagar só depois de passar o carro no papel ou o vendedor só passar o carro depois de receber o pagamento, o Santander criou uma espécie de “Detran Digital” para tokenizar carros e ter todo o seu histórico em um sistema digitalizado.

“A transferência era feita com real digital transferido em smart contract. Esse smart contract lançava um comando para o token, que me apresentava o carro, e a propriedade do carro era trocada. Isso pode funcionar para imóvel ou qualquer outro tipo de ativo”, complementou.

Varejo

Fulvio Xavier, arquiteto e consultor de projetos especiais do Mercado Bitcoin, explicou que uma vez que o real digital esteja ativo, uma série de funcionalidades interessantes podem ser levadas ao varejo (usuário final). Deu como exemplo, a oferta de “mais produtos” ou formas “mais rápidas e acessíveis” para o consumidor ter produtos que antes precisam ter “pontos de entrada muito mais altos ou uma concentração de um determinado player” para emitir um ativo financeiro.

“E quando a gente começar olhar o ativo como centro da discussão, vamos pegar os nossos itens, os nossos ativos – financeiros ou não – e começaremos a tokenizar”, disse ao citar o caso do Santander no Lift do Banco Central.

Vale lembrar, o consultor do departamento de operações bancárias e de sistema de pagamentos e coordenador da iniciativa do Real Digital, Fabio Araujo, disse que o real digital ainda não deve ir para o varejo na semana passada. Na visão do regulador, o Pix pode suprir essa demanda.

 

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