A Blip considera a possibilidade uma oferta inicial pública (IPO) de ações para o primeiro semestre de 2025, a depender de dinâmicas do mercado e da expansão internacional da companhia, especialmente na América Latina e na Europa. Em conversa exclusiva com Mobile Time, o CEO e cofundador da Blip, Roberto Oliveira, afirmou que uma presença nos EUA também está no radar e que isso pode ser acelerado com o avanço dos grandes modelos de linguagem (LLM) disponíveis para o consumidor final, como ChatGPT, Microsoft Copilot e Gemini do Google, que podem se tornar uma forma de manter uma “conversa persistente” (persistent thread, no original em inglês) entre empresas e seus clientes. Vale dizer, a Blip avança para América Latina e Europa a partir do México e Espanha, mas sua plataforma está presente em 200 países. Oliveira participará este ano do 10º Super Bots Experience, dias 7 e 8 de agosto, no WTC, em São Paulo.
Mobile Time – Como está a expansão da Blip na América Latina?
Roberto Oliveira – Estamos felizes com a aquisição da GUS. Dentro da nossa escala é uma empresa relativamente pequena. Quando fechamos a aquisição, em 2023, eles tinham faturamento anual de US$ 5 milhões. E tinham um time de 50 pessoas no México e 20 em Madri. Agora, o nosso plano é chegar a 80 pessoas no México e 40 em Madri ainda este ano. Temos potencial de acelerar esse crescimento a partir do playbook que fizemos no Brasil. Do México vamos atender toda a América Latina e Madri cobrirá a Europa. Nossa metodologia de professional services está sendo bem recebida em novos mercados. É um processo de venda mais consultivo.
Quando falamos de América Latina é muito comum falarmos da América Hispânica, o que inclui o mercado latino nos EUA. Está no radar da Blip começar a entrar no mercado norte-americano pelo mercado hispânico?
Nunca pensei por essa ótica. Mas nós olhamos para o mercado americano com perspectiva diferente. Nos EUA, o WhatsApp ainda não está consolidado. Olhamos de forma distinta da América Latina. Mas nós vamos aos EUA, não é uma questão de ‘se’, mas ‘quando’. Isso vai depender de encontrar um ambiente favorável, seja com o WhatsApp se consolidando ou o mercado preparado com o RCS. Também vemos a possibilidade dos aplicativos B2C dos grandes LLMs, como o ChatGPT, que tem como benefício a thread persistente. Não é uma conversa com início, meio e fim. É um diálogo infinito. Por isso, nós estamos vendo os movimentos dos aplicativos que têm sucesso no B2C, como um potencial canal para contatos inteligentes e estamos atentos. Se percebemos que isso virará tendência nos EUA, isso pode acelerar a nossa entrada lá, pois a Blip permite criar o contato inteligente e colocar em vários canais.
Com o avanço para os novos mercados, a Blip está com alguma meta de crescimento de receita ou volume de mensagens? Lembrando que vocês alcançaram 40 bilhões de mensagens trafegadas na plataforma no ano passado.
A nossa meta esse ano é crescer 40% em receita. O número de mensagem cresce mais que receita. Não definimos uma meta de mensagem, mas definimos a meta de receita.
E o IPO? Podemos esperar algo em curto prazo?
O IPO é uma das opções que temos. O mercado não está fácil e propício. E o IPO subiu a escala. Até pouco tempo atrás, uma empresa que faturava US$ 100 milhões conseguia facilmente fazer um IPO. Hoje não é mais assim. A escala precisa ser um pouco maior. O mercado fala em US$ 300 milhões. Portanto, nós temos um desafio de crescimento importante. Fechamos 2023 com US$ 150 milhões de ARR (receita anual recorrente) e esperamos chegar a US$ 200 milhões neste ano. Acredito que vamos chegar nos US$ 300 milhões mais rápido que imaginamos. Temos excelentes investidores, como o Warburg Pincus. Mas qualquer parceiro de private equity entra olhando o potencial de saída e por isso conversamos bastante sobre IPO e eles têm bastante experiência nisso. Outro fator que nos favorece é que vimos uma melhora de mercado como a QI Tech com a General Atlantic e a CRMBonus com a Bond e Valor Capital. Nós estamos percebendo que o mercado financeiro está retomando um pouco da qualidade. E isso nos deixa animados. E temos um projeto chamado IPO readiness (‘estar pronto para o IPO’, na tradução livre do inglês para o português) que está em rota e com isso, a partir do H1 (primeiro semestre) de 2025, se tivermos oportunidade e tomarmos a decisão como o melhor para a empresa e os acionistas, nós vamos considerar essa possibilidade (IPO).
Não é fácil. Há vários desafios de compliance e governança. Mas a expectativa é final do primeiro semestre. Estamos em rota. E tem o sincronismo da questão cíclica do mercado. Tem momentos que o mercado está eufórico e em outros está deprimido. Nós achamos que a depressão já passou, a tendência é recuperar. E, na hora que percebemos que o mercado estará mais favorável, nós teremos a possibilidade do IPO.
Como a Blip vê a recente abertura para empresas de tecnologia no arcabouço do BSP da Meta?
Nós temos uma visão bem clara sobre isso. Não sou broker. Não estou aqui para comprar e vender a API do WhatsApp. A nossa proposta de valor é entregar essa plataforma (Blip) que dá velocidade, flexibilidade e escalabilidade (às empresas e marcas). Nós adoramos o conceito dos tech providers, principalmente em empresas que têm outras plataformas, como CRM, que tem escala em determinados nichos. Nós temos o Blip Packs, uma solução que oferece para quaisquer empresas que tenha uma base de clientes e plataforma a construção de chatbots pré-configurados que fazem uso das integrações dessas plataformas para entregar experiência que faça sentido para os consumidores. Entregamos velocidade, flexibilidade e escalabilidade (com a Blip). E o modelo de negócios que propomos é de revenue share por meio da Blip Store. Portanto, nós chamamos todos os tech providers para criarem extensões da Blip e criarem Blip Packs para que possam levar a seus clientes. Não quero ensiná-los, pois eles conhecem o mercado em que atuam, mas estamos dispostos a fazer um compartilhamento de receita que faça sentido para todo mundo. Ou seja, nós esperamos que eles (tech providers) tenham a plataforma e a capacidade de go-to-market para o cliente deles. A proposta inicial é o 30% do modelo das lojas de aplicativos.
Das novas soluções do WhatsApp, uma delas que tem uma conexão direta com a Blip é a ligação de empresas por voz no WhatsApp? Como a companhia vê a chegada dessa solução ao mercado de mensageria?
É maravilhosa. Os dois casos apresentados até agora (Banco Pan e Claro) foram feitos em cima da Blip. Mas tem dois detalhes e a Meta está bem consciente disso. Primeiro, as marcas elas querem ser cuidadosas, pois não querem explosão de ligações vindas no WhatsApp no call center [no caso da Claro, as ligações são atendidas por uma equipe pequena dedicada de atendimento]. Uma das coisas que faz parte do projeto é poder permitir a ligação em momentos específicos. Ou seja, o app tem o botão para o cliente para fazer a ligação, mas também tem a capacidade de controlar o momento que a empresa está preparada para receber a ligação. A outra coisa é a possibilidade de a marca fazer ligação ativa, mas isso terá um controle do usuário. A marca vai perguntar para o cliente se ele pode receber a ligação. Será interessante, pois o que mais gosto no produto são inovações que não precisam mudar o comportamento do usuário. E os usuários já fazem a ligação de voz através do WhatsApp. Isso mostra que a nossa estratégia de contato inteligente está correta. As pessoas já estão trocando a mensagem com o contato, e agora podem usar o mesmo contato para fazer a ligação. O caso de uso principal vai ser o multimodal com o cliente fazendo a interação via chat e em determinado momento a pessoa passar para voz. Ou o contrário: começa na voz e muda para o chat, como ao pedir uma segunda via de conta.
Outra solução apresentada pela Meta que não teve tanto alarde foi o Pix no WhatsApp para médias e grandes empresas (antes estava apenas para pequenas). É uma solução que era aguardada pelo mercado, mas qual o seu potencial?
Não tenho dúvida que o Pix vai explodir dentro do WhatsApp. É o que o povo quer. Todo mundo prefere o Pix, pois ele cai na conta na hora. Em geral não tem taxa (interchange) e é melhor para a marca financeiramente e o usuário está acostumado. Mais uma vez, você não muda o comportamento (do usuário), e você alavanca aquilo que já existe trazendo inovação que fará com que o pagamento fará parte na conversa. Tudo isso são novidades que vão aumentando as possibilidades do que se pode fazer no contato inteligente. No médio prazo, as empresas poderão fazer a geração de demanda e toda a interação, inclusive com IA generativa e a transação em Pix, e tudo sendo otimizado de forma que gere um ciclo virtuoso para as marcas.
E os avanços da IA generativa dentro da Meta e mesmo dos rivais? Quais os potenciais que isso pode trazer para o mercado em curto e médio prazo?
Zuckerberg falou exatamente o que falo (há anos). Toda marca vai ter um contato inteligente. Só que ele falou como ‘AI Agent’. O AI Agent nada mais é que um contato inteligente, mas limitado, pois o contato inteligente pode ter pessoas e automações mais simples para intenção pré-definida (como clicar no botão dentro do WhatsApp Flow). Além disso, a Blip tem a possibilidade de ter AI Agent sendo orquestrado atrás do contato inteligente. E o LLama da Meta é interessante. Temos caso de uso com ele. Mas a nossa ideia é ter uma plataforma que seja agnóstica para poder usar o modelo que quiser, ou até um, dois, três ou quatro modelos ao mesmo tempo e a Blip se encarrega de otimizar a experiência. Por exemplo, um cliente nosso está usando em um pedaço do contato inteligente o GPT-4o para reconhecimento de imagem. Mas se usar o GPT-4o vai ficar inviável financeiramente. Por isso, nós estamos com uma camada de otimização econômica da experiência.
Como é a construção dessa jornada de otimização da experiência? Ela é agnóstica como o restante da plataforma, certo?
Mas não estamos criando o nosso LLM. A nossa plataforma tem três grandes pilares em IA generativa: otimização, no sentido de ser agnóstico, para melhorar latência e preço; governança de dados com tecnologia própria (Blip e Stilingue), antes de chamar uma API ou um LLM, nós tiramos qualquer dado sensível do texto que será enviado; e cada solução de IA generativa é uma nova forma de aplicação, com controle de versão, de acesso, gestão de time, rollout, rollback, teste A/B – coisas que têm no Blip e estamos trazendo para os AI Agents.
Acredito muito e temos conversado com as plataformas para as marcas assumirem as conversas. O que temos trabalhado e discutido com eles é o conceito da thread persistente nos aplicativos. Acho melhor essa conversa ser controlada pelas marcas, do que um funcionamento por plugin.
Imagem principal: Roberto Oliveira, CEO e cofundador da Blip (divulgação: Blip)