A chinesa ZTE é uma das maiores fabricantes mundiais de telefones celulares, oscilando nos últimos trimestres entre o quarto e quinto lugar em vendas, de acordo com diversos relatórios internacionais. Boa parte dessas vendas estão concentradas no mercado chinês, mas a empresa também faz sucesso nos EUA, onde é a segunda marca preferida entre usuários pré-pagos. No Brasil, seu negócio de handsets está adormecido há um ano e meio, depois de enfrentar algumas dificuldades quanto à produção local. Agora, a ZTE quer retomar a operação com handsets no País, desta vez com foco em uma categoria que chama de "premium acessível". Para tanto, promete investir em marketing para sua marca ficar mais conhecida e procura parceiros locais para a produção e a distribuição dos terminais no Brasil. Seu vice-presidente sênior de handsets, Yulun Kan, esteve no Rio de Janeiro esta semana para uma série de reuniões e conversou com MOBILE TIME.

MOBILE TIME – Qual é a estratégia da ZTE para a venda de celulares no Brasil?

Yulun Kan – Começamos a vender handsets no Brasil há muito tempo, mas um ano e meio atrás paramos, porque cometemos alguns erros nessa área e tivemos problemas com nossos parceiros anteriores. Agora queremos recomeçar esse trabalho no Brasil. Para tanto, conversamos com novos parceiros, operadoras, distribuidores e fabricantes. Está claro que precisamos ter produção local. Se uma companhia quer vender celulares no Brasil, a estratégia não pode ser de curto prazo, mas de longo prazo. É preciso investir no mercado. Para a ZTE, o Brasil é um mercado muito importante, com mais de 50 milhões de handsets vendidos por ano e que agora está migrando de feature phones para smartphones. Paralelamente, as operadoras lançaram serviços 4G e se inicia a migração de handsets 3G para 4G.

Quando vão retomar as vendas de celulares no Brasil?

A meta é relançar no ano que vem. Mas dependemos de encontrar um parceiro para a produção local e também fornecedores nacionais de componentes, que precisam ser certificados. Estamos trabalhando para voltar a vender aparelhos no primeiro semestre de 2015.

Quais componentes querem comprar de fornecedores nacionais?

Bateria, memória externa, carregador, cabos…  O chipset e a tela serão importados.

Quantos modelos pretendem lançar no Brasil ano que vem e em quais faixas de preço?

No máximo cinco modelos. E o foco será na categoria premium.

Estamos falando então de produtos entre R$ 1 mil e R$ 2 mil?

Temos modelos com performance melhor que o iPhone mas pela metade do preço. Chamamos essa categoria de "premium acessível". Sim, devem ser entre R$ 1 e R$ 2 mil. Esta semana lançamos nos EUA, por exemplo, o Zmax, um smartphone 4G de 5,7 polegadas. É como o iPhone 6 Plus, mas pela metade do preço.

E qual será a estratégia de distribuição? Vão trabalhar apenas com operadoras como faziam no passado ou tentarão a venda direta para varejistas no mercado open?

Trabalharemos meio a meio entre open e teles. Estamos conversando com distribuidores locais.  E teremos operação triangulada com operadoras também.

Antigamente, quando se pensava no mercado chinês de handsets, vinham à cabeça dois nomes: Huawei e ZTE. Agora apareceu um terceiro, a Xiaomi. Como está a competição em sua terra natal?

Na China há muitos outros competidores. É um mercado extremamente aberto. Há diversos fabricantes de pequeno porte. Qualquer um pode entrar no mercado chinês. E os preços são muito baixos. É difícil para os fabricantes… Às vezes você consegue ganhar participação, mas perde dinheiro. Em alguns casos, o objetivo é gerar receita com software ou serviços dentro do celular, não com a venda do aparelho em si. O foco da ZTE na China agora também está na camada premium. Antes nosso objetivo era fazer volume, ganhar market share. Decidimos mudar. Agora oferecemos diversos serviços pós-vendas, com ajuda de parceiros que vendem aplicações.

O segmento premium é muito sensível à marca. No Brasil, até mesmo marcas famosas de eletroeletrônicos como a LG encontram dificuldade de se firmar na faixa de preço mais alta. A ZTE ainda é desconhecida para a maioria dos brasileiros. Como lidarão com essa questão?

A marca é muito importante em produtos para o consumidor. O primeiro passo é ter um bom produto. E, depois, uma boa comunicação, para que o consumidor conheça a marca. Nosso alvo são os jovens. Eles pegam informações de diferentes meios. Muitos não leem jornais, nem veem TV, mas se informam pela Internet e redes sociais. Por isso, investimos em mídia digital.

Já definiram um orçamento de marketing para o ano que vem no Brasil?

Estamos discutindo isso internamente. A estratégia será a mesma adotada nos EUA e no México, centrando na comunicação pela Internet. Além disso, nos EUA somos patrocinadores de dois times de basquete da NBA, em Nova Iorque e Houston.

A ZTE vai patrocinar algum time de futebol brasileiro?

Talvez no futuro, mas não no próximo ano. Ou melhor: mais provável seria patrocinarmos um jogador brasileiro de futebol em vez de um time.

A ZTE é uma das fabricantes que aderiram ao projeto do Firefox OS para terminais de baixo custo. Esse sistema operacional vem sendo pressionado pelo Android, cujos preços estão cada vez mais baratos, vide a apresentação esta semana do Android One. Qual a sua avaliação do Firefox OS e as perspectivas para o seu futuro?

A maior parte do nosso portfólio é Android. Temos somente dois modelos com Firefox OS. Trabalhamos com algumas operadoras, como a Telefonica, para lançarmos o Firefox OS porque, em termos técnicos, ele é mais fácil de acessar a Internet e usar aplicações web, pois sua arquitetura foi desenhada para isso. O problema é que o ecossistema do Firefox OS ainda é muito fraco. Se comparado em apps, tem muito menos que Android e iOS. Precisamos de mais tempo para melhorar esse ecossistema. Mas vamos continuar apostando, sim, no Firefox OS.

Há planos de trabalhar com Windows Phone?

Não, porque não temos clareza sobre o que será do Windows Phone no futuro depois que a Microsoft adquiriu a Nokia. Será que vai se tornar um novo iOS?

Já pensaram em criar um sistema operacional próprio?

Sim, na China estamos desenvolvendo nosso próprio OS, com o objetivo de atender a certos nichos, como consumidores que demandam mais segurança. Ainda não temos um nome para o OS e nem sei quando ficará pronto. Será focado na gama média e em smartphones para o mercado chinês.

Qual a estratégia da ZTE para wearable devices?

Temos alguns produtos sendo desenvolvidos. Alguns competidores já entraram nesse mercado… Nós preferimos pesquisar um pouco mais. Sinceramente, um relógio que precisa ser carregado todo dia não é um relógio, não oferece uma experiência de relógio. Estamos pesquisando outros tipos de wearable devices.

Alguns apps criados na China começam a ganhar espaço fora dela, como o WeChat. A ZTE investe também no desenvolvimento de aplicativos móveis?

Temos um serviço na China que pensamos em exportar. É uma plataforma de e-commerce, mas diferente do usual: nela você pode usar seu smartphone para abrir uma loja virtual própria e vender seus produtos para os amigos. Este é o nosso principal app móvel na China.

Gostaria de compartilhar mais alguma informação com nossos leitores sobre a estratégia de handsets da ZTE?

O smartphone não é mais um telefone. Realizar chamadas é apenas uma de suas funcionalidades. As pessoas passam mais tempo olhando para a tela do que ligando. Nosso CEO disse que estamos mudando para sermos uma empresa "bacana, verde e aberta" (ou CGO, na sigla em inglês: "cool, green and open"). Agora em vários países temos parceiros locais, nossa cultura está mais aberta, e mais horizontal em estrutura, como as companhias de Internet, para avançarmos mais rapidamente.

 

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