A WND está há pouco mais de um ano em um esforço concentrado para desenvolver modelos, parcerias e soluções para Internet das Coisas, e a empresa espera começar a ver os frutos a partir do começo de 2019. “O tempo de maturação dos projetos é de cerca de 18 meses, e já andamos dois terços disso”, disse Alexandre Reis, COO da empresa, em entrevista a este noticiário. Mesmo focada nestas parcerias, a expansão da rede mostra números relevantes: cobertura de 120 milhões de habitantes (chegando a 150 milhões no final do ano), presença da rede em todas as capitais e 260 cidades com mais de 200 mil habitantes, cobertura quase total no Mato Grosso para aplicações em agricultura, cerca de 70 parcerias e 31 empresas desenvolvendo soluções de dispositivos no Brasil. “O ano de 2019 deve ser o grande ano de Internet das Coisas no Brasil”, diz Francisco Cavalcanti, CEO da WND, que será a responsável apenas pela conectividade destes projetos, cabendo os demais aspectos como cobrança, atendimento e desenvolvimento de produtos aos parceiros e seus respectivos clientes. A operadora provê conectividade com a tecnologia da Sigfox, que também é sua principal investidora. Os perfis de projetos que devem ser anunciados assim que estiverem operacionais vai desde aplicações para logística, utilities, segurança e agricultura. Mas a pergunta é: por que estas parcerias ainda não estão sendo divulgadas? Alexandre Reis explica que o desenvolvimento dos projetos é complexo porque em muitos casos precisaram ser desenvolvidos de ponta a ponta, desde a concepção da aplicação até o desenvolvimento de sensores e módulos específicos.
“Muitas empresas, quando entendem o potencial do IoT, inclusive mudam o seu modelo de negócios”, diz Reis. Fernando Cavalcanti diz que as áreas de utilities, segurança, transporte e logística devem ser as primeiras a tornarem públicas suas iniciativas. “A nossa primeira vertical foi agro, mas nem deve ser o nosso primeiro cliente público”, diz Reis. Neste setor especificamente, existem muitas variações de modelos e necessidades, e por isso o desenvolvimento é mais lento, ainda que a demanda seja muito grande. “O grande desafio do mercado agro para IoT é agregar escala que justifique investimentos”, diz Alexandre Reis. Com a perspectiva de início das operações dos parceiros em 2019, utilizando a rede da WND, o foco da empresa deve ser ampliado. Se até aqui estava centrada no desenvolvimento das verticais e parcerias para fortalecer o ecossistema, agora haverá uma parte considerável dos esforços dedicados aos aspectos operacionais. A WND está se expandindo de dois escritórios atuais para seis até o começo de 2019.
Tributos
Hoje a empresa não vê entraves críticos ao seu negócio, ao contrário das grandes empresas de telecomunicações, que apontam a carga tributária como um risco real ao desenvolvimento das soluções de IoT no Brasil. No caso da WND, a empresa opera em espectro não-licenciado em 900 MHz e não precisa ser autorizada pela Anatel para serviços de telecom. Como não há outorga, o serviço não é considerado de telecomunicações, então a tributação é pelo ISS, e tampouco existe o pagamento de Fistel. “A única coisa que pode nos atrapalhar é se isso mudar e formos classificados como operadores de telecomunicações. Também temos uma questão que é o processo de homologação dos equipamentos pela agência e o custo de importação de equipamentos”, diz Cavalcanti. Mesmo com estas dificuldades, a empresa já diz ter 11 equipamentos certificados pela Anatel para operar em sua rede e os demais em fases de testes, totalizando 31.
Concorrência
Um fato novo na vida da WND é a chegada dos concorrentes, com redes LoRa, Nb-IoT e LTE Cat-M. “A concorrência é uma coisa boa porque vai ajudar a desenvolver o ecossistema e estimular os mercados verticais a olharem para Internet das Coisas”, diz Cavalcanti. Mas Alexandre Reis está confiante na equação de preços e na vantagem competitiva que a WND alega ter. “Nenhuma outra tecnologia hoje permite um custo de conectividade de menos de US$ 1 por ano ou dispositivos de US$ 2,60, como temos”, diz.
Mas a WND tem sentido dificuldades junto aos parceiros para investimentos em produção de grande escala, e por isso preparou o fundo de US$ 30 milhões para fomentar estes parceiros a produzirem localmente.
Em relação à concorrência das grandes empresas de telecomunicações, com muito mais capital, a WND mostra um outro posicionamento. “O mercado que nos interessa não é o das telcos, mas o imenso mercado de sensores. Isso não significa que a gente não esteja aberto a conversar com as operadoras de telecomunicações e desenvolver projetos conjuntos”, diz Reis.
A expansão da WND no Brasil está em linha com uma expansão territorial da empresa em outros países. A Sigfox estava em oito países há dois anos, e deve fechar 2018 com presença em mais de 60. “Hoje, na faixa de equipamentos low-power, certamente temos a liderança”, diz Alexandre Reis.