Um teste da ONG Global Witness revelou que o Facebook aprovou 87% das tentativas de ações publicitárias com termos danosos à democracia brasileira, entre eles de ameaça de morte ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, convocação das massas ao uso de armas e depredação de objetos públicos.
Feita no dia 12 de janeiro, a campanha teste (que não foi veiculada) teve a aprovação do Facebook em 14 de 16 ações publicitárias com conteúdo malicioso em português. Ou seja, a ONG constatou que quatro dias após os ataques do dia 8 de janeiro, o Facebook ainda estava com falhas na proteção contra discursos de antidemocráticos e de ódio no Brasil.
Procurada pelo Mobile Time, Meta disse em nota:
“Esta pequena amostra de anúncios não é representativa de como aplicamos nossas políticas em escala. Conforme divulgamos anteriormente, antes das eleições brasileiras do ano passado removemos centenas de milhares de conteúdos que violavam nossas políticas de violência e incitação e rejeitamos dezenas de milhares de submissões de anúncios antes de eles rodarem. Usamos tecnologia e equipes para ajudar a manter nossas plataformas protegidas contra abusos e estamos constantemente aprimorando nossos processos para aplicar essas políticas de forma ampla”.
Importante dizer, a resposta foi a mesma dada para a Global Witness.
Seriedade
Embora a Meta tenha afirmado que o teste realizado tem uma amostra insuficiente, os investigadores da Global Witness fizeram o mesmo teste com o YouTube. Como resultado, a plataforma de vídeos do Google não só rejeitou todas as tentativas de publicidade maliciosa, como bloqueou a conta que tentava sua veiculação.
“É difícil ter alguma confiança de que o Facebook tomará alguma ação necessária para combater a desinformação e o discurso de ódio em sua plataforma. Apesar das promessas de que eles levariam esse assunto com seriedade, os nossos investigadores expuseram diversas falhas”, disse, Naomi Hirst, digital threats campaign leader da Global Witness. “Antes, durante e depois das eleições no Brasil, nós mostramos o quão fácil era aprovar no Facebook conteúdos que incitam violência, desinformação e ódio”, concluiu.
Plataformas x democracia
Embora o YouTube tenha passado no teste, Hirst acredita que o cenário das redes sociais mostra que a democracia está sob risco, uma vez que as suas empresas estão falhando em conter a onda de divisão e violência que cresce na web.
“Nós não acreditamos que as redes sociais estão fazendo o suficiente para evitar a degradação da democracia em suas plataformas”, disse Naomi Hirst, digital threats campaign leader da Global Witness. “Acreditamos que todas as redes sociais precisam ser transparentes sobre seus protocolos para proteger as eleições, os direitos e a segurança dos usuários, em qualquer lugar do mundo”, completou.
Como exemplo de melhoria, a especialista espera ver nessas plataformas regras baseadas em direitos humanos e transparência em relação aos seguinte tópicos:
- ao design e aplicação das políticas de moderação de conteúdo;
- à capacidade de moderação de conteúdo em todos os idiomas relevantes;
- aos gastos realizados nessas políticas.
“Gostaríamos de ver (as empresas) criando protocolos de crise e probabilidade de riscos em todos os níveis, de forma que previnam e reduzam potenciais danos. Especificamente, esperamos que essas plataformas melhorem a moderação de conteúdo durante uma emergência de direitos humanos e tomem decisões que reduzam a expansão e viralidade de conteúdos perigosos, violentos e de ódio, em momentos de crise”, completou.