Para players da cadeia de conectividade indoor, novos modelos de negócios que viabilizem infraestrutura de conectividade no interior de estabelecimentos como shoppings e estádios precisam ser desenvolvidos, como forma de dividir o peso dos investimentos entre as empresas de telecom e os próprios empreendimentos.

Essa foi a avaliação de operadoras de infraestrutura e de fornecedores de equipamentos presentes em debate no segundo dia do Fórum de Operadoras Inovadoras, realizado nesta quarta-feira, 19, por Mobile Time e Teletime, em São Paulo.

“A conectividade indoor é uma necessidade ou uma fonte de receita? Essa é a discussão que temos feito com empreendimentos”, resumiu o CTO da operadora de infraestrutura IHS Latam, Antonio Maya. Segundo ele, projetos de conectividade indoor têm sido executados “no limite” pelo setor, que por regra precisa remunerar os empreendimentos com um aluguel pela colocação da infraestrutura.

“Precisamos de soluções onde o próprio empreendimento possa fazer a contratação, porque hoje fica tudo em cima das operadoras”, concordou o diretor de mobile solutions da V.tal, Rodrigo Viégas. A empresa passou a apostar recentemente nos sistemas indoor de antenas distribuídas (DAS, na sigla em inglês). Foi o caso de projeto da V.tal na Ligga Arena, em Curitiba.

Já na IHS, redes com infraestrutura DAS da empresa estão presentes em aeroportos (como o Afonso Pena, também em Curitiba), shoppings centers (em mais de 90 empreendimentos), estádios de futebol, hospitais e linhas de metrô. Em São Paulo, a empresa ativou conectividade indoor em quatro estações da linha 5 do Metrô, em projeto que deve escalar nos próximos meses.

Essa diversidade de empreendimentos que exigem conectividade indoor pode ser uma oportunidade de virada rumo a novos modelos. Segundo Viégas, da V.tal, hospitais são um exemplo de segmento que começa a entender a nova equação, dado o benefício que a cobertura indoor pode trazer ao habilitar novas tecnologias médicas. No outro extremo estão shoppings, que veem projetos do gênero como linha de receita adicional.

Também fazem parte do cenário outros tipos de empreendimentos, como hotéis ou rodoviárias. Segundo Maya, da IHS, o Brasil ainda não realizou nem 20% da conectividade indoor que seria necessária no país, sendo que nos projetos realizados, a atualização tecnológica também se faz necessária – sendo inclusive uma oportunidade para a renegociação de contratos.

Fornecedores para conectividade indoor

O cenário de divisão de custos também é encarado com atenção por fornecedores da cadeia de DAS – como a Telesys, que distribui equipamentos da chinesa Baicells no País.

“Há sempre três partes: o dono do espaço, o gerenciador ou dono da infraestrutura e as operadoras [que prestam serviço ao consumidor final]. Muitas vezes definir interesses comuns não é fácil”, reconheceu o sócio-fundador da Telesys, Marco Szili. Para ele, tais desafios comerciais derivam de uma aversão ao risco por parte dos empreendimentos.

Já para Gustavo Kretschmer, vice-presidente de vendas na América Latina da Sunwave, é hora de trazer modelos de fora para o mercado brasileiro, como forma de que não seja apenas o setor de telecom a pagar a conta da infraestrutura indoor. “Na Europa, as tower companies não têm apenas quatro clientes [as operadoras móveis], mas milhares de venues [locais]”, afirmou.

Outro ponto – mencionado pela Sunwave e também destacado pela IHS – é a oportunidade de realizar projetos indoor com perfil “multioperadoras”. Isso permitiria reduzir os custos a partir do compartilhamento de todos os equipamentos de rede entre diferentes teles. Já a Telesys é mais cética com o modelo, por conta de um “ranço” que ainda existiria entre as operadoras móveis diante desse compartilhamento completo no ambiente indoor.

Wi-Fi

Além do DAS, há um outro componente importante no cenário da conectividade indoor: as redes Wi-Fi. Em sua maioria, os especialistas presentes no debate afirmaram acreditar na complementaridade entre as duas tecnologias (Wi-Fi e 5G), que podem ser usadas para diferentes fins em um mesmo estabelecimento.

Representando a cadeia Wi-Fi, o diretor de engenharia da Linktel, André Ferreira, mencionou que a empresa soma hoje 12 mil hotspots da tecnologia espalhados em diferentes tipos de empreendimentos, como linhas de trem, shoppings, cafés, aeroportos e supermercados pelo País.

Também aqui a necessidade de atualização tecnológica é constante, dadas as mudanças no perfil de consumo do usuário final. “Temos que tomar cuidados para não gerar insatisfação nos clientes”, afirmou Ferreira, citando também desafios técnicos como interferências no sinal.

Neste sentido, projetos que utilizam tecnologias mais modernas de Wi-Fi como o Wi-Fi 6 e o Wi-Fi 6E têm crescido no segmento corporativo, aponta a provedora. A Linktel também aposta no Wi-Fi 7, sobretudo quando a esperada popularização de celulares com a tecnologia ocorrer, indicou Ferreira.

 

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