Sensação tecnológica dos últimos anos, a Inteligência Artificial (IA) vem ditando as diretrizes de investimentos das empresas e um grande recurso de inovação embarcado em dispositivos como smartphones e notebooks. Contudo, o setor de telecomunicações – essencial para o pleno funcionamento da tecnologia por conectar usuários, aplicações e data centers – ainda mantém um “papel coadjuvante” na adoção da IA em seus negócios.

É o que avaliaram especialistas da área durante um painel do Fórum de Operadoras Inovadoras, evento realizado por Mobile Time e Teletime nesta quarta-feira, 19, em São Paulo.

Gabriel Codo, sócio e líder em Tecnologia, Mídia e Telecomunicações (TMT) da McKinsey, destacou que 50% das empresas de telecom ainda não veem valor na adoção da IA, com base em uma pesquisa global recente da consultoria. Ainda assim, 60% dizem que têm algum caso de uso em andamento, sendo a maioria relacionada a processos internos, como atendimento e backoffice.

De acordo com Codo, operadoras e provedores de serviços de Internet (ISPs) podem explorar a IA de pelo menos três formas: melhorar procedimentos internos; atrair serviços corporativos, como incluir GPUs em estações rádio base (ERBs) para facilitar o processamento de dados ou atuar no mercado de edge data centers; e lançar aplicações para o consumidor final.

“O pouco que se vê diz respeito a relacionamento com o cliente e redução de custos. Ainda há pouco uso na cadeia de infraestrutura de dados e na parte da oferta de serviços”, resumiu o executivo da McKinsey.

Complementando essa avaliação, Henry Douglas Rodrigues, gerente executivo do xGMobile do Inatel, recordou que a própria McKinsey projeta a adição de US$ 15 trilhões à economia mundial por meio da IA até 2030.

Todavia, a GSMA, associação global de operadoras, estima um número muito mais modesto quando se trata de benefícios da IA para a cadeia de telecom: US$ 600 bilhões em 20 anos. “Dá para ver que o setor de telecom é coadjuvante no campo da IA”, pontuou.

Rodrigues ainda ressaltou que as empresas de telecomunicações não podem se limitar a ser o “meio de solicitar ao algoritmo e receber [a informação] de volta, sem agregar valor”. Segundo ele, as redes 6G devem ser altamente baseadas em IA, o que vai potencializar casos de uso de cidades inteligentes e sensoriamento.

“A curto e médio prazos, aplicar IA internamente para servir melhor o cliente e otimizar o retorno do negócio. No longo prazo, apostar em edge computing e novas aplicações”, sugeriu.

Infraestrutura e aplicações

Na avaliação do CDO da Claro, Rodrigo Duclos, a IA pode ser usada em telecom para resolver um dos maiores desafios do setor: a redução de custos operacionais. Além disso, ele destacou que a operadora busca implementar soluções que possam ser usadas pelos consumidores.

“Por exemplo, temos um business de TV muito grande. Então, se trata de como usar a tecnologia para facilitar que o cliente encontre o que lhe interessa”, apresentou como opção. “Se usarmos mais a tecnologia na camada de aplicação, vamos ajudar o cliente a tirar mais do dinheiro que ele está pagando pelo serviço”, complementou.

Nesse sentido, Duclos ainda asseverou que “o desafio é não ficar só na infraestrutura, mas subir [a tecnologia] na cadeia de valor”.

Já Gerson Freire, diretor de Arquitetura para Enterprise da Dell, apontou que as operadoras podem criar uma nova vertical de receitas com IA se aproveitando da extensão de suas redes. Neste caso, trata-se de usar a infraestrutura de telecom para dar suporte à computação de borda, tecnologia que permite processar dados em ambientes mais próximos à aplicação, o que reduz a latência da operação.

“Quando falamos de novos serviços com IA, é fundamental que a resposta seja dada da forma mais rápida possível. O edge computing é fundamental, com a aplicação funcionando dentro da infraestrutura e entregando serviços avançados, como saúde, carro conectado, monitoramento e segurança. Isso tudo tem a necessidade de uma infraestrutura distribuída”, salientou Freire.

Foto: Marcos Mesquita

 

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