O Telegram passará a ter mensagens patrocinadas dentro dos canais que tenham mais de 1 mil participantes. A proposta é de que a ferramenta sirva para promover outros canais e bots que existam dentro do Telegram. A receita servirá para cobrir os custos operacionais da plataforma e será dividida com os donos dos canais. A novidade não está aberta a todos ainda, seguindo em teste. A notícia foi dada pelo criador do aplicativo, Pavel Durov, em seu próprio canal no Telegram.
As mensagens patrocinadas serão limitadas a 160 caracteres de texto e não conterão nenhuma mídia ou link externo. Elas só serão exibidas uma vez para cada usuário dentro de cada canal e somente depois de ele ter lido todas as publicações novas. E o mais importante: dados pessoais dos participantes não serão compartilhados com os anunciantes. A ideia é que as mensagens publicitárias se refiram ao mesmo tema do canal onde forem exibidas.
“Estamos ajustando algo que já acontece. Alguns administradores de canais no Telegram já publicam anúncios na forma de mensagens regulares. Esperamos que as mensagens patrocinadas ofereçam uma forma mais amistosa e menos caótica para as pessoas promoverem seus canais e bots”, escreveu Durov.
O executivo aproveitou para alfinetar o rival WhatsApp. “Com o Telegram você está mais livre de anúncios que no WhatsApp. O WhatsApp já compartilha dados dos usuários com anunciantes, mesmo que eles não esteja aberto para anúncios. No Telegram, ao contrário, os anunciantes nunca verão os seus dados privados. Além disso, se você usar o Telegram da mesma forma que usa o WhatsApp, você nunca verá um único anúncio. Mensagens patrocinadas só aparecem dentro de canais, esta funcionalidade de networking única que o Telegram lançou anos atrás. Se o WhatsApp lançar uma funcionalidade similar, é bem provável que também abra para publicidade, como sua holding já faz dentro do Instagram e do Facbook”, escreveu Durov.
“Publicidade digital não deveria nunca mais ser sinônimo de abuso da privacidade do usuário. Gostaríamos de redefinir como uma empresa de tecnologia deve trabalhar, servido como exemplo de uma plataforma autosustentável que respeita seus usuários e seus criadores de conteúdo”, concluiu o executivo.
Análise
O lançamento de mensagens patrocinadas deve ser analisado em conjunto com outra ferramenta recente do Telegram: a de pagamentos. Através desta última, é possível gerar uma ordem de pagamento integrada com um dentre 12 gateways de pagamento internacionais conectados à API do Telegram. A ordem de pagamento é criada na forma de mensagem, dentro de uma conversa, e pode ser disparada por um bot em um grupo ou canal.
A partir do momento em que donos de canais podem monetizar diretamente dentro do Telegram, faz sentido que queiram também pagar para divulgá-los dentro da plataforma, através de mensagens patrocinadas.
No Brasil, o Telegram está instalado em 53% dos smartphones brasileiros, de acordo com a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre mensageria móvel. O app cresceu 34 pontos percentuais em dois anos: estava em apenas 19% dos smartphones em 2019. E 45% dos usuários do Telegram declaram que abrem o app todo dia ou quase todo dia. Para efeito de comparação, o WhatsApp está instalado em 99% dos smartphones nacionais e 95% dos seus usuários o abrem todo dia ou quase todo dia.
O Telegram reúne grupos e canais sobre os mais diversos assuntos, sejam produtos, marcas ou celebridades. O canal do presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, é um dos maiores do mundo, com mais de 1 milhão de participantes. Para efeito de comparação, o canal de Lula, seu provável rival nas próximas eleições presidenciais, tem apenas 45 mil. Isso não reflete a popularidade real dos dois políticos, mas uma diferença de estratégia de comunicação digital. Ao contrário de Lula, Bolsonaro tem se esforçado para levar sua audiência para dentro do Telegram, onde encontra mais liberdade para divulgar suas mensagens, sem risco de ser censurado, como tem acontecido em outras plataformas que combatem a proliferação de fake news.
Com a chegada de mensagens patrocinadas no Telegram, o canal de Bolsonaro, em razão do tamanho da sua base de inscritos, tem potencial para ser um dos maiores beneficiados na divisão da receita.
Falta, contudo, entender mais detalhadamente como funcionará essa ferramenta de publicidade. O dono do canal poderá decidir se quer ou não abrir para publicidade? O anunciante poderá escolher o canal? Quanto custará cada campanha? Qual percentual ficará com os administradores dos canais? Tudo isso ainda precisa ser divulgado pelo Telegram.