O vice-presidente executivo da HPE Aruba Networking, Phil Motram, acredita que o Brasil tem cenário apropriado para o uso do 5G privativo devido à natureza das empresas locais. Em conversa recente com Mobile Time durante sua estadia no Brasil, o executivo explicou que as redes privativas de quinta geração são ideais para grandes companhias e que precisam de alta velocidade de rede.

Motram também conversou com este noticiário sobre as recentes aquisições da HPE, como a compra da Athonet, que trouxe avanço em redes privativas, e a expectativa da conclusão da aquisição da Juniper Networks, que deve ser aprovada até o final deste ano, e traz uma camada extra de inteligência artificial à implementação e ao provisionamento de rede.

MOBILE TIME – Como está a demanda do mercado para os equipamentos de rede hoje?

Phil Motram – As demandas de redes ocorrem em fases. Nós vimos muita demanda após a Covid-19, com os funcionários voltando ao escritório. Isso trouxe muitos investimentos. E teve a crise global de supply chain. Com isso, nós tivemos muita demanda dos clientes e levamos entre 18 meses e dois anos para cumprir esses pedidos. Portanto, nós estamos em um período mais quieto que os dois anos anteriores. Mas começamos a ver a demanda começando a voltar com melhorias em nossos resultados trimestre a trimestre.

Como vocês estão indo ao mercado para atender essa demanda que começa a voltar nas empresas?

Estamos focando em redes privativas 5G, além de IA e segurança para os nossos clientes. Nós acreditamos que essas são as tecnologias mais empolgantes no momento. Nós vemos muitas ameaças de segurança no mundo afora e os atacantes tentam comprometer as redes (de empresas e governos). Por isso é importante para os clientes atuarmos com segurança inserida em todas as nossas ofertas. A outra coisa é a inteligência artificial. Nossos clientes corporativos querem saber como podem investir em IA e usar essa tecnologia para fazer seus negócios mais eficientes. E quando as companhias montam seus arcabouços de IA, elas precisam de redes de alta velocidade para construir soluções de inteligência artificial. A outra tecnologia que vemos com importância no mercado é redes privativas 5G.

Sobre redes privativas, como vocês estão desenhando a oferta da HPE? E qual a importância delas para as empresas de sua carteira?

Motram – Esta é uma tecnologia que é importante para os nossos consumidores. Ela traz oito vezes mais cobertura outdoor, se comparado com o Wi-Fi. Também é bom para altas velocidades quando há configurações que pedem muita velocidade de banda, as redes celulares tendem a ser melhores que Wi-Fi. O outro ponto é que rede privativa é eficiente para áreas com dificuldade de acesso, com grandes plantas fabris. Por isso compramos a Athonet e que nos deixa empolgados com as redes privativas. Hoje é aplicável em empresas, grandes armazéns, portos, plataformas de óleo e gás, minas. Pense em tudo que é grande e industrial. São nesses ambientes que o 5G privativo é importante. Hoje, o que estamos tentando fazer é tornar fácil para as empresas comprarem e consumirem as redes privativas como já foi feito com o Wi-Fi. Colocamos isso integrado com o Aruba Central e isso permite aos nossos consumidores implementarem as redes 5G privativas do mesmo modo que fazem o deployment e a gestão do Wi-Fi. Ou seja, a instalação fica muito mais fácil para os clientes.

Um exemplo que vocês tiveram neste ano em redes privativas foi a Ryder Cup (um dos principais torneios de golfe do mundo). Como foi a experiência de atender esse público de grandes eventos? Deu para colocar essa tecnologia à disposição do público?

Motram – Uma das coisas mais importantes que tivemos ao construir uma rede privativa 5G para a Ryder Cup em Roma, Itália, é, se qualquer pessoa/empresa escavar em Roma e atingir um sítio histórico, a prefeitura não deixa você cavar mais, pois precisa saber o que essa localidade subterrânea representa. Por isso é difícil para as pessoas construírem redes. Construímos, então, um backbone da rede privativa 5G para conectar todos os buracos no campo de golfe em Roma o que permitiu à equipe da Ryders Cup implementar sua rede. Isso para um campeonato de golfe que dura três dias e tem 250 mil espectadores nesse período. Para atender a demanda do campeonato, fatiamos uma parte da rede para esse público e outra para jogadores, segurança, catering – todo o estafe. Foi tudo muito intenso em termos de requisições de rede. E esta rede privativa 5G foi construída com a nossa tecnologia.

Tem outro caso de uso de redes privativas 5G?

Motram – Temos também casos com os dois aeroportos de Paris, o Charles DeGaulle (um dos maiores do mundo) e o Orly (o segundo maior de Paris). Ambos usaram a nossa tecnologia para implementar redes privativas 5G. Eles queriam segmentar as redes, portanto, uma parte da rede foi usada para os passageiros, uma segunda fatia para as companhias aéreas e uma terceira para segurança e aduana.

E no Brasil? Como vocês estão trazendo as redes privativas com 5G? Já tem testes?

Motram – Nos locais que temos grandes clientes que estão interessados em usar redes privativas 5G, queremos nos sentar com eles para desenvolvermos juntos testes e pilotos. Essa tecnologia é interessante. Alguns estudos interessantes que vemos mundo afora (e que podem ser feitos no Brasil) são aqueles com militares e a defesa civil. Em algumas forças de segurança ao redor do mundo, o que elas querem é o uso de 5G privativo em zona de guerra ou área de conflito. Neste caso, um soldado usaria uma mochila com um equipamento de rede 5G privativo que poderá se conectar com os demais soldados no terreno. Em defesa civil, nós vemos a aplicação para situações de desastre e emergência, como um terremoto em que pessoas podem ficar presas em prédios, o 5G privativo pode ser usado para se conectar com elas. Além disso, achamos que é bom para clientes de logística (portos, centros de distribuição), manufatura, óleo & gás, energia, áreas de floresta (celulose). Portanto, estamos empolgados com a tecnologia e seu uso no Brasil, devido aos tipos de indústrias que existem aqui.

Para construir esse arcabouço de serviços, a HPE tem feito grandes aquisições nos últimos anos. Como essas aquisições têm ajudado no desenvolvimento do portfólio de redes e atração de clientes?

Motram – Sim. Nós completamos uma série de M&A recentemente. A primeira delas foi Athonet que fornece redes privativas para clientes em todo mundo. A segunda companhia foi a Axis Security, uma empresa que oferece o Secure Services Edge (SSE), pois acreditamos que segurança e redes estão ficando juntas, que é o framework SASE (Secure Access Service Edge). Esse arcabouço que tem cinco componentes, dois em redes (SDWAN e network firewall) e segurança (ZTNA, SWG e CASB), a Access Security tinha o SASE e por isso compramos eles. A aquisição terminou ano passado. Mas a grande aquisição que estamos esperando a conclusão é a da Juniper Networks, que deve terminar no final do ano. Juniper traz para nós grandes capacidades, em termos de pessoas, eles têm 12 mil empregados, sendo que 5 mil engenheiros. E a Juniper tem feito investimentos em IA. Eles têm uma plataforma chamada Mist AI para gerenciamento de redes. Mas também têm tecnologias para clientes que querem construir soluções de IA que são importantes para a HPE de forma mais ampla. Isso em um momento que estamos vendo muita demanda por inteligência artificial dos desenvolvedores de modelos até governos no mundo todo. E, em algum ponto, veremos demandas por empresas e é isso que a HPE está olhando e por isso compramos a Juniper Networks. Portanto, compramos companhias com capacidades únicas que vão completar o nosso portfólio e ajudar nossos clientes a crescerem em seus negócios. Portanto, tentamos conectar todas essas compras que fizemos em nossa plataforma HPE Greenlake.

Com tudo isso na bandeja da HPE, como vocês juntam tudo isso e oferecem ao mercado?

Motram – A resposta é bem simples. Com o HPE Greenlake. O cliente da HPE acessa essa plataforma e nela existem várias tecnologias disponíveis, como computação, armazenamento e redes. Se for provisionamento e gerenciamento de rede, por exemplo, o cliente usa a Aruba Central que está no mercado há 12 anos. Fizemos vários investimentos na plataforma da Aruba e mais recentemente, adicionamos IA na plataforma para podermos olhar a rede com diversos terminais e observar comportamentos que parecem anormais. O motivo para isso é que, em um mundo com várias ameaças de segurança às empresas, os hackers vão mirar dispositivos antigos em redes corporativas, em especial os aparelhos de Internet das Coisas. Portanto, se alguém ataca um dispositivo IoT, a plataforma da Aruba Central vê e alerta o cliente.

OpenRAN está no radar de vocês?

Motram – Sim, está no nosso radar. Nós ajudamos vários clientes com a implementação do OpenRAN ao redor do planeta. Nós temos soluções em hardwares que permitem adaptar plataformas de computação para se adequar às configurações de empresas que querem implementar o RAN (aberto). E temos software para OpenRAN que permite o provisionamento e gerenciamento de redes de RAN abertas. Temos uma parceria com a Verizon neste segmento que apresentou dados no começo do ano (130 mil RANs abertos foram instalados nos EUA, segundo material de divulgação em fevereiro).

Quais são os próximos capítulos para HPE?

Motram – Agora, o nosso foco no momento é concluir a aquisição da Juniper Networks. Essa compra muda o jogo, pois acreditamos que os clientes historicamente não possuem muitas escolhas em redes. Só tem um player com um leque de ofertas amplo e acreditamos que essa aquisição trará um portfólio completo para as empresas implementarem soluções de rede, em especial no mundo guiado pela inteligência artificial.

Imagem principal: Arte de Nik Neves para Mobile Time

 

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