|Publicado originalmente no Mobile Time Latinoamérica| A América Latina é uma região estratégica para a Motorola, na qual a marca atua há quase 30 anos e possui fábricas no Brasil e na Argentina. Com forte atuação na faixa intermediária de smartphones com a linha g, a companhia tem obtido bons resultados também no segmento premium, com a aposta em modelos dobráveis. Em entrevista para Mobile Time, o presidente da Motorola para a América Latina, José Cardoso, demonstra otimismo com o mercado de smartphones na região em 2024, mas critica o avanço do mercado cinza e reconhece que falta uma aplicação que gere demanda pelo 5G.

Mobile Time – Poderia descrever quais serão as prioridades estratégicas da Motorola para  smartphones na América Latina em 2024?

José Cardoso – Para 2024, a Motorola espera seguir crescendo no segmento premium com as famílias Edge e a linha Razr, com produtos dobráveis. Na América Latina, alcançamos ativações recordes de nossas famílias Edge e Razr, refletindo um crescimento de +13% em termos anuais e de +40% em relação ao trimestre anterior.

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José Cardoso, presidente da Motorola na América Latina

Também estamos focados em trazer inovação e experiências em Inteligência Artificial. A Motorola vem incorporando, há muitos anos, recursos de IA em muitas áreas de nossos dispositivos, como câmera, bateria, tela, além de desempenho do dispositivo. A  experiência moderna dos smartphones está passando por uma mudança transformadora, com a IA no centro, servindo tanto como assistente pessoal quanto como ferramenta para melhorar as tarefas diárias, o desempenho e criar experiências mais significativas para os nossos consumidores.

Traçamos parcerias estratégicas ao longo dos anos, como aquela com a PANTONE. Lançamentos de produtos com estratégia de cores sob a consultoria da PANTONE tem surpreendido o consumidor, com opções antenadas às tendências da moda e do design do mundo fashion. Esta parceria, que chega ao seu segundo ano e inclui a exclusividade mundial na indústria de telefonia móvel, incluiu a Cor do Ano, que em 2024 vem representada pela cor Peach Fuzz. A Cor do Ano, por exemplo, estava disponível inicialmente no portfólio premium da empresa. Dentro da visão de democratizar a tecnologia, as experiências e também o design, a Motorola trouxe Cor do Ano Pantone Viva Magenta para a família moto g.

A ampliação de serviços oferecidos pela Motorola também vem ganhando espaço. No fim de 2022, em uma iniciativa inédita no Brasil, a Motorola anunciou a primeira conta digital do mundo integrada a um smartphone: o Dimo, que tem o objetivo de conectar pessoas às suas vidas financeiras, oferecendo uma conta fácil de usar, segura e livre de tarifas de manutenção. E como uma recente novidade, lançada em fevereiro deste ano, o Dimo apresenta o cartão de crédito sem anuidade e sem análise de crédito: é aprovado na hora e vem com diversos benefícios e facilidades, unindo o melhor que um banco em parceria com um fabricante de smartphones pode oferecer.

Em B2B, também tivemos muitas novidades que seguem como prioridades para 2024. Há um ano, a Motorola lançou a área Motorola for Business, com soluções para o mercado corporativo, incluindo smartphones, tablets e serviços, para atender empresas de todos os portes e setores. A novidade foi uma iniciativa global e está presente em seis países, incluindo Brasil, México, Argentina, Colômbia, Peru e Chile. Como uma das soluções personalizadas, apresentamos o MotoTalk, ferramenta de ‘Reconhecimento por Imagem’, que permite identificar e contar a quantidade de mercadorias em prateleiras por meio de Inteligência Artificial e que também planeja rotas comerciais para otimização de tempo dos times de campo.

O mercado mundial de smartphones começou a dar sinais de melhora no fim do ano passado. E na América Latina: quais as perspectivas da Motorola para 2024 em smartphones? Quais fatores podem impactar positivamente ou negativamente as vendas de smartphones na região este ano? Por quê?

A América Latina é um dos principais mercados para a Motorola. A região é bastante desafiadora, com condições macroeconômicas altamente variáveis, mas nossa habilidade de adaptação contribui para nosso crescimento. Além disso, a Motorola tem um compromisso de longo prazo com a região. Em alguns mercados, como no Brasil, estamos presentes há quase 30 anos. E é justamente por conta desta relação que a América Latina responde pela maior participação de mercado da Motorola no mundo.

Vamos continuar a democratização do acesso à tecnologia de ponta para o maior número de consumidores, trazendo recursos de aparelhos premium para produtos com preços da categoria intermediária.

Estamos otimistas que 2024 será um ano de retomada do crescimento do mercado de maneira geral.

O lançamento das redes 5G na região, por exemplo, está gerando o retorno desejado em vendas de smartphones? Por quê?

A implementação das redes 5G teve um avanço significativo e rápido desde 2020 e, de olho nesse movimento, a Motorola tem quase todo portfólio suportando a conexão de quinta geração. A chegada do 5G marcou o retorno da Motorola para o segmento premium com a família edge e, no mesmo ano, lançamos o primeiro moto g 5G, em um esforço da marca para democratizar a tecnologia no Brasil, por exemplo, onde 70% do portfólio já é 5G.

No entanto, sob o olhar do consumidor, o 5G ainda não é um fator definitivo para compra, uma vez que as aplicações utilizadas por ele no dia a dia ainda funcionam bem com a rede 4G. Assim como na implementação do 4G, o usuário só percebe a necessidade da adoção por uma nova tecnologia no momento em que os aplicativos e operações começam a apresentar um desempenho abaixo do esperado.

No resto da região, as redes estão a avançar de diversas maneiras, dependendo do país. O Chile é um dos mercados onde as redes estão mais desenvolvidas e o México está nesse caminho. Nosso objetivo como empresa também é democratizar o acesso à tecnologia 5G, por isso lançamos recentemente em diversos mercados regionais o moto g34 5G, que é um dos aparelhos com tecnologia 5G mais acessíveis do mercado.

Há diferenças significativas quando analisados os principais mercados da região no que diz respeito à demanda por smartphones, como Brasil, México, Colômbia, Chile e Argentina? Poderia citar algumas dessas diferenças?

Os mercados da região apresentam mais similaridades do que diferenças. Em todos os mercados da América Latina, o maior volume de vendas de smartphones se dá na categoria de produtos intermediários, que combinam aspectos de tecnologia dos produtos mais avançados, como telas Oled, baterias de longa duração, carregadores ultra-rápidos e câmeras de altíssima resolução. Somado a tudo isso está o design, as cores inovadoras, os materiais, a tela ampla, com alta resolução e bordas extremamente finas.

O impulso para a compra é, muitas vezes, motivado pelo desejo de possuir um modelo mais recente, com recursos mais avançados, e isso representa 45% dos consumidores. O consumidor da região é muito consciente em relação ao preço, busca promoções, mas ainda está disposto a investir um pouco mais dependendo do que o produto oferece. Por fim, o consumidor do moto g sabe que é um produto confiável, que entrega experiência, benefícios, assistência técnica, garantia e serviço personalizados de atendimento, além de todos os recursos e especificações.

A Motorola possui fábricas no Brasil e na Argentina. Quais as principais diferenças entre as duas plantas em termos de modelos produzidos e mercados aos quais se destinam?

A Motorola produz 100% dos produtos vendidos no Brasil em duas fábricas: uma em Jaguariúna, no interior de São Paulo, e outra em Manaus (Amazonas).

Na Argentina, por exemplo, a produção é realizada apenas para o mercado interno. Uma das chaves para o sucesso da marca é adaptar-se o mais rapidamente possível às políticas do país onde operamos e contribuir em tudo o que pudermos, para o que é fundamental trabalhar em conjunto com o Estado.

A recém-anunciada política pública de modernização da indústria brasileira, batizada de Nova Indústria Brasil, pode beneficiar a produção nacional de smartphones? Como?

Este projeto é baseado em financiamento via BNDES e nossa indústria tem um ótimo histórico de instalação e consolidação. Portanto, na prática, a nova lei não beneficia diretamente a produção nacional de smartphones.

Uma das tendências que vemos no mercado brasileiro é um alongamento do tempo de uso de cada smartphone e um aumento das vendas de usados. Isso está acontecendo nos demais países da região? Como a Motorola lida com essa tendência?

No Brasil, existe um espaço no mercado para os aparelhos recondicionados, mas que ainda precisa de uma autorregulação. Notamos que há empresas que têm interesse em produtos recondicionados principalmente para a força de vendas ou times internos. Nos demais países da América Latina, esse mercado é muito pequeno.

Quão preocupante é o avanço do chamado “mercado cinza” na América Latina?

O mercado cinza é uma questão que afeta a América Latina de maneira geral. O avanço no número de vendas de produtos contrabandeados acarreta prejuízos enormes como evasão fiscal, perda de empregos e queda de investimentos, além da concorrência desleal para o setor. E é um tema que afeta também os consumidores, que muitas vezes não sabem que o produto é ilegal e entrou no país sem homologação, sem pagamento de impostos e sem garantia para o consumidor em caso de problema técnico.

No Brasil, esses aparelhos são contrabandeados do Paraguai e comercializados principalmente em marketplaces por um preço muito abaixo dos praticados pela Xiaomi em suas lojas oficiais, uma vez que são contrabandeados e não recolhem os impostos devidos.

Estamos acompanhando este tema de perto e estamos comprometidos em combater a venda de produtos irregulares.

Ilustração no alto: Nik Neves

 

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