O presidente do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), Raymundo Barros, acredita que é possível considerar um cenário de compartilhamento de dados entre operadoras e emissoras de TV pelo Open Gateway, especialmente para contribuir para publicidade personalizada dentro da TV 3.0. Em conversa com a imprensa durante o Set Expo 2024 nesta terça-feira, 21, o especialista explicou que nesta parceria é possível considerar um modelo de negócios entre os dois lados.

Para isso, Barros afirmou que é preciso ter uma colaboração mais ampla entre radiodifusores (TVs) e operadoras na busca da monetização com publicidade dos consumidores que acessam à radiodifusão pela rede móvel, isto em um cenário com a “ciência de dados” em que os dois lados possam combinar para permitir modelos de publicidade georreferenciada.

O executivo afirmou ainda que é preciso dialogar com as operadoras para encaminhar uma relação com as operadoras para utilização de suas redes para outro uso, a produção de TV por meio das redes móveis, algo que poderia ser feito em um formato neutro.

Vale dizer, esse formato neutro não tem relação com as redes neutras ou espectro secundário de telecomunicações, mas em um formato mais próximo das redes privativas e network slicing das operadoras, mas compartilhado com as TVs. Algo inspirado no RAN Sharing.

5G Broadcast x ATSC 3.0, quem leva a TV 3.0 ao consumidor

Durante o painel de TV 3.0, Wilson Diniz Wellisch, secretário de comunicação social eletrônica do MCOM, afirmou que ainda não há definição se o padrão de comunicação da TV 3.0 para dispositivos móveis será o ATSC 3.0 (baseado em IP), em especial por fatores de escala. De fato, Barros reforçou que a escalabilidade em países mais populosos e que têm uma base de celulares mais ampla deve definir o padrão de TV 3.0 nos handsets.

Deu como exemplo a Índia e sua base de 1 bilhão de devices, se comparado com o Brasil, que tem aproximadamente 250 milhões. Com isso, o representante acredita que 5G Broadcast (baseado na rede móvel) ainda não está descartado, mesmo com o Fórum SBTVD indicando o ATSC 3.0 como padrão.

Mas independente do padrão a ser escolhido, o presidente do Fórum acredita que a TV no mobile deve ser construída “em um ecossistema com sinal aberto, gratuito e sem consumo de rede”. Em contrapartida acredita que pode existir o uso do SIMcard para identificação do consumidor com intuito de oferecer personalização de publicidade via rede 5G.

Lições do passado

Barros lembrou que as radiodifusoras tiveram duas iniciativas de transmissão das TVs direto ao mobile, o One Seg e o LTE Broadcast. Nos dois casos, o presidente do Fórum recordou que não deram certo por falta de um ecossistema que fizesse crescer o consumo da TV em dispositivos móveis.

Ou seja, um grupo com TVs, operadoras, fabricantes de dispositivos e os sistemas operacionais para os consumidores terem essa tecnologia nos handsets. Mas Barros disse que ainda não tem um plano estruturado para tal.

Além do ecossistema, William Christian, partner na XGN 5G Broadcast, explicou que o LTE Broadcast não deu certo pois estava à frente do seu tempo quando a tecnologia começou a ser testada 12 anos atrás, uma vez que os apps, as redes e os smartphones não estavam preparados.

5G Broadcast em uso

A Mobile Time, Christian explicou que não acredita em uma combinação dos modelos do ATSC 3.0 e do 5G Broadcast. Para ele, as estações de TV vão definir qual modelo de negócios devem seguir, uma vez que as primeiras demonstrações não mostraram uma convivência entre os dois padrões.

Explicou ainda que por ser mais nova e estar em discussão no 3GPP, o 5G Broadcast tem mais potencial de uso. De fato, existe uma primeira emissora norte-americana usando o 5G Broadcast, a WWOO de Boston.

Na frequência de 4,7 GHz cedida pelo FCC de forma experimental, a companhia teve apoio da Qualcomm que disponibilizou smartphones para os testes. Além da transmissão da programação integral da emissora para handsets, a prova também permitiu broadcast de informações vitais para first responders (bombeiros, ambulâncias e polícias) e testes de alertas de emergência para a população geral.

Também foram feitos testes em Washington DC, Las Vegas e Connecticut.

Imagem principal, da esquerda para direita: Raymundo Barros, SBTVD; Wilson Diniz Wellisch, MCOM; Vinícius Caram Anatel (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)