As associações de TV saíram em defesa do seu ecossistema, ante a competição com as plataformas digitais e streamings de vídeo, que deve se acirrar com a chegada da TV 3.0. Durante o Set Expo 2023 nesta terça-feira, 20, o presidente do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), Raymundo Barros, lembrou de dados do IBGE: 85% dos domicílios estão conectados à radiodifusão aberta; 60% do tempo de mídia em domicílios é consumindo o conteúdo da TV aberta, o que inclui todos os devices (tablets, smartphones TVs, set top boxes).

“Temos uma plataforma de mídia que serve ao brasileiro há 70 anos com qualidade. Quando falamos das plataformas digitais alcançarem 5 milhões de devices conectados no Brasil, 15 milhões na NFL nos Estados Unidos, e o mundo celebrando?”, questionou. “Nós vemos que a radiodifusão não está superada, pois nenhuma plataforma chega a 100 milhões de pessoas todos os dias. Temos alcance, credibilidade, com empresários brasileiros, conteúdo brasileiro. Mas não conseguimos construir o digital”, disse Barros.

O executivo explicou que a TV 3.0 é a digitalização da camada de aplicação, algo que não existe atualmente. Apesar de ter infraestrutura e serviços digitais, o setor não conseguiu digitalizar suas aplicações. Ele entende que as TVs serão inseridas na economia digital com modelos de negócios, melhora da qualidade e mais formas de interagir com o consumidor, como publicidade, pesquisas e até e-commerce em tempo real.

TV não vai morrer

Por sua vez, Flávio Lara Rezende, presidente da Abert, afirmou que a TV está longe de desaparecer pela penetração e capilaridade no Brasil: “A TV aberta não está morrendo e nem vai morrer. Não existe nada que alcance 100 milhões de pessoas simultaneamente. Mas se brigar com a tecnologia vai perder sempre. A agilidade da tecnologia não permite que você brigue com ela”, disse.

“Vamos nos adaptar a essa tecnologia (TV 3.0) de uma forma tranquila e cuidadosa”, completou Rezende.

Já Márcio Novaes, presidente da Abratel, afirmou que as plataformas digitais tiraram o ecossistema de TV de uma acomodação, o que abriu o diálogo para começarem a discutir o seu papel e dar valor aos seus trabalhos: “Tem gente que bate no peito e diz que bateu 3 milhões de dispositivos. E o que nós alcançamos? Isto não é ser protecionista. É nos valorizarmos”, completou.

Próximos passos da TV 3.0

Atualmente, o Fórum SBTVD já definiu um modelo de padrão da TV 3.0. O próximo passo da TV 3.0 está no momento de definição do uso de espectro. De acordo com Vinicius Caram, superintendente de outorga e recursos à prestação da Anatel,  até o final do ano ficará pronto o estudo de espectro.

Mas ainda há discussões, como é o caso do espectro de 600 MHz. Assim como aconteceu com o 5G, que teve um leilão de frequência com custos de espectro revertidos, as representantes das TVs querem um certame que não seja oneroso, uma vez que o ciclo das tecnologias é mais curto, como afirmou Caram: “Precisamos pensar em algo não oneroso na TV 3.0, assim como aconteceu nos outros serviços (celulares). Vamos trabalhar essa simplificação e incentivos. Os projetos não podem nascer engessados. Lembramos do papel da responsabilidade que a radiodifusão tem”, completou.

Imagem principal: Painel de TV 3.0 (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)