Algumas instituições financeiras brasileiras já estão utilizando biometria comportamental para evitar fraudes – ou pelo menos estão realizando testes para agregar a tecnologia aos seus sistemas de segurança. Representantes do Banco do Brasil, Banco Original, Mercado Pago, Trigg e Nuance trataram do assunto em painel do Mobi-ID, evento realizado por Mobile Time nesta quarta-feira, 19, em São Paulo.

Fabiana Saenz, diretora de prevenção e segurança do Mercado Livre e Mercado Pago, afirmou que o banco digital já utiliza a tecnologia. Ela deu um exemplo: caso um usuário faça quase sempre um desbloqueio da sua conta com o rosto, quando ele digita a senha, o sistema consegue identificar uma irregularidade. Ele não vai ser necessariamente impedido de fazer o login, mas uma possível movimentação pode ser bloqueada. 

“Sempre olhamos muito para a saída do dinheiro. Hoje, com o Pix, a gente começou a olhar muito para entrada, criar alguns modelos que barram. ‘Por que essa conta que não recebia tanto Pix começou a receber um monte de Pix?’. Assim, começamos a barrar”, contou. Depois que essa medida foi tomada, houve uma diminuição de 50% das transações consideradas fraudulentas ou denunciadas como fraude. “Acho que biometria comportamental é cada vez mais o futuro. Usamos ainda parcialmente perto do potencial”, afirmou.

Na Trigg, carteira digital que fornece cartão de crédito, o recurso também está sendo utilizado. Wellington Alves, CEO da companhia, falou sobre alguns dos hábitos que podem ser levados em consideração em análises do tipo, como a velocidade do processo de cadastro ou se o cliente vai e volta muitas vezes na etapa. Essas informações não são um único fator de identificação, mas podem ser utilizadas como um dos dados analisados para autenticação, quando considerado o conjunto.

“O que a gente mais utiliza na questão de comportamento é depois que a pessoa já tem o cartão, porque tem todo um mapa de calor. Quando utilizamos o aplicativo das instituições, ele já tem um comportamento nosso”, explicou. Os dados comportamentais geolocalizados da utilização do cartão, por exemplo, podem ajudar a impedir fraudadores, nesse sentido.

Testes

De acordo com Clelson Pereira, gerente executivo de tecnologia do Banco do Brasil, a instituição está coletando dados comportamentais, mas ainda não os utiliza. Para ele, é importante ter uma base de informações robusta antes de colocar a ferramenta em prática. A forma como a pessoa segura o dispositivo ou como ela pressiona a tela, assim como a localização e o valor de transações podem ser alguns desses dados utilizados.

“Eu penso que a biometria comportamental tem potencial para reduzir consideravelmente o uso de senha e diminuir bastante a fricção do cliente, dependendo da transação. A parte da biometria comportamental, quando junto com a análise comportamental, deve trazer esse ganho considerável de usabilidade para o cliente”, opinou.

O Banco Original está testando a funcionalidade em clusters de clientes. Mas Fábio Lins, superintendente executivo de inovação, canais, Pix e open banking, ressaltou que isso exige muito investimento intelectual, já que esse tipo de dado não pode ser processado do jeito tradicional, deve utilizar inteligência artificial e dados na nuvem. Para ele, o 5G poderá ajudar nisso, sendo capaz de captar um grande volume de dados comportamentais.

Gilson Arciprete, especialista em segurança, fraude e biometria da Nuance, esclareceu como isso pode ser utilizado até mesmo na biometria por voz. “Através do comportamento da escrita, associado à voz reproduzida pela pessoa, você consegue identificar os fraudadores também. Cada pessoa tem a sua característica comportamental, a velocidade, o passo, a transição – você mede isso. A biometria de voz comportamental está bem avançada, ela junta tudo isso”, disse.

 

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