O mercado das deep techs na América Latina está em desenvolvimento e seus desafios passam mais por infraestrutura e menos em investimentos. De acordo com Francisco Javier, sócio da Gridx, uma empresa que atua apoiando essas startups, os investimentos tiveram alta desde a pandemia.

De fato, o investimento em deep techs na América Latina cresceu 20 vezes nos últimos dez anos e deve crescer na próxima década mais 20 vezes, segundo o relatório Deep Tech: New Wave do BID Labs de 2023. Um ecossistema que tem 340 companhias que valem US$ 8 bilhões.

Em resumo, uma deep tech é uma startup baseada em ciência e engenharia de ponta para resolver problemas profundos.

Durante o Cubo Open Day, evento realizado no Cubo Itaú na última terça-feira, 18, Lucas Delgado, cofundador e líder de projetos na Emerge, uma companhia que busca levar ciência brasileira dos laboratórios para a indústria, relatou que os investimentos no Brasil são tímidos, mas ocorrem.

Desafios

Para Ana Calçado, CEO da Wylinka, uma organização sem fins lucrativos que busca desenvolver instituições e ecossistema a partir da ciência, há um desafio de investimento no começo, quando as deep techs precisam de investimento inicial e tem altas doses de risco, algo que o investimento governamental dificilmente suporta e o mercado ainda não tem apetite por esse risco.

“Uma deep tech leva dez anos para ficar pronta. Parece que no dia a dia das corporações não é tão palpável e nem tão urgente. Mas em qualquer sentido, ela é urgente. Por exemplo, nos grandes países, elas (deep techs) são olhadas para resolver grandes desafios globais, como o clima”, disse a especialista. Em contrapartida, Calçado lembra que o Brasil tem a mesma produtividade desde a década de 1970 e, de certa forma, seu nível tecnológico está muito defasado na indústria: “Na corrida global, nós estamos atrasados. Isso é sério considerando o global e o bem-estar social”, completou.

Por sua vez, Javier lembrou que, apesar de o Brasil ser mais desenvolvido que outros países da América Latina, em algumas áreas o investimento para deep tech não está tão maduro. Algo que, em sua visão, pode acontecer por desconhecimento, uma vez que o tempo de investimento em longo prazo em deep techs é similar àquele em startups comuns.

Mas Delgado afirmou que também há desafios estruturais como a necessidade de laboratórios para a fase final de desenvolvimento, uma vez que a fase inicial de uma tecnologia geralmente está atrelada à universidade, mas a etapa mais avançada depende de se desatrelar da academia. Também afirmou que os desenvolvedores e cientistas precisam ter uma visão que deep techs são para resolver problemas profundos.

“Não resolvem problemas pequenos. Tem que ser um problema grande, global. A deep tech precisa mirar um mercado gigantesco”, afirmou o especialista. “A tecnologia pode servir para muita coisa, mas um negócio só serve para uma. Portanto, escolha um tema, uma tecnologia, entenda esse mercado e tente resolver aquele problema”, conclui.

Potencial no Brasil para deep techs

Apesar dos desafios, os executivos afirmaram que há potenciais no Brasil, em especial em áreas ligadas à biotecnologia, alimentos, saúde e agricultura. Calçado lembrou da massa crítica e da tecnologia que Fiocruz, Butantan e Embrapa têm para competir globalmente.

Delgado reforçou que o Brasil é um ambiente farto para saúde, uma vez que 33% da produção de artigos e pesquisa está concentrada em saúde. Também citou “bons casos”, como a Rizoflora e seu defensivo agrícola Rizotec e a Nanovetores que usa nanotecnologia na indústria de cosméticos.

Javier acredita que o ecossistema para pesquisa e desenvolvimento tem melhorado desde 2021, ao aproximar o mercado corporativo de governo, centros de pesquisa e agências de fomento com mesas de trabalho que ajudam a desenvolver o tema.

“As universidades e agências de inovação estão começando a trabalhar mais as oportunidades para os pesquisadores”, disse o executivo da Grindx. No entanto, ele acredita que é possível fazer mais. “O tema (desenvolvimento científico) deveria entrar no ensino médio para captar no futuro 2% a 5% dos estudantes. E os fundos precisam se aproximar e entender mais, tomar o risco. Pelo lado dos empreendedores, se queremos resolver desafios globais, é preciso pensar o que uma ciência que eu (pesquisador) desenvolvo pode resolver”, concluiu.

 

*********************************

Receba gratuitamente a newsletter do Mobile Time e fique bem informado sobre tecnologia móvel e negócios. Cadastre-se aqui!