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Em maio de 2014, a Copa do Mundo no Brasil trouxe pela primeira vez os serviços de corridas particulares com copinhos d’água, balas, motoristas respeitosos em carros confortáveis com banco de couro e ar-condicionado ligado o tempo todo. Corta para 2022 e temos um cenário com corridas canceladas pelos motoristas, aumento no tempo de espera, incremento contínuo dos preços por conta da inflação e da alta dos combustíveis, falta de promoções e diversos relatos de problemas relacionados à segurança.

Os serviços particulares de mobilidade urbana no Brasil mudaram muito nos últimos oito anos. Um setor que era desregulado, mas se apresentava como um serviço diferenciado, começa a perder espaço para um rival antigo, o táxi. De acordo com uma pesquisa da Mobicity feita com 1,1 mil brasileiros em dezembro de 2021, e encomendada pelo aplicativo Vah (Android, iOS), 38% dos usuários de serviços de transportes estão redescobrindo o táxi como meio de transporte.

Outros achados da pesquisa mostram que 96% dos usuários notaram alta nos preços de corridas; 92%, aumento no tempo de espera; 86%, incremento do cancelamento de corridas por parte dos motoristas; 82%, falta de cupons de desconto; 42% começam a olhar mais para o transporte público como alternativa de locomoção e 26%, para bicicletas.

“Conversamos muito com os usuários. Fizemos focus froup com eles para entender durante a pandemia. A pesquisa com a Mobicity só retratou de uma forma mais emblemática essas conversas: o usuário começa a se planejar mais, sair mais cedo e traz mais demanda para o táxi. Tinha aquele estereótipo do taxista mais caro, bandeira 2, antiquado e pouco informado. Hoje, o mercado está virando”, diz Márcio Bern, CEO da Vah.

Táxi sobe, particular desce

No aplicativo do Vah, é possível notar a mudança de comportamento do consumidor. Antes da pandemia, 92% das corridas eram com carros particulares e apenas 8% com apps de táxi (Wappa, 99 e diversas cooperativas). Agora, os carros respondem por 75% e os táxis, por 25%.

Bern credita que os aumentos do preço dos combustíveis e, por consequência, das tarifas de corridas dos carros particulares – algo que não se refletiu nos táxis que têm as tarifas taxadas pelas cidades – e a saída de motoristas das duas grandes plataformas, Uber e 99, refletiram no incremento da demanda por táxi por parte do consumidor.

“Nós estamos vendo a retomada das atividades, ainda de forma bem tímida. Ainda está bem longe dos números que tínhamos antes da pandemia. Mas qualquer pequena ação nós vemos que traz acréscimo nas corridas. De quinta-feira, 17, para sexta-feira, 18, o número de corridas subiu por causa do fim da obrigatoriedade de máscaras em SP”, explica o CEO.

Corporativo

Este movimento da troca das corridas particulares por táxi também foi notado no setor corporativo. Jordana Souza, CRO e cofundadora da Voll (Android, iOS), aplicativo de Mobility as a Service (MaaS) que presta serviço de transporte para o segmento B2B, observa uma “mudança bem radical” puxada pela alta dos preços dos combustíveis. Essa alteração inclui tanto o aumento do uso do táxi, como aluguel de carros com locadoras e o retorno do funcionário usando o seu próprio carro e colocando na prestação de contas das empresas os quilômetros rodados.

“No começo de sua operação, a Uber provocou o táxi. Mas, hoje, a roda está girando. Tivemos um aumento significativo de 40% de uso de táxi. Isso ocorreu pelo aumento do cancelamento de corridas nos aplicativos de carros particulares e do tempo de espera. O usuário do corporativo não espera. Os parceiros (99, Uber) têm feito movimentos, como aumento do valor do km para o motorista, mas ainda não surtiram efeito”, relata.

Com relação à demanda de carros do próprio trabalhador, a executiva explica que a ferramenta é nova e a Voll ainda acompanha o desenvolvimento de perto. Com relação aos aluguéis de carros em locadoras, a CRO diz que em muitas regiões do Brasil há falta de carros, e citou o exemplo de Belo Horizonte.

Bruno Poljokan, CRO e sócio da Kovi (Android, iOS), startup de aluguel de carros, explica que o mercado de automóveis está bem aquecido e a busca por veículos para locação segue em alta. Um exemplo do cenário brasileiro é que a Fenabrave  (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), entidade que reúne 52 associações de marcas de automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, implementos rodoviários, motocicletas, tratores, máquinas agrícolas, e que representa mais de 7 mil concessionárias de veículos no País, apresentou em fevereiro deste ano alta de 6% no emplacamento ante janeiro.

“Nossa frota cresceu mais de 50%, e atingimos a marca de mais de 12 mil carros no final de 2021. Ano passado tivemos 15% a mais de procura, com quase 80 mil cadastros. A expectativa é crescer mais de três vezes em 2022, alcançando uma frota de 40 mil carros”, prevê Poljokan. “Entendemos que o momento é difícil, mas traz uma oportunidade para reforçar ainda mais o propósito da Kovi, que é ‘criar oportunidades para que todos dirijam suas vidas, tornando o acesso ao carro mais inclusivo, flexível e simples”, completa.

A Stuo, união de Wappa com Expanse Mobi, observa que os clientes de empresas estão voltando a usar mais o táxi, ante os carros particulares. E que as reclamações que antes eram endereçadas aos taxistas agora são feitas sobre os motoristas de corridas particulares: “Em mais de 50% do dia, o carro particular é mais caro que o táxi. Algumas cidades tiveram reajuste no táxi, os grandes centros ainda não. Em São Paulo, por exemplo, a tarifa de saída do táxi é cara, mas não foi alterada. Portanto, ainda vale o táxi pelos corredores – e fica até mais barato”, explicou Armindo Júnior, CEO da Stuo.

“Foi construído um mercado subsidiado em corridas particulares e a conta chegou. E, com o agravante do preço do combustível, fica insustentável. A pandemia agravou muito, hoje o preço subiu, o carro particular é mais caro – o mercado do carro black com água gelada e corrida barata ficou em 2018. No final do dia, a competição por preço é equivalente. Caiu a ficha para os players de carros particulares. Mas ao mesmo tempo trouxe uma pressão para o taxista fazer uma entrega melhor. E o mercado amadureceu com as regulações”, completa.

Grandes apps

Os dois principais aplicativos de corridas particulares que iniciaram essa jornada em 2014 e seguem ativos no mercado, Uber (AndroidiOS) e 99 (Android, iOS), foram procurados pelo Mobile Time para falar de suas ações neste momento de retomada, com aumento da demanda, cancelamento de corridas e saída de motoristas cadastrados das plataformas. Apenas a 99 atendeu ao Mobile Time.

Em relação aos cancelamentos em duas de suas principais praças, São Paulo e Rio de Janeiro, Lívia Pozzi, diretora de operações e produtos na 99 explicou que a empresa mantém uma taxa baixa de corridas canceladas (menos de 5%) nos últimos cinco meses. Além disso, desde que a pandemia avançou, a companhia tem feito ações junto aos motoristas para evitar que eles saiam da plataforma, como o pacote Mais Ganhos 99, com diversas medidas como a Taxa Zero em períodos e cidades específicas para que os motoristas ganhem 100% do valor das corridas – exceto os impostos – , taxa de congestionamento, taxa de deslocamento, entre outras.

“Em seis meses, segundo estudos da FIPE, injetamos R$ 500 milhões na economia brasileira somente com essas iniciativas. A estratégia sempre foi manter o equilíbrio do ecossistema da 99 com ações que fizessem sentido a usuários, passageiros e motoristas”, explica Pozzi. “A nossa prioridade é manter o equilíbrio da plataforma oferecendo um serviço de qualidade a um custo acessível e com sustentabilidade do negócio. Queremos que as pessoas se desloquem com segurança e facilidade ao mesmo tempo que os parceiros obtenham ganhos significativos e possam cuidar de suas famílias. Acreditamos que, neste formato de economia compartilhada, contribuímos para um ciclo virtuoso que beneficia passageiros, motoristas parceiros, o negócio e a sociedade como um todo”, diz.

Sobre um eventual aumento de corridas de táxi ante carros particulares, a diretora operacional explica que o aplicativo registrou aumento no número de corridas e isso foi observado “em todas as modalidades presentes no ecossistema da 99”, mas não informou os números.

“Há um serviço para cada perfil de uso e de condição financeira. Por exemplo, o 99Taxi permite transitar pelos corredores exclusivos de ônibus; o 99Comfort tem carros maiores, que permitem carregar mais bagagem com mais conforto. O 99Compartilha é uma solução mais econômica porque permite a divisão do valor da corrida entre os passageiros; o 99Entrega é para quem precisa entregar algum objeto; o 99Empresas, para contribuir na logística; e o 99Pop é a alternativa mais econômica. Enfim, a demanda está relacionada às necessidades dos usuários”, completa.

Especial de mobilidade urbana

Esta matéria é a primeira parte do especial sobre o novo cenário da mobilidade urbana com a retomada gradual das atividades presenciais em 2022, produzido por Mobile Time. Como vimos neste trecho inicial, o táxi volta a ganhar relevância nas grandes cidades e sendo novamente uma alternativa para o consumidor por uma questão de custo e disponibilidade. Por outro lado, as corridas com carros particulares sofrem com o aumento do combustível, cancelamento de corridas e depreciação deste modal.

Importante dizer que na recente pesquisa de Panorama de Apps Mobile Time/Opinion Box de uso de apps no Brasil em dezembro de 2021, a Uber segue como o sexto app mais presente na tela principal do smartphone do usuário brasileiro, a mesma posição registrada na edição anterior, em junho daquele ano.

 

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