Hartmut Leuschner é um dos maiores especialistas do mercado mundial de smartphones. É ele quem dirige um time internacional de analistas de telecom e assina há mais de dez anos os relatórios reservados da OTR Global, que aponta trimestralmente os altos e baixos dos principais fabricantes desse setor. Em conversa com Mobile Time na manhã desta terça-feira, 21, ele comentou o impacto do banimento da Huawei do sistema Android.
Mobile Time – Qual o impacto para a Huawei do seu banimento do sistema Android?
Hartmut Leuschner – O impacto do banimento da Huawei pode ser analisado sob dois aspectos: 1) componentes; 2) software. No caso de componentes, o impacto é limitado, já que a maioria dos componentes que vêm de fornecedores norte-americanos podem ser substituídos por componentes de outros fornecedores. Não podemos esquecer que uma grande proporção da produção dos fornecedores norte-americanos acontece na China ou em Taiwan, e que a Huawei tem seu próprio fabricante de chipsets, a HiSilicon. Então, em vez de comprar da Qualcomm ela poderia usar o seu próprio chipset.
Por outro lado, a situação é mais delicada em software, com certeza. Embora a Huawei não dependa da Google Play na China, sua dependência é enorme em mercados internacionais. É verdade que os consumidores poderiam substituir Google Maps, Gmail ou Google Chrome por outros serviços similares, mas é difícil acreditar que mudariam facilmente para outra loja de aplicativos que a Huawei precisaria criar e instalar com a plataforma aberta do Android – ou, pior ainda, com seu próprio OS. A maioria dos sistemas operacionais proprietários fracassaram até agora. O melhor exemplo disso é o Samsung Tizen, que nunca teve apelo junto às massas.
Acredito que não haja tempo para a Huawei ou o governo chinês construir um ecossistema que seja atraente o suficiente para os consumidores trocarem os seus atuais. Os rivais da Huawei não adotariam um OS alternativo se não forem obrigados a fazê-lo.
Quais as perspectivas então?
O futuro é tão incerto quanto o próximo passo da administração Trump. É imprevisível. Eu pessoalmente acredito que o conflito será resolvido dentro de três a quatro meses, mas a China terá que fazer concessões substanciais. Enquanto isso, acredito que haverá uma queda na demanda por aparelhos da Huawei porque os consumidores estão com medo em razão do nível de incerteza em torno da marca, das atualizações e da usabilidade.
Também prevejo uma queda na demanda geral de smartphones, porque incerteza sempre prejudica a demanda, e a incerteza neste momento é muito alta.
Quem se beneficia disso?
Acredito que Apple se beneficia de alguma maneira, porque haverá um certo nível de desconfiança em torno do ecossistema Android, porque muitos consumidores não vão entender os detalhes do banimento.
Quanto a aparelhos de gama baixa, onde o ciclo de troca é mais rápido, os beneficiados serão os de sempre: TCL Alcatel, Xiaomi, Samsung, Oppo Vivo, independentemente do fato de a maioria ser da China também.