Apesar de a consulta pública sobre o espectro já ter sido encerrada, os testes com a faixa de 3,5 GHz ainda estão sendo conduzidos pela Anatel em conjunto com o CPqD na rede da Claro na região da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. A previsão é de que em fevereiro comecem os testes de campo, e que a minuta dos resultados seja entregue no final de abril do ano que vem, embora a conclusão dos testes possa ser adiada um pouco a depender da evolução e das dificuldades apresentadas.

A regulamentação da faixa de 3,5 GHz estava prevista na agenda regulatória 2017/2018, e os estudos deverão estabelecer se é possível a operação do SMP em 5G nesse espectro sem afetar as comunicações por satélite na mesma frequência. Ou seja: a possibilidade de convivência da faixa de 3,4 GHz a 3,6 GHz com a banda C estendida e a banda C propriamente dita, incluindo não apenas os receptores de TV parabólica (TVRO), mas também as estações fixas por satélite (FSS). Para isso, a Anatel reúne todos os players envolvidos: operadoras, sindicatos, representantes do setor satelital, de radiodifusão e de fabricantes de equipamentos

Já foi concluída a fase de caracterização de elementos, mas ainda é necessária a padronização e metodologia para os testes de campo. Segundo explicou a este noticiário o assessor técnico da Anatel, Humberto Bruno Pontes Silva, agora estão sendo executados testes preliminares para validação. Entre este final de ano e janeiro de 2019, haverá recesso dos servidores da agência, então os testes de campo deverão começar para valer em fevereiro. “A gente está usando o período para estressar ao máximo os testes de campo”, afirma. “A gente se antecipou à consulta e elaborou os cadernos técnicos, enviamos equipamentos e fizemos toda a parte de logística”, diz. A etapa de testes em laboratório, em parceria com o CPqD, já foi concluída, visando simulações e extrapolações.

Equipamentos

A agência afirma ter o o primeiro sistema de 5G no padrão standalone, incluindo o core nessa tecnologia. Os testes estão sendo feitos com uma estação radiobase 5G (chamada de gNodeB, que une as unidades de rádio e antena) da Huawei e da Ericsson, sendo que a chinesa é no padrão 5G standalone, com todo o core no perfil da quinta geração. “É muito mais próxima do que será encontrada quando houver a implantação do 5G”, afirma Humberto Silva. O terminal utilizado nos testes é uma CPE da Huawei, já no padrão do Release 15 do 3GPP. Contudo, a questão principal a ser investigada é a interferência no downlink do sistema interferente no sistema satelital – no caso, a gNodeB.

Alex Pires de Azevedo, gerente da Superintendência de Outorga e Recursos (SOR) da Anatel, detalha que os receptores “Low-noise block feedhorns” (LNBF), que ficam montados no disco da parabólica, são os que causam o problema nos TVROs ao receber o sinal em toda a faixa. “Obviamente gera problema. A expectativa é que agora a gente encontre fabricantes com dispositivos LNBF mais imunes à interferência e robustos”, declara.

“Uma das coisas que se espera é estabelecer condições de operação no sistema interferente ou no interferido”, diz. Para tanto, a Anatel poderia definir a potência de operação no SMP, que seria definida por ato da SOR, o que não impactaria no prazo do regulamento. Do lado do sinal interferido, o satelital, os testes poderiam definir requisitos de certificação ou alguma forma de avaliação da conformidade do equipamento LNBF. “A gente vê que grande parte [das TVROs] são de equipamentos sem a possibilidade de convivência, e por isso precisariam ser evoluídos ou melhorados”, explica.

Leilão

Mesmo com a previsão de conclusão dos testes ainda no primeiro semestre do ano que vem, o leilão da faixa pode não sair tão cedo. Segundo reafirmou a este noticiário o presidente da Anatel, Leonardo Euler de Morais, a expectativa é para “final de 2019 ou início de 2020”. Até lá, o tempo será preenchido com formulação do edital e interação com o Tribunal de Contas da União. “Lembrando que a instrução normativa 27 do TCU mudou – antes, o plano de negócios precisava ser mandado em 30 dias, e agora são 90 dias para uma etapa, e 150 para outra”, diz. “Então, [o leilão] tem que ser uma coisa mais bem pensada e planejada para ser cumprida com o cronograma em mente”, conclui.

 

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