Três semanas após ser anunciado pelo vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, Ricardo Capelli assumiu oficialmente a presidência da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) nesta quinta-feira, 22. Para uma plateia repleta de ministros, governadores, deputados federais e senadores da república, além de representantes da indústria nacional, o novo comandante da agência de fomento defendeu em seu primeiro discurso a política de subsídios do Nova Indústria Brasil (NIB).
“A nova indústria é inovadora. É sustentável. É digital. Temos uma oportunidade gigantesca nesse momento. Temos a matriz energética mais limpa do G20. Temos uma janela de oportunidade gigantesca, mas precisamos de coesão para dar rumo ao País”, disse Capelli. “No mundo inteiro, ao falarmos de inovação de longo prazo, inovação que faz a transformação, inovação estruturante, nós estamos falando de investimentos de longo prazo e de destino incerto, porque às vezes dá errado e quem faz isso no mundo inteiro é o Estado”, completou ao proteger o NIB.
Capelli lembrou que o programa de incentivo à neoindustrialização do Brasil tem US$ 60 bilhões (R$ 300 bilhões na conversão cambial), um montante bem baixo se comparado aos investimentos feitos pelos governos de Estados Unidos (US$ 1,9 trilhão), Europa (US$ 1,7 trilhão) e Japão (US$ 1,5 trilhão) às suas indústrias. Vale dizer, o montante destinado pelo governo brasileiro tem sido criticado por parte dos economistas que consideram o valor alto e com pouco retorno para o País.
“Sabiam que o iPhone tem 12 vetores centrais que foram produtos oriundos de pesquisa da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos Estados Unidos (Darpa, na sigla em inglês). Não haveria iPhone, não haveria iPad, não haveria o sucesso genial da Apple, sem a presença decisiva do Estado norte-americano investindo em pesquisa e nós precisamos fazer com que o setor público perca o medo de investir em inovação”, relatou Capelli em seu discurso na sede do Ministério do Planejamento e Orçamento, em Brasília.
Capelli lembrou que esta é a “quarta missão” que o presidente Lula e o vice-presidente Alckmin pedem para ele. Antes da ABDI, Capelli foi secretário-executivo no Ministério da Justiça, interventor no Distrito Federal após as ações golpistas de 8 de janeiro de 2023, e assumiu interinamente o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) em abril do mesmo ano até a chegada de Marco Amaro dos Santos para a pasta.
Diagnóstico da indústria
Também presente na posse, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, explicou que a maior parcela dos investimentos nos EUA, Europa e Japão são de fundo perdido; por sua vez, o Brasil oferece linha de crédito com taxas abaixo do mercado.
Por sua vez, o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, afirmou que o problema da desindustrialização brasileira ocorre há 40 anos em consequência de problemas como:
- Falta de acordos comerciais bilaterais no âmbito do Mercosul, vide o recente acordo Mercosul-Cingapura;
- A perda da força de exportação para a América do Sul, Central e Caribe;
- Baixo investimento e baixa produtividade.
Como formas para incentivar a indústria, Alckmin falou que a questão principal é “agir na causa dos problemas”, algo que o governo tem feito com o NIB, um ajuste do câmbio competitivo de R$ 4,80, a redução dos juros e a simplificação dos impostos para atrair investimentos e acelerar a exportação com a reforma tributária: “Atrair investimento é atrair produtividade”, completou.
Investimento x necessidades
O vice-presidente da CNI e presidente da Federação das Indústrias do DF (Fibra), Jamal Jorge Bittar, defendeu que a NIB é necessária devido ao impacto de tributos e juros na competitividade e pelo poder de exportação da indústria nacional: “Não dá para competir (com os outros países) quando a indústria responde por 22% do PIB e paga 36% de tributos, além de pagar 8% de juro real. Isso inviabiliza qualquer investimento de longo prazo na indústria. Por isso, é óbvio que precisamos de Estado”, disse o representante da indústria, que também defendeu o papel da indústria na geração de emprego de qualidade no País.
“Dignidade é pagar bem o trabalhador. Nós (indústria) pagamos 50% a 60% mais que o resto da cadeia produtiva”, concluiu Bittar.
Já a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, recordou aos industriais presentes que não é só o investimento privado ou apenas o investimento público que faz o Brasil crescer, mas “ambos são necessários”. Assim como o vice-presidente Alckmin, Tebet lembrou que apenas um terço dos produtos semielaborados são exportados para a América Latina, e que esse volume precisa aumentar para melhorar o comércio na região. E afirmou que a indústria precisa “chegar ao interior e às fronteiras do País”, não ficar apenas nos grandes centros.
Imagem principal: Vice-presidente Geraldo Alckmin e Ricardo Capelli (reprodução: YouTube/ABDI)