A Viasat promoveu uma demonstração da conexão direta entre satélites e celulares, o Direct-to-Device (D2D), nesta terça-feira, 22, em Brasília. O teste se deu voltado para o envio de mensagem de texto e sem usar a frequência ou infraestrutura das operadoras de telecomunicações, não com o objetivo de mostrar que a tecnologia é possível sem uma prestadora, mas sim para atrair parcerias.
Sem citar nomes, o VP global de parcerias de D2D da Viasat, Kevin Cohen, afirmou ao Mobile Time que está em tratativas com parceiros do mercado e entende que pode haver novos testes e acordos comerciais ainda este ano no Brasil.
Os testes da Viasat no país já vinham sendo realizados desde o último bimestre do ano passado no setor automotivo, para GPS e envio de mensagens. Na demonstração realizada nesta tarde, a solução também foi utilizada para comunicação por texto, enquanto o celular estava em “modo Avião”, chegando como SMS ao destinatário em poucos segundos, apesar da velocidade de 2 Kb/s, usando a banda L e seguindo padrão 3GPP Release 17, que não inclui ligações ou internet.
Nos testes, considerados bem sucedidos, a empresa utilizou diferentes aparelhos, dois já compatíveis com o D2D (Ulefone NTN e iPhone XR), e dois que, por serem incompatíveis, necessitam de um dispositivo comunicador de satélite via bluetooth (o HMD para o Iphone 13 e o Moto Defy para o Samsung A50).
A expectativa da empresa é de testar a tecnologia de voz e internet em 2026.
Parcerias
O que está entre a solução tecnológica e o lançamento é o ritmo da indústria de dispositivos e acordos com as teles. Uma das possibilidades que os executivos condicionam à colaboração é o envio de mensagens pelo WhatsApp ao invés do SMS, por exemplo, pois dependeria do desenvolvimento de solução específica.
“A gente tem a parte da conectividade e o fabricante do equipamento tem o sistema deles. Não é uma questão complexa […] a gente entende que é uma questão de tempo que esteja implementado”, sintetiza Leandro Gaunszer, diretor-geral da Viasat no Brasil.
A empresa busca parcerias com operadoras para tornar a comercialização mais atraente. Neste cenário, as teles ofereceriam um “chip híbrido”, que permite acesso tanto à rede da operadora quanto a satélites, fora da cobertura delas. É neste ponto que entram as questões de negociação, ainda em aberto.
“A gente vê isso [conexão híbrida] como um aspecto relevante nos casos de uso. O que tem que se desenvolver ainda é [entender], por exemplo, em que frequência eu quero que isso aconteça. […] A gente não sabe qual modelo de negócio que a operadora vai definir, mas muito provavelmente isso tem custo adicional a partir de um certo valor”, disse Gaunszer.
O preço dos dispositivos é outro obstáculo. O comunicador com satélite, por exemplo, que se conecta a celulares sem compatibilidade para acessar o D2D sozinho é comercializado fora do país por cerca de US$ 100 a US$ 150.
Questionado sobre os desafios, o VP global de parcerias de D2D da Viasat, Kevin Cohen, vê a questão dos acordos com operadoras mais “fácil” do que com a indústria.
“Um acordo com operadora é fácil de fazer, porque seria um acordo de padrão aberto. O que é mais importante é ter os dispositivos e também os aplicativos. Por exemplo, para ter um dispositivo de IoT funcionando você deve saber quando deve conectar ao satélite e quando deve desligar para conectar a uma rede terrestre, quantos dados mandar”, explica.
Sandbox D2D
O teste da Viasat ocorre fora do Sandbox Regulatório de D2D da Anatel. A iniciativa da agência completa nesta segunda-feira, 22, um ano desde a publicação em DOU do ato que estabeleceu a possibilidade de ambiente experimental, envolvendo uso das frequências e participação das operadoras de telecomunicações.
Membros do órgão ouvidos pelo Mobile Time afirmam que as empresas não concluíram as propostas de projetos. Sendo assim, em um ano, nada saiu do papel.
Imegm principal: Kevin Cohen, VP global de parcerias de D2D da Viasat, e Felipe Merkel, gerente de novos negócios, durante demonstração em Brasília. (Crédito: Carolina Cruz/Mobile Time)