Para os 12 eurodeputados da sala – além do presidente do parlamento europeu Antonio Tajani –, o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, não disse a que veio. De acordo com alguns deles, o formato parece ter comprometido o bom andamento do encontro, que ocorreu nesta terça-feira, 22. O acordado entre Tajani e os presidentes dos grupos políticos foi de uma estrutura diferente da enfrentada por Zuckerberg no Congresso dos Estados Unidos. No caso europeu, Tajani abriu a seção; em seguida, Zuckerberg falou; os deputados fizeram todas as suas perguntas; e, no fim, o CEO as respondeu.
A seção durou um pouco mais do que os 75 minutos estipulados. Em 1h30, o CEO usou menos de 30 minutos para responder a aproximadamente uma hora de questionamentos e ponderações dos parlamentares. A audiência acabou perdendo sua força e importância já que Zuckerberg reuniu as perguntas dos eurodeputados e as respondeu de maneira generalizada, se esquivando do que era específico. Assim, temas caros à discussão como privacidade, segurança, política, notícias falsas, bullying e tantos outros abordados, receberam respostas padrões do CEO.
“Infelizmente, o formato do questionamento permitiu que o senhor Zuckerberg escolhesse suas respostas e não respondesse a cada ponto”, reclamou Damian Collins, presidente do Comitê de Esportes e Mídia da Cultura Digital do Parlamento do Reino Unido, e um dos insatisfeitos no fim da audiência.
No fim, depois de vários parlamentares reclamarem das respostas vagas, o presidente do Parlamento Europeu sugeriu que Zuckerberg respondesse aos questionamentos por escrito, o que foi acatado pelo CEO. “Percebi que havia muitas perguntas específicas que não consegui responder”, disse o fundador do Facebook.
“Você é de fato um gênio que cria um monstro digital que está destruindo nossas sociedades?”, perguntou o líder liberal Guy Verhofstadt no fim da audiência e depois de se queixar de que não recebera resposta à sua acusação de que o Facebook detinha um monopólio. No fim, o deputado pediu ao Facebook que coopere com as autoridades antitruste da União Europeia.
As desculpas
Em sua fala inicial, Zuckerberg pediu desculpas aos legisladores por seu papel no escândalo Cambridge Analytica, por permitir que notícias falsas proliferassem em sua plataforma e pela ferramenta ser usada para ofender e prejudicar as pessoas.
Afirmou ainda que o caso de Cambridge Analytica não se repetirá. Ele disse que as políticas em vigor desde 2014 impediram que qualquer desenvolvedor de aplicativos usasse indevidamente os dados dos usuários.
O que não foi respondido
Zuckerberg evitou, principalmente, questões específicas em relação a recusas de publicidade direcionada e sobre o compartilhamento de dados entre Facebook e o serviço de mensagens WhatsApp.
Ele também não respondeu diretamente a perguntas sobre perfis falsos ou se dados de usuários que não são do Facebook deveriam ser coletados.
Outra pergunta que ficou sem resposta foi sobre a transferência de 1,5 bilhão de seus usuários internacionais da jurisdição do escritório da empresa na Irlanda para a sede nos Estados Unidos. Houve a especulação de que isso evitava ações judiciais onerosas resultantes de violações do Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia (GDPR, na sigla em inglês), e que entra em vigor na próxima sexta-feira, 25.
A eurodeputada Gabi Zimmer, líder do grupo de esquerda radical perguntou: “Você diz que isso se aplicará em qualquer parte do mundo com base no princípio, mas o que isso significa? Este não será o caso de 1,5 bilhão de pessoas fora da Europa”.
A mesma Zimmer foi enfática quando lembrou as origens da plataforma e a luta contra o sexismo: “Tenho sérias dúvidas sobre se você realmente conseguirá mudar o modelo de negócios do Facebook”. Ela também voltou à origem da empresa, lembrando que se tratava de um site que permitia classificar os alunos de acordo com suas qualidades físicas, enquanto estudavam em Harvard. “Eu realmente gostaria de saber o que o Facebook integrou em sua própria filosofia para lutar contra o sexismo e a violência contra as mulheres”.
A coletiva
Depois da audiência com Zuckerberg, o presidente do Parlamento Europeu conversou com jornalistas. Pressionado sobre o formato da conversa, Tajani lembrou que o CEO não é cidadão europeu e não é obrigado a responder e veio de bom grado a Bruxelas. Explicou que o formato foi estipulado por ele, mas que os presidentes dos grupos partidários o acataram e que, apesar de muitas perguntas não respondidas, Zuckerberg se comprometeu de que os eurodeputados terão suas respostas mais específicas por escrito.