Seguindo o ritmo da evolução da base brasileira, a tecnologia 3G pode desaparecer antes da 2G, na visão do conselheiro da Anatel Leonardo Euler de Morais. Preocupa, no entanto, a infraestrutura que dê suporte às redes 4G que a substituirá, tanto na questão de cobertura quanto na rede de transporte. “Olhando para as curvas de tendência, eu não duvidaria que as redes 3G tivessem seu sunset [desligamento] antes das redes 2G”, disse ele a este noticiário, após debate sobre o switch-off da rede de segunda geração no primeiro dia do Painel Telebrasil, nesta terça-feira, 22.

Ele acredita que em menos de quatro anos poderia haver o desligamento do 3G no País. “Se extraporlar curvas de tendência, talvez cheguemos antes disso”, afirma. O conselheiro cita estudos da GSMA que corroboram a previsão “tanto para países desenvolvidos quanto em desenvolvimento”, mas também a média de desligamentos da tecnologia WCDMA no Brasil.

Para sustentar a queda da terceira geração e o consequente crescimento do LTE, afirma, é importante ter infraestrutura com alta capacidade de tráfego. Segundo o levantamento do Plano Estrutural de Redes de Telecomunicações (Pert), 3.400 municípios (por volta de 62% do total brasileiro) contam com backhaul em fibra, cobrindo 83% da população. “Antes de chegar com acesso, faz mais sentido ter garantido o transporte”, afirma Euler de Morais. O incentivo a isso se daria por meio de termos de ajustamento de conduta (TACs) ou com os custos de migração de concessão para autorizadas, além de mudar o paradigma sancionatório da atuação da Anatel, focando mais em obrigações de destinação de recursos.

Desligamento de 2G

O argumento é que a tecnologia 3G tem uma migração mais natural para LTE junto ao consumidor final e pode acontecer sem a necessidade de incentivos de políticas focadas no switch-off. Já para a 2G, há problemas mais complexos. Além do parque de terminais legados – os feature phones -, há também a base de acessos máquina-a-máquina (M2M). Na estimativa da Anatel, cerca de 80% de toda a base M2M Especial utiliza 2G, o que corresponde a 30 milhões de acessos, além de mais cerca de 15 milhões de acessos M2M de máquinas de ponto de venda (POS).

Uma forma de resolver isso seria as operadoras utilizarem a faixa de 450 MHz para acesso de NB-IoT, como sugere a Qualcomm. Nesse sentido, o conselheiro da Anatel diz que no seu voto já manifestou que é inviável que as teles não explorem a frequência, mas a mantenham. “Faixas de espectro não são capitanias hereditárias”, compara. Ele diz que os argumentos das empresas (de utilizarem outras tecnologias para cumprir as metas de cobertura rural, como o satélite) são contraditórias, uma vez que elas também querem manter a frequência. Ainda assim, não sabe se a ideia seria fazer uma nova licitação a curto prazo com a faixa recuperada. Euler de Morais voltou a falar sobre a possibilidade de leilão de espectro conjunto de 3,5 GHz com a faixa de 2,3 GHz no segundo semestre de 2019, ideia que ele diz estar sendo amadurecida e que vai levar ao conselho.

Indústria

A TIM afirma que já trabalha de forma proativa na questão. Segundo o CTO da operadora, Leonardo Capdeville, o tráfego 2G só representa 0,02% na rede da empresa – 85% já são em 4G, e 15% em 3G. Isso porque a tele investiu cedo no refarming em 1.800 MHz, além de aproveitar a liberação da faixa de 700 MHz. Com isso, consegue mais capacidade para oferecer serviço de voz em 4G. “O que estamos apostando para superar a dificuldade [de voz] é fazer o VoLTE, e cada vez que migra para 4G, o usuário possa usar [a tecnologia] 100% do tempo, sem precisar fazer a baixa para 3G ou 2G”, explica. A companhia já conta com 3.100 cidades com LTE, sendo mil delas em 700 MHz e 1.400 municípios com VoLTE.

A TIM planeja para ainda este ano começar o refarming em 2.100 MHz. “Nosso objetivo é não apenas minimizar, mas já começar a fazer o shutdown da rede 3G”, declara Capdeville. “Se a gente está almejando fazer 5G, é fundamental desligar redes legadas.”

A Oi também trabalha para acelerar o refarming da frequência de 1.800 MHz. A tele entende que apenas isso não resolve todo o problema, mas está atualmente executando o remanejamento com capacidade de 10 + 10 MHz (da capacidade total de 20 MHz + 20 MHz) em “alguns estados e regiões metropolitanas do Nordeste, Norte e Centro-Oeste”, segundo o diretor de tecnologia da Oi, Mauro Fukuda. “A Oi tem mais capacidade do que as outras operadoras (na faixa), então para nós é importante o uso dessa frequência”, declara. Para ajudar na limpeza na base M2M, Fukuda diz que a tele começa a utilizar tecnologias de IoT como LTE-M Cat1.

É uma tecnologia defendida pelo diretor executivo de relações governamentais da Qualcomm, Francisco Soares. “Não falo em ‘full LTE’ talvez, muitos dos dispositivos de IoT não precisam de tanta capacidade. Com LTE Cat-M1 e NB-IoT, são capacidades com dispositivos 2G, mas com economia de bateria enorme”, declara. Ele reforça que, para que aconteça o switch-off da tecnologia 2G, é necessário esforços. Ele entende que fabricantes de celulares poderiam receber incentivos, como desonerações para aparelhos 4G. E que esses dispositivos poderiam ser fornecidos de graça para incentivar ao usuário migrar de tecnologia – no entendimento dele, é uma conta que acaba sendo vantajosa pela melhora da eficiência operacional. Propõe ainda redução do Fistel para tecnologias mais avançadas.

 

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