|Atualização em 26 de agosto, às 12:28, com correção da moeda sobre o investimento recebido pela empresa| A foodtech Mercado Diferente resolveu apostar na inteligência artificial e no WhatsApp (Android, iOS). A solução conversacional, chamada de Tedi, foi disponibilizada neste mês e é uma aposta da empresa para revolucionar a forma como as pessoas compram alimentos, bem como o varejo de supermercados. Entre as suas funcionalidades estão indicação de receitas, informações sobre armazenamento e nutrição, e meios para aproveitar totalmente os produtos, sem desperdícios.

Todas essas funcionalidades são disponibilizadas no aplicativo de mensageria para qualquer pessoa que se interessar, seja assinante do Mercado Diferente (AndroidiOS) ou não. O contato com o Tedi pode ser feito por texto, imagem e até áudio. Quem paga pelo serviço ainda consegue gerenciar e personalizar a própria assinatura, além de ter um atendimento mais direcionado. E dentro dos próximos meses será possível efetuar compras pelo app de mensageria. A tendência é que quanto mais informações forem compartilhadas com a IA, mais assertiva ela fica e o desperdício de alimentos tende a ser menor.

Do problema à solução

A ideia de criar o Mercado Diferente partiu do problema existente na cadeia de produção alimentícia, em que há um considerável nível de desperdício. Isso foi identificado pelo CEO e cofundador da empresa, Eduardo Petrelli, durante o período em que trabalhou em uma grande rede de supermercados. “Ao estudarmos o segmento mais a fundo, percebemos que a ineficiência existia por vários fatores, dentre eles, muitos intermediários na cadeia produtiva e tempo de entrega de até 24h no modelo online”, relembrou Paulo Monçores, cofundador e CTO do Mercado Diferente.

Mundo Diferente

Paulo Monçores e Eduardo Petrelli, cofundadores do Mercado Diferente. Foto: Divulgação.

A oportunidade de mercado foi identificada ao perceberem que as grandes redes não adquiriam parte da colheita apenas por uma questão estética, de tamanho ou formato dos produtos. A partir disso, resolveram trabalhar na formação da startup, que teria um valor mais baixo justamente por aproveitar o que iria para o lixo. Em três rodadas de captação, a empresa conseguiu um investimento equivalente a US$ 9 milhões. Criada em 2022, ela oferece planos de assinatura com entregas semanais e quinzenais de cestas personalizadas. O produto é montado com base nas preferências e restrições do cliente, como o desejo por ter uma cesta com mais frutas. A partir disso, a inteligência artificial seleciona os vegetais.

A maioria dos produtos são de feira, mas também são comercializados carnes e ovos, além de itens vegetarianos e veganos, chamados de produtos complementares. Todos eles podem ser acrescentados à cesta e dentro da periodicidade desejada pelo usuário. Sem contar que a plataforma é capaz de diminuir o desperdício, ao identificar a volumetria de consumo do cliente e alertar quando um produto complementar não for solicitado no tempo padrão. Com o Tedi, a relação fica mais estreita, já que a IA indica o que estará na próxima cesta e quais comidas podem ser feitas com os produtos.

Boa aceitação

Somente em 2023, o Mercado Diferente salvou do descarte cerca de 1,3 mil toneladas de alimentos aptos para consumo. Além disso, foram enviados em torno de 3 milhões de produtos em 2,3 mil entregas. A startup ainda chegou a outras 47 cidades de São Paulo e do Paraná. Monçores fala que a trajetória da foodtech em dois anos de existência tem sido gratificante e desafiadora.

Por um lado, ele cita a questão da acessibilidade a produtos orgânicos, que são mais difíceis de serem encontrados nos mercados e costumam ter um preço mais elevado. “A nossa missão é facilitar o acesso a uma alimentação saudável, enquanto combatemos o desperdício alimentar”, disse o CTO. Outro ponto positivo é a geração de empregos e a distribuição de renda. Segundo Monçores, já foram distribuídos mais de R$ 10 milhões entre pequenos produtores, a maioria, de agricultura familiar.

Em relação aos desafios, cita o pioneirismo em digitalizar o mercado de compras. “O varejo alimentar é um segmento de muitas oportunidades, mas fazer isso de forma online é ainda algo novo no Brasil”, explicou o CTO. Monçores também aponta a dificuldade em definir essa nova tendência, estabelecendo um padrão de comportamento e provando que a produção orgânica pode ser acessível.

Protagonistas do Tedi

A ponte entre o Mercado Diferente e a Meta para o lançamento da IA no WhatsApp foi feita pela Blip. O intuito era garantir a segurança dos dados dos usuários, em conformidade com a LGPD. Em termos operacionais, por trás do Tedi, o core é da OpenAI e a base de receitas é trabalhada com RAG (Retrieval-Augmented Generation). Segundo Monçores, a escolha foi motivada pelo contexto regional. “A maioria dessas soluções ranqueia as receitas mais pedidas do planeta e cria a resposta. No entanto, nem tudo é acessível financeiramente para o brasileiro”, explicou.

Atualmente, o Mercado Diferente está em uma migração para o Amazon Bedrock. Ainda em testes, a empresa já produz imagens das receitas com a IA. “Com a solução da AWS, poderemos integrar todos os modelos de inteligência artificial e usar o que cada um tem de melhor”, afirmou o CTO.

Tedi, um parceiro da cozinha

Desde o início de sua história, o Mercado Diferente trabalha com inteligência artificial. O desenvolvimento do Tedi é um contato de pós-venda e pode ser uma ponte para atrair novos clientes. A criação da IA para o WhatsApp se deu por uma junção de fatores. A começar pelas inúmeras dúvidas que os clientes começaram a ter. “Muitos deles passaram a receber produtos que simplesmente não conheciam ou não sabiam o que fazer com eles. Era comum me perguntarem ‘o que faço com cará?’ ‘e catalônia?’”, lembrou Monçores.

A situação fez CTO e CEO pensarem em sanar essas questões no próprio aplicativo, por outro lado, diante da competição com outros apps, viram que o WhatsApp podia ser o melhor lugar. “Os usuários estão lá e acostumados com a sua interface, sem contar que é uma ferramenta repleta de funcionalidades. Pensamos, por que não?”, contou Monçores. Para ele, o aplicativo de mensageria atende a todos os públicos, não só pela sua popularidade, mas por viabilizar o contato por foto, áudio e texto. Por isso, o Tedi entende todos eles.

Um exemplo do seu funcionamento, acontece ao receber uma foto com diferentes produtos. A partir disso, ele os identifica e atende ao que o usuário solicitar, como criar uma receita ou desenvolver um plano alimentar para a semana. “Queremos nos tornar um estilo de vida, em que o usuário compra a nossa cesta, a recebe e conta com o auxílio do Tedi”, explica Monçores. A IA é capaz de montar menus com base em ocasiões e gostos do usuário. Além disso, consegue identificar por imagem se o produto é apto para consumo.

Em apenas 20 dias de funcionamento, a inteligência artificial registrou 24 mil usuários, 200 mil conversas e mais de 55 mil receitas culinárias. Ao menos 66% dos usuários que procuraram o Tedi retomaram o contato.

Próximos passos

Dentro de um mês, a startup lançará um novo recurso pelo Tedi, que será capaz de informar se o valor de um produto está em conta ou não. Segundo o CTO, caso o Mercado Diferente tenha o item e o ofereça por um preço menor, a IA recomendará a compra na empresa. Caso contrário, não será problema confirmar que é um bom preço. “Quero que o Tedi esteja focado no indivíduo e não na empresa. Sem contar que este recurso pode viabilizar, no futuro, uma conexão com catálogos de outros mercados”, ressaltou Monçores.

A foodtech deseja engajar seus clientes cada vez mais dentro do Tedi, para poder oferecer jornadas mais personalizadas. A alta procura por receitas também é um ponto de atenção. Por isso, o Mercado Diferente terá novas curadorias. “A ideia é atrair chefs renomados para que as pessoas possam ter acesso a uma culinária mais refinada”, observou o CTO.

O desejo da empresa é se tornar o primeiro mercado do país e da América Latina em que o cliente tem toda a jornada pelo WhatsApp. Nos próximos meses, os usuários já poderão fazer compras pelo aplicativo de mensageria. Mesmo os não assinantes terão a chance de testar e fazer a primeira aquisição por lá. “Queremos que a pessoa consiga comprar o que precisa em apenas três minutos dentro do WhatsApp”, disse Monçores. No entanto, o CTO pondera que o principal desafio é em relação às especificações. Alguns itens possuem diferentes nomenclaturas, como carnes e vegetais, e nem todos os clientes definem isso.