As redes celulares são uma rica fonte de informação para analisar o fluxo de pessoas pelas cidades, ou mesmo pelas rodovias que cortam o país. Com os dados de uma única grande operadora, é possível saber quantas pessoas passaram por um determinado local em um certo período. Cruzando com informações cadastrais e do IBGE, é possível fazer recortes por sexo, idade e classe social – tudo de maneira anonimizada. Alguns projetos pontuais foram feitos no Brasil nos últimos anos, mas o volume se intensificou bastante a partir de 2023 especificamente com a Claro, depois que a operadora lançou uma plataforma dedicada a essa finalidade, a Claro Geodata. De lá para cá, a Claro tem vendido entre 20 e 30 projetos de uso da plataforma para setores como turismo, transportes, mídia out of home (ooh) e varejo, e o número de contratos vem dobrando a cada ano.

Turismo é o principal cliente da Claro Geodata

Hoje, o setor de turismo é o principal cliente da Claro Geodata. As cidades de Rio de Janeiro, São Paulo (através da São Paulo Turismo), Gramado/RS e Mata de São João/BA são clientes regulares da plataforma.

A secretaria de turismo do Rio de Janeiro, por exemplo, utiliza dados da Claro Geodata para produzir trimestralmente um relatório intitulado “Observatório do Turismo”. Com base nos dados fornecidos pela plataforma, a secretaria carioca consegue estimar a quantidade de turistas nacionais e internacionais que visitam a cidade; de quais estados ou países eles vêm; quanto tempo passam no Rio; proporção por gênero e faixa etária; e quais foram os pontos turísticos mais visitados – com estimativa de números absolutos de visitantes.

Se o mesmo relatório fosse feito com base em uma pesquisa de campo, custaria mais caro e não teria o mesmo grau de precisão, compara o head de vendas de data analytics da Embratel, João Del Nero.

A Claro analisa todo mês aonde cada celular costuma passar as noites, para identificar aonde o dono da linha reside. Assim, é possível distinguir os moradores dos turistas de uma cidade. Também dá para identificar quem trabalha ou estuda em uma cidade mas mora em outra, levando em conta a regularidade desse deslocamento. Essas pessoas são descartadas de uma análise com foco em turistas.

“Levamos a análise turismo para o próximo nível”, comenta o executivo, em conversa com Mobile Time.

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Exemplo de tela da plataforma Claro Geodata

Rodovias, aeroportos, mídia out of home e varejo

Depois do turismo, o setor que mais tem utilizado os dados da Claro é o de rodovias pedagiadas. Concessionárias ou empresas interessadas em participar de licitações de concessão contratam a plataforma por um curto período (uma semana, por exemplo) para medir quantas pessoas passam pela estrada, segmentando por cada uma das suas entradas e saídas, e quanto tempo duram as viagens. Uma análise para o túnel Santos-Guarujá foi feito com a plataforma, por exemplo.

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João Del Nero, head de vendas e data analytics da Embratel

Os dados também podem auxiliar na concessão de aeroportos, medindo o fluxo diário de visitantes, não apenas de passageiros ou funcionários.

Empresas que administram inventários de mídia out of home, como outdoors, também têm procurado a Claro para conhecer melhor a sua audiência. “Em São Paulo, a gente consegue acompanhar o fluxo de quem passa na Marginal, e até separar quem está do lado direito ou esquerdo. Dá também para dividir a avenida Paulista em microrregiões”, diz Del Nero.

O varejo começa a usar também a solução para análise do fluxo dentro e no entorno de lojas. Neste caso, pode ser verificado quantas pessoas ficaram um tempo mínimo no local (digamos, 30 minutos), para diferenciar clientes de quem apenas passou por perto.

Extrapolação dos dados

A Claro detém 33,7% de market share de linhas celulares em serviço no Brasil. Sua base de clientes é bem distribuída por gênero, faixa etária, renda familiar mensal e região do país. Porém, o processo de extrapolação dos dados coletados na Claro Geodata vai além de simplesmente um cálculo a partir do market share nacional da operadora.

“Nosso método de extrapolação é muito avançado. Vejo aonde a pessoa mora, busco seu setor censitário e aí verifico quantas pessoas têm telefone da Claro ali e qual é a população que o IBGE mediu. Dessa forma, para cada celular da Claro que passa, por exemplo, pela Praia de Copacabana, usamos um fator de extrapolação diferente. Com isso, atingimos um grau de confiança de 95%”, descreve Del Nero.

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Tela da plataforma Claro Geodata informando tempo de permanência

Modelo de negócios da Claro Geodata

Os clientes têm acesso à plataforma pela web. Nela, conseguem ver os dados sobre a região e o período contratados. Os dados são atualizados diariamente, mas sempre com 20 dias de atraso. Ou seja, as informações sobre o fluxo de pessoas em um determinado local hoje só ficam disponíveis daqui a 20 dias. A Claro está trabalhando para diminuir gradativamente esse tempo: a meta é atingir um delay de apenas um dia, diz o executivo.

O custo para cada projeto varia de acordo com uma série de fatores, como a área e o período analisados. É possível consultar o histórico de acesso à rede da Claro desde janeiro de 2023, quando a plataforma foi oficialmente lançada.

A Claro Geodata foi desenvolvida em parceria com uma startup suíça chamada Kido Dynamics. Depois do Brasil, o produto foi lançado por outras operadoras do grupo América Móvil na América Latina.

Um dos próximos passos de aprimoramento da solução será a inclusão de inteligência artificial generativa, para facilitar a busca por informações dentro da plataforma. A previsão é de que essa funcionalidade seja lançada em 2025, informa Del Nero.

Ilustração no alto: Nik Neves para Mobile Time

 

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