Cerca de 3 bilhões de pessoas ainda não estão conectadas à Internet ao redor do mundo. Não há dúvida de que o celular é o caminho para a inclusão digital desse grupo e inúmeras iniciativas estão acontecendo nesse sentido. O que falta, contudo, é uma maior cooperação entre empresas e governos para essa finalidade, concordam especialistas reunidos em um painel sobre o tema no Mobile World Congress (MWC), em Barcelona, nesta terça-feira, 23.

"Uma empresa sozinha não vai conectar os próximos 3 bilhões de pessoas. É um problema que precisa ser resolvido por todo o ecossistema, em uma colaboração entre empresas e governos", analisa Ragu Salgame, CEO de provimento de serviços da Tata, uma gigante de TI na Índia.

Outra certeza é de que não basta prover conectividade, mas é preciso levar conteúdo relevante para as comunidades hoje excluídas do mundo digital. E a definição dos serviços que fazem mais sentido para cada grupo não acontecerá dentro de escritórios ou auditórios de seminários na Europa, mas sim conversando com as pessoas diretamente interessadas, olho no olho, para aprender o que elas precisam, sugere Mark Kaplan, CEO da Tone. "Não existe um algoritmo que atenda àqueles que nunca estiveram on-line", disse o executivo, cuja empresa trabalhou em um projeto de desenvolvimento de soluções móveis para pescadores na Indonésia. "É preciso visitar as comunidades e conhecer as pessoas. Há uma troca entre seres humanos. Não daria para levar uma solução para esses pescadores simplesmente a partir de uma reunião em nosso escritório em Nova Iorque", comparou Kaplan.

Foi o que fez a operadora Telenor, no Paquistão: após conversar com fazendeiros no interior do País, desenvolveu um marketplace móvel para conectá-los a 220 mil compradores nas áreas urbanas, relatou seu CEO, Irfan Khan.

Devices e gap tecnológico

Embora o preço dos smartphones esteja caindo ano após ano, para incluir as pessoas que faltam é preciso que sejam ainda mais baratos. Enquanto isso não acontece, os especialistas sugerem que se invista mais no mercado de reparo e venda de terminais usados. Para se ter uma ideia, somente nos EUA e na Europa, 400 milhões de celulares são descartados por ano.

E há ainda o problema do gap tecnológico: muita gente está conectada à rede celular ainda em 2G, cuja experiência de uso está muito distante daquele do 4G. Para sensibilizar seus engenheiros, o Facebook instituiu a "terça-feira 2G": toda terça, eles devem se conectar somente via 2G, para sentirem na pele como é a experiência desses usuários em mercados emergentes. "A maioria do mundo ainda está no 2G, uma tecnologia de 20 anos atrás, e uma minoria tem 4G. Isso é uma demonstração da desigualdade tecnológica existente", disse Yael Maguire, chefe do laboratório de conectividade do Facebook.

 

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