No próximo biênio, 2025-2026, o Gartner estima que haverá o pico de investimento na computação em nuvem (cloud) no Brasil. De acordo com Henrique Cecci, diretor sênior de pesquisa do Gartner, há um movimento com 30 datacenters sendo construídos localmente que trarão mais poder computacional, de troca de dados e armazenamento no País.

O investimento em cloud do Brasil acompanha uma tendência de crescimento mundial, uma vez que a empresa de análise de mercado prevê que o mercado global de nuvem deve saltar de US$ 600 bilhões no final de 2024 para US$ 1,3 trilhão em 2029.

Porém, os Estados Unidos respondem atualmente por mais da metade (52%) dos investimentos em data centers. Neste cenário, Cecci explicou que a América Latina ainda está no começo da jornada em cloud.

“Cloud é muito mais que apenas infraestrutura. Ela também é um modelo tecnológico. Elas são plataformas de serviços com uma abrangência mais profunda e transformadora de negócios que uma simples opção de infraestrutura”, disse o executivo, que deu como exemplo a combinação de IA e cloud.

Desafios da nuvem no Brasil

Especificamente para o Brasil, o diretor do Gartner explicou que há desafios para crescer neste mercado, como a adequação das infraestruturas (como a matriz energética) para suportar o aumento exponencial da demanda local para o mercado de nuvem; em especial com o crescimento da energia puxada pela demanda da inteligência artificial.

Trazer mais equipamentos de alta performance computacional (high performance computers, ou HPCs em inglês) que são usados para montar os data centers e prover as aplicações de inteligência artificial, por exemplo. Segundo Cecci, o Brasil está “atrasado” na disputa global para comprar esses equipamentos.

“Grande parte dos HPCs está no Estados Unidos e na Europa. O Brasil, assim como toda a América Latina está no começo da jornada. Por exemplo, o crescimento de servidores para datacenters é de 41,2% no mundo. No Brasil é 6%”, disse.

“Ou seja, nós ainda estamos longe do crescimento que ocorre nas grandes economias. Isso acontece porque as empresas precisam justificar o investimento. Essas infraestruturas (de HPCs) custam milhões de dólares. Então é preciso ter casos de uso que correspondam aos investimentos”, completou.

Tendências globais em nuvem

Além da demanda por IA, o diretor explicou que outras tendências podem puxar o crescimento do mercado de nuvem global e por consequência na América Latina, como:

  • O avanço das nuvens híbridas/multicloud;
  • Modernização e padronização de aplicativos para a nuvem de forma nativa, uma vez que 83% das aplicações em nuvem precisam ser atualizadas, apenas 17% se tornaram cloud-native, puxadas pela digitalização durante a Covid-19;
  • Até 2029, 80% das empresas considerarão aspectos de soberania digital ao usar a nuvem, ante atuais 10%;
  • O avanço de soluções direcionadas para setores específicos (industry cloud platforms ou ICP, no original em inglês), como finanças, saúde e agricultura, que se juntam em plataformas de serviços para facilitar o acesso à diferentes tipos de serviços computacionais comuns, como o open finance.

Imagem principal: Henrique Cecci, diretor sênior de pesquisa do Gartner e Oscar Isaka (em pé), analista diretor sênior de pesquisa do Gartner (divulgação)