| Publicada originalmente no Teletime | As redes de acesso abertas (OpenRAN) podem representar uma janela de oportunidade para agilizar a implementação do 5G no Brasil. Isso porque seria possível construir um cenário com mais fornecedores agindo em sinergia, o que pode significar um mercado mais competitivo e uma redução de custos nos equipamentos necessários para a tecnologia, que virtualiza a camada de acesso.
Essa percepção foi apontada pelos painelistas do Facebook Connectivity, evento online promovido pela big tech e organizado pelo Teletime e que tratou de projetos de conectividade e ampliação do uso da banda larga que encerrou nesta quinta-feira, 22.
Para Gabriel Fiuza de Bragança, Subsecretário, Regulação e Mercados, Ministério da Economia, o governo quer criar um ambiente no qual exista uma ampliação da infraestrutura de telecomunicações de qualidade em um ambiente de competição. “Acho que a liberdade é o aspecto principal da discussão das redes abertas. E também devemos incluir nesse processo o debate sobre desburocratização”, disse Bragança.
Já para o Superintendente, Planejamento e Regulamentação da Anatel, Nilo Pasquali, modelos inteligentes de compartilhamento fazem sentido. “Isso traz ganhos, já que permite um leque maior de escolha de fornecedores. Você tem capacidade de opção. As redes abertas com certeza trariam uma possibilidade de grandes agentes se inserirem no mercado de infraestrutura, ampliando estes fornecedores”, disse.
Custos
O diretor de Inovação e Tecnologia da TIM Brasil, Silmar Palmeira, acredita que com redes OpenRAN, o Brasil tem muito mais chances de levar o 5G a lugares mais longínquos mais rápido. “O trabalho que temos que fazer com os players do mercado é estimular o OpenRAN”, defendeu. Para ele, a combinação de OpenRAN com a chegada do 5G é uma oportunidade que o Brasil precisa aproveitar. “Podemos começar com o 5G em um cenário (de diversidade) de fornecedores inimaginável há dois anos com o OpenRAN”, diz ele.
O presidente da Telcomp, João Moura, acredita que as redes abertas podem representar uma redução de custos para a implementação de uma série de serviços e de infraestrutura de telecomunicações. “A questão do custo é fundamental. Quando a gente lê hoje no noticiário que um grande grupo anunciou redução de capex de 30% e trouxeram para a mesa novos fornecedores, já baixou a barra para os competidores”, disse Moura.
Outra questão apontada por Moura, dialogando com o representante do Ministério da Economia, é que é preciso desburocratizar e reduzir barreiras para a entrada de novos fornecedores.
Sobre este ponto, Nilo Pasquali ressaltou que a Anatel tem se dedicado a criar regras para minimizar ou reduzir barreiras em áreas estratégicas. Ele citou o caso das regras sobre IoT. “O debate sobre IoT dentro da Anatel tem apontado para a busca de formas de minimizar ou reduzir barreiras. Daí veio o debate sobre a tributação de IoT, por exemplo. O regulador não quer ser um dos gargalos da inovação no setor”, disse Pasquali.
O representante do CPqD, Alberto Paradise, acredita que o modelo de OpenRAN permite a junção de vários fornecedores para dar uma resposta acertada para os clientes. “A parceria é uma peça chave para o sucesso do OpenRAN”.
OpenRAN e 5G
Uma das justificativas para o OpenRAN é que a tecnologia promete flexibilidade e possibilidade de implantação mais rápida do 5G. “O 5G é uma tecnologia disruptiva. Vai criar uma transformação digital e ampliar o ecossistema como um todo. Vai afetar todos os serviços“, disse Francisco Giacomini Soares, VP LATAM de Assuntos Governamentais da Qualcomm.
Soares também acredita que as redes abertas abrirão o leque de fornecedores. “Isso vai criar condições para que você possa exportar. Mas precisamos que o governo contribua com fundos. Mesmo com o OpenRAN, precisamos alocar recursos, além das parcerias e oportunidades que aparecerem”, disse.
A conselheira da Abrint, Cristiane Sanches, enxerga na rede aberta um endereçamento para a quebra de amarras dos custos que hoje afeta investimentos especialmente dos pequenos provedores. E apontou que qualquer debate sobre redes abertas envolve não somente aspectos de OpenRAN, mas também aspectos regulatórios.
Vale destacar que a tecnologia OpenRAN é uma das alternativas apresentadas pelo governo dos Estados Unidos a fornecedores tradicionais no 5G, sobretudo a Huawei. O governo brasileiro, além de ter alinhamento com a administração Donald Trump, recentemente assinou com os EUA acordo de linha de financiamento para telecom que envolve investimentos em telecom.