Delivery Center

O encerramento das operações do Delivery Center com entregas de última milha para shopping centers deve abrir espaço para outros operadores logísticos e levanta dúvidas sobre o modelo verticalizado, dizem especialistas do setor ouvidos por Mobile Time. Por outro lado, não há temor de que a notícia afugente investidores.

“Com certeza o impacto será grande no setor, pois são 60 centrais a menos para os mais de 3 mil lojistas integrados. Mas acredito que, se morre uma tecnologia, ou um meio que vem dela, nasce outra. Sistemas de entrega têm aos montes no Brasil, é necessário apenas focar melhor em como fazer, reduzir os custos para que haja um ganho efetivo e não se perca tanto dinheiro como no caso”, diz Daniel Schnaider, CEO da Pointer by Powerfleet Brasil.

Renato Ramalho, CEO da KPTL, afirma que o mercado de delivery continuará normalmente sem o Delivery Center, pois há outras soluções que fazem o last mile e estão apoiadas por grandes investidores. Para ele, os lojistas que utilizavam apenas a Delivery Center deverão migrar, com o tempo, suas operações para outros operadores. Neste cenário, o executivo acredita que o mercado ficará concentrado “nos apps, marketplaces e empresas de logística dedicadas à última milha”.

Felipe Matos, presidente da Abstartups, acredita que aplicativos como Rappi, 99 e Uber/Cornershop tendem a se beneficiar com a saída do operador de logística. Também acredita que haverá espaço para que as lojas tenham suas operações próprias de delivery, seja “atuando diretamente” ou através de startups que ofereçam “white label” de entrega, ou seja, não aparecem para o consumidor.

“O fechamento do Delivery Center tem absolutamente zero impacto no futuro do mercado de delivery no Brasil. Isso porque foi muito mais uma decisão de negócio que infelizmente não deu certo. Foi uma tentativa das operadoras de shoppings de verticalizar e ter a própria operação logística, e provavelmente constataram que essa operação não tinha futuro em termos de resultados”, explica Guilherme Stuart, sócio da RGS Partners. “Os prejudicados, infelizmente, são as pessoas que trabalham no Delivery Center, pois a empresa vai descontinuar. Quem provavelmente será beneficiado serão os lojistas dos shoppings, porque se havia qualquer tipo de exclusividade no uso do Delivery Center, essa exclusividade deixa de existir”, completa.

O executivo da boutique de M&A focada no middle market acredita que não haverá impacto para o cliente final dos shoppings, uma vez que o Delivery Center não estava conseguindo competir de “igual para igual” com as outras empresas. Porém, ele acredita que pode existir danos ao consumidor, pois terá menos opções e mais concentração de mercado nos grandes players com mais capacidade: “Mas isso é algo que, na minha visão, é natural, porque provavelmente o modelo de negócio bem-sucedido em delivery não será o modelo verticalizado com os shoppings centers”, acredita.

Setor

Stuart explica que será difícil para alguém tentar replicar o modelo da Delivery Center, ou seja, verticalizar as operações tendo como sócias as operadoras de shopping. O player que tentar esse copycat terá problemas para levantar capital, pois haverá como contrapartida uma prova que esse modelo não funciona.

“Mas isso não significa que modelos que não funcionaram no passado não vão funcionar no futuro. O mercado é superdinâmico e essas tentativas de verticalização e horizontalização dos modelos de negócio têm acontecido com uma frequência cada vez maior por conta da tecnologia”, explicou. “Essa foi uma tentativa que, infelizmente, não foi bem-sucedida de verticalização, mas, em compensação, quando a gente olha a tentativa de verticalização bem-sucedida do Mercado Livre, por exemplo, é algo impressionante. Depende muito do tamanho do mercado e de quanto a sua operação logística pode representar dele”, conclui.

Schnaider entende que um case que não foi bem-sucedido deixa os investidores com receio de fazer aportes no setor. Ainda assim, o executivo prevê que, com o crescimento das entregas e o aumento de pessoas comprando no conforto de suas casas, “não há dúvidas que ainda vai esquentar esse mercado” e que novas startups surgirão com tecnologias melhores e mais assertivas.

Para Matos, o setor de logística segue forte e crescendo, inclusive com a presença de diversos unicórnios atuando no País, como Loggi, iFood, 99, Rappi e FTA/Truckpad. Cita também a recém-chegada da mexicana Justo. Em sua visão, o “futuro caminha para cada vez maior conveniência ao consumidor” e entregas cada vez mais rápidas, em especial nos grandes centros urbanos, onde é possível ver operações de varejo com entrega no mesmo dia, em alguns casos, em poucos minutos.

Fim de linha

A notícia do fim da operação foi noticiada na última segunda-feira, 22, com a retirada dos investimentos dos gestores dos principais shoppings. Os investidores brMalls e Multiplan, além do operador de logística, foram procurados por Mobile Time. Até o final desta reportagem, apenas a brMalls respondeu.

A companhia informou que “a estratégia de transformação digital de seu negócio é baseada na omnicanalidade, relacionamento com os consumidores e monetização através de mídia digital”. E ressaltou que as “operações nos canais digitais brMalls, que são e-Shopping (marketplaces locais) e Compre pelo WhatsApp, continuarão a operar mesmo com a decisão de descontinuar as atividades do Delivery Center”.

Em nota enviada à CVM na última segunda-feira, a Multiplan deu parecer similar à parceira no investimento, ao dizer que a decisão de descontinuar o Delivery Center “não compromete a estratégia de inovação digital da Multiplan” que se baseia em ciência de dados aplicada à jornada do consumidor, oferecendo benefícios para seus lojistas e clientes ao integrar os mundos físico e digital através do seu aplicativo Multi.

Na última parceria firmada em julho deste ano com a Gazit, o Delivery Center estava com presença em 14 estados com 60 hubs e em 32 cidades no Brasil. A estimativa da empresa era chegar ao total de 50 cidades até o final de 2021.

 

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